Arquivo

Abgar Renault – Versos na tarde – 18/02/2017

Boa noite. Encantamento Abgar Renault¹ Ante o deslumbramento do teu vulto sou ferido de atônita surpresa e vejo que uma auréola de beleza dissolve em lua a treva em que me oculto. Estás em cada reza do meu culto, sonhas na minha lânguida tristeza, e, disperso por toda a natureza, paira o deslumbramento do teu vulto. É tua vida a minha própria vida, e trago em mim tua alma adormecida… Mas, num mistério surdo que me assombra, Tu és, às minhas mãos, fluida, fugace, como um sonho que nunca se sonhasse ou como a sombra vã de uma outra sombra… ¹Abgar de Castro Araújo Renault * Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 + Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995

Leia mais »

Abgar Renault – Versos na tarde – 10/12/2014

Balada quase metafísica Abgar Renault¹ Eu estou assim absolutamente irremediável por dentro e por fora, acordado ou dormindo na Duração, no Tempo e no Espaço. Eu sou assim: sem cômodo comigo, sem pouso, sem arranjo aqui dentro. Quero sair, fugir para muito longe de mim. Todas as portas e janelas estão irrevogavelmente trancadas na Duração, no Tempo e no Espaço. Que é que eu vou fazer? Não fica bem, assim sem mais nem menos, falecer. Queria rezar, mas eu sou isto, meu Deus!, e de minha reza, se reza fosse, não ouvirias uma só palavra. Tem pena, uma pena bem doída de mim, meu Deus, e ouve para sempre esta oração, e ampara isto que sou eu na Duração, no Tempo e no Espaço. ¹ Abgar de Castro Araújo Renault * Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

Leia mais »

Abgar Renault – Versos na tarde

Como quem pede uma esmola Abgar Renault ¹ Preciso de uma palavra. Em que dia ou em que noite estará essa, que almejo, ideal palavra insabida, a única, a exclusiva, a só? Dela me sinto exilado todas as horas por junto, com minha face, meu punho, meu sangue, meu lírio de água. Soletro-me em tantas letras, e encontrá-la deve ser encontrar a criança e o berço, a unidade, a exatidão, o prado aberto na rua, a rua galgando a estrela. Preciso de uma palavra, uma só palavra rogo, como quem pede uma esmola. Em florestas de palavras os calados pés caminham, as caladas mãos perquirem, os olhos indagam firmes. Em que parábola cruel, em que ciência, em que planeta, em que fronte tão hermética, em que silêncio fechada estará viajando agora – mariposa de ouro azul – a palavra que desejo? Lâmina sexo cristal fulcro pântano convés voraginoso fluvial Antígona circunflexa catastrófico crepúsculo ênula ventre rosal sibila farol maré desesperadoramente nenhuma será nem é aquela do meu anseio. Como será, quando vier, a palavra entrepensada, necessária e suficiente para a minha construção de lápis, papel e vento? Dura, espessa, veludosa ou fina, límpida, nítida? Asa tênue de libélula ou maciça e carregada de algum plúmbeo conteúdo? Distante, insone e cativo, debaixo da chuva abstrata, eu me planto decisivo no tráfego confluente, aéreo, terrestre, marítimo, e espero que desembarque, triste e casta como um peixe ou ardendo em carne e verbo, e pouse na minha mão a áurea moeda dissilábica, a noiva desconhecida, a coroa imperecível: a palavra que não tenho. ¹ Abgar de Castro Araújo Renault * Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Abgar Renault – Versos na tarde

A ela outra vez Abgar Renault ¹ Como é duro esperar-te, sem querer-te, na solidão de seitas e esperanças! Pensar em ti assola a minha vida, destrói raízes, folhas, flores, frutos e fecha os mais próximos horizontes, lembrando a cada passo e a cada gesto a gruta de ursos e de surdos-mudos. Eu temo os teus anúncios sem palavras, teus passos de silêncio, sombra ou treva, teu relógio tranquilo e a foice mágica por ele comandada noite e dia; temo, nulo, o desfecho do teu golpe que dilacerará meu mapa triste, no qual não vejo como caminhar, mas procuro, com os olhos e com as unhas, um buraco de nada que me oculte do poderio do teu faro e mão. Como, quando e em que rápido motor viajará e certeira me acharás não sei: somente sei que o teu olhar me ferirá de súbito e infalível e não tenho nem forças, nem enganos para esperar-te aqui, aquém, além, entre estes livros ou naquela cama, assentado ou de pé, fazendo a barba ou bêbado e escondido como um rato. ¹ Abgar de Castro Araújo Renault * Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »