Abgar Renault – Versos na tarde

A ela outra vez
Abgar Renault ¹

Como é duro esperar-te, sem querer-te,
na solidão de seitas e esperanças!
Pensar em ti assola a minha vida,
destrói raízes, folhas, flores, frutos
e fecha os mais próximos horizontes,
lembrando a cada passo e a cada gesto
a gruta de ursos e de surdos-mudos.

Eu temo os teus anúncios sem palavras,
teus passos de silêncio, sombra ou treva,
teu relógio tranquilo e a foice mágica
por ele comandada noite e dia;
temo, nulo, o desfecho do teu golpe
que dilacerará meu mapa triste,
no qual não vejo como caminhar,
mas procuro, com os olhos e com as unhas,
um buraco de nada que me oculte
do poderio do teu faro e mão.

Como, quando e em que rápido motor
viajará e certeira me acharás
não sei: somente sei que o teu olhar
me ferirá de súbito e infalível
e não tenho nem forças, nem enganos
para esperar-te aqui, aquém, além,
entre estes livros ou naquela cama,
assentado ou de pé, fazendo a barba
ou bêbado e escondido como um rato.

¹ Abgar de Castro Araújo Renault
* Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995 d.C


[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Share the Post:

Artigos relacionados