Brasil: da série “Só dói quando eu rio”!
Com a sutileza de um elefante em uma loja de louças, o avantajado Ministro da Defesa do Brasil, que nunca deve ter usado uma mera baladeira – conhecida em outras tabas brasileiras como estilingue – Nelson Jobim, ressurge. Sempre que um palco é armado, o ministro aparece mais uma vez travestido de especialista, seja qual for assunto que esteja em evidência no território dos Tupiniquins.
Sua (dele) ex-celência ataca! Quem já pousou de combatente na selva amazônica e de tripulante de submarinos, entre outros vedetismos, desta vez surge na ribalta como especialista em desastres aéreos e em correntes oceânicas, tal qual um Jacques Costeau redivivo. Exibindo mapas, cartas náuticas e a retórica de um oceanógrafo laureado em Lagoa de Xorroxó, o robusto ministro foi logo afirmando, de forma categórica, que destroços avistados por aeronaves de buscas, e ainda não recolhidos, pertenciam ao avião da Air France.
“A FAB detectou no mar uma faixa de cinco quilômetros com destroços de um avião. Não há dúvidas: são destroços do avião da Air France”.
Assim! Sem nem titubear!
Uáu! Eis aí um concorrente da mãe Dinah, aquela que tudo sabe e tudo vê!
Observem que oficiais da Marinha e da Aeronáutica especialistas no assunto, altamente qualificados e com larga experiência em buscas e resgates, não ousaram fazer nenhuma afirmação enquanto as buscas são realizadas. Não se ouviu de nenhum desses militares quaisquer afirmações sobre os destroços AVISTADOS.
Não satisfeito com a demonstração de habilidades sensoriais antes desconhecidas no repertório de ex magistrado, ainda de forma nada sutil, num rasgo de solidariedade macabra aos parentes das vítimas do infausto acidente, “sapecou” esse primor de frase reconfortadora:
“O que estamos fazendo aqui é a localização de sobreviventes, ou melhor, de restos“.
Entenderam? Restos! Nada de corpos da vítimas. Restos!!!
E, em mais um rasgo de compaixão explícita completou o atentado à sensibilidade das famílias enlutadas:
“Além dos corpos afundarem, a costa de Pernambuco tem o problema que vocês sabem…”
Um jornalista, capaz de somar 2 mais 2, perguntou se a afirmação tinha algo a ver com os costumeiros ataques de tubarões no litoral pernambucano:
Sim!!!, respondeu limpo e seco sua (dele) ex-celência, iniciando a partir daí um anatômica dissertação sobre ruptura de abdomens.
O próximo baile da Ilha Fiscal poderá ser animado pela dupla Jobim e Mangabeira. Afinal, em matéria de gringo no samba a dupla não desafinará no quesito insensatez.
O editor