Sob Alckmin, SP libera verba para obra sem utilidade

Brasil: da série “O tamanho do buraco!”

Só não entendo por que o jornal não apurou/divulgou qual a empresa responsável pela construção da inutilidade. No texto abaixo, fica claro que não só não há definição quanto ao nome – múltiplo uso – como não há utilidade e função para tal “galpão”.

Fico com o desconfiômetro ligado, uma vez que o autor da emenda é um deputado que também é pastor.
Um galpão desses serve com uma luva para uma possível posterior instalação de mais um templo arrecadador do dinheiro dos incautos fieis.
Aguardo a possível declaração do governador Alckmin dizendo que “não sabia de nada”. Igual ao que acontecia com barbudo de Garanhuns.

O Editor


Em São Paulo, o caminho mais longo entre o governo e o ato de governar pode ser uma emenda de deputado estadual.

Assentada no noroeste paulista, Lourdes, uma cidade rural de 2 mil habitantes, oferece um exemplo dos tortuosos caminhos a que estão sujeitas as verbas públicas.

Ergue-se em Lourdes um galpão que custou ao contribuinte de São Paulo R$ 150 mil. Dinheiro liberado pelo governo tucano de Geraldo Alckmin.

A obra inútil - Foto: Rodrigo Vizeu/Folha

Deve-se ao deputado estadual Dilmo dos Santos (PV) a emenda que propiciou a migração dos recusos das arcas estaduais para a caixa da prefeitura.

Justificou a destinação assim: “A construção desse centro de múltiplo uso em muito ajudará a cidade, pois proporcionará melhor qualidade de vida.”

Em visita ao local da obra, o repórter Rodrigo Vizeu constatou um fenômeno inusitado. Ninguém sabe dizer qual será a serventia do galpão “de múltiplo uso.”

O repórter foi de autoridade em autoridade. Relata, na Folha, o resultado do périplo. “Pode ser várias coisas”, disse o prefeito Franklin Querino da Silva Neto (DEM).

[ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Como assim? Talvez sirva para “geração de renda”. Heimm? “Se eu conseguir uma fábrica, alguma coisinha pequena aqui dentro da comunidade, vou priorizar.”

Presidente da Câmara Municipal de Lourdes e aliado do prefeito, o vereador João Ranucci (DEM) declarou que a obra “não tem definição.”

Hã? “Pode ser qualquer fim, uma fabriquinha que gere emprego para 10, 15 pessoas.”

A servidora Carla Ferreira, responsável pelas licitações da prefeitura, divaga: “A gente já tem um barracão que serve de academia, não sei se esse também vai ser para isso”.

Edevaldo Contel, engenheiro da prefeitura, reveste o inusitado com uma ossatura vocacional:

“Tem que ver a aptidão das pessoas. Você não pode forçar uma atividade. Tem que ver qual vai ser o despertar de cada um.”

No gabinete do deputado Dilmo, o autor da emenda, a assessoria assume o papel de Pilatos. Informa que o parlamentar atendeu a um ofício do prefeito.

“O papel dele é indicar”, sustenta a assessoria do deputado. Quanto aos “detalhes, o emprego [da obra], fogem à alçada dele.”

Mencionava-se no ofício, segundo Declara que o parlamentar como Instado , afirmou.

A assessoria do deputado disse que ele apenas atendeu a um ofício do prefeito, que pediu um centro para “geração de empregos”.

Procurado na noite passada, o governo de São Paulo alegou que, diante do avançado da hora, seria “impossível levantar dados sobre o convênio específico.”

As paredes da obra inútil de Lourdes, ainda nos alicerces, vão subir contra um pano de fundo envenenado.

Membro do condomínio partidário que dá suporte ao governo Alckmin, o deputado Roque Barbiere (PTB) denunciou a existência de um comércio de emendas.

Comparou a Assembléia Legislativa de São Paulo a um camelódromo e os colegas a camelôs.

“Cada um vende de um jeito. Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço”, disse Roque.

Ele se nega a citar os nomes dos malfeitores. “Nem com um revolver na cabeça.” Mas oferece um fio de meada a quem quiser investigar.

Afirma que não faz nexo um deputado destinar verbas a municípios nos quais não tenha obtido votos.

“O deputado não pode destinar emenda para lugar que nem sabe onde fica. Tem algo de estranho nisso.”

O colega Dilmo dos Santos, informam os mapas de votação disponíveis no TSE, não amealhou na cidade de Lourdes um mísero voto.

Pastor evangélico e membro do Conselho de Ética da Assembléia, Dilmo toma distância do modelo fixado pelo colega Roque: “Tenho compromisso com o Estado todo”, diz.

Nesta quarta (5), Alckmin disse que o denunciante Roque “tem o dever, como homem público, de, tendo conhecimento de um fato errado, denunciar” os envolvidos.

O governador tem razão. Ao sonegar os nomes, Roque converte-se de denunciante em cúmplice. Porém…

Porém, o inacreditável de Lourdes demonstra que o governo estadual também tem explicações a dar e apurações a realizar.

Além dos R$ 150 mil que carreou para Lourdes, o pastor Dilmo é autor de emenda que destinou cifra idêntica a outro galpão, em Nova Castilho, onde também não teve votos.

Seria outra construção “de múltiplo uso?” Sabe-se lá! Deus sabe! “O papel dele é indicar”. Os “detalhes, o emprego [da obra], fogem à alçada dele.”

Na atmosfera conspurcada do maior e mais rico Estado do país só há duas certezas:

1) Os impostos servem para tirar dinheiro de bolsos indefesos; 2) O pranto serve para o contribuinre chorar.

blog Josias de Souza

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