Orestes Quércia, a morte e a morte da memória

Millor Fernandes tem razão. Na morte é a única oportunidade em que todos falam bem de nós. Ou algo assim.

Vejam o caso do notório Orestes Quércia, recém falecido.

Tanto no velório, como agora na missa de 7º Dia, o mínimo que amigos (?) desafetos e opositores contumazes propuseram nas loas desfiadas ao “decujus’, foi a canonização.

Fico imaginando o necrológio de Zé Dirceu, Delúbio Soares, Marcos Valério, “et caterva”!

O Editor


Sobre a missa de Quércia e ‘canonização dos mortos’

O brasileiro nasce e cresce sob a pele de homem. Mas fenece como santo.

Entre nós, a morte é de uma eficácia promocional hedionda.[ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]

A morte lava biografias. Os cemitérios do país são hortas de virtudes.

O morto com defeitos é uma utopia. Tome-se o exemplo de Orestes Quércia.

Celebrou-se em São Paulo uma missa em memória do ex-governador paulista.

Deu-se nesta quarta (5), na Catedral da Sé. A lista de políticos que foram cultuar o morto impressiona pela diversidade.

Lá estavam José Serra e Geraldo Alckmin, do PSDB –partido nascido de dissidência que largou o PMDB por suposta aversão aos métodos de Quércia.

Lá estava Michel Temer, com quem Quércia travou nos últimos anos de sua existência renhida disputa pelo controle do PMDB-SP.

Lá estava Gilberto Kassab, um ‘demo’ que ronda o espólio de Quércia e achega-se ao PMDB de Temer com ganas de neogovernista.

Lá estava Eduardo Suplicy, cujo partido, o PT, um dia chegou a considerar-se a antítese da política à moda Quércia.

Lá estava, por último, Paulo Maluf. Entre todas, talvez, a única presença sincera. Unia-o a Quércia pelo menos afinidade de estilos.

A morte não parece guiar-se por critérios lógicos. Ela canoniza a todos, sem distinção. Ela perdoa as fraquezas, purifica as nódoas.

Por sorte, a morte é democrática. Ela se distribui igualitariamente. Cedo ou tarde o pó une todo mundo na santidade dos túmulos.

blog Josias de Souza

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