O ministro interino das Cidades, Bruno Araújo, apesar de ter sido agraciado com uma das pastas mais importantes e de maior orçamento do governo interino de Michel Temer, conseguiu se destacar não por qualquer ação que tenha desenvolvido nesses quase dois meses à frente do Ministério, mas por ter precisado se afastar do cargo, às pressas, por uma semana, para realizar misteriosa viagem ao exterior, onde teria ido tratar de “assuntos pessoais inadiáveis”.
Para poder autorizar o afastamento do ministro, sem exonerá-lo, já que isso acarretaria seu retorno ao mandato em prejuízo de seu suplente, a assessoria do presidente interino criou um arranjo, segundo o qual, o ministro, que sequer tem dois meses no cargo, teve direito a tirar uma semana de férias, mesmo sem ter um ano no exercício do cargo. Como sabemos, para que qualquer trabalhador ou servidor público adquira tal direito, faz-se necessário, pelo menos, um ano de exercício no cargo ou emprego.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
Privilégios à parte, chama a atenção, o fato de que as “férias” do ministro coincidem com dois episódios envolvendo pessoas bastante próximas a Bruno Araújo, que se notabilizou durante o processo de “impeachment”, não apenas por ter dado o voto 342, que resultou no afastamento da presidente Dilma Rousseff, mas, também, por levar panelas para o plenário da Câmara dos Deputados e ficar batendo-as, enquanto fazia pronunciamentos contra a corrupção do governo, ao qual fazia oposição, na tribuna da Câmara Federal. Araújo chegou a ficar conhecido como “o deputado paneleiro”, por causa da pantomima que encenava com frequência na Tribuna.
A edição do Diário Oficial da União, de 05/07/2016, publicou o despacho nº 7, de Michel Temer, autorizando as férias do Ministro das Cidades, dos dias 3 a 8 de junho:
No mesmo dia, ou seja, 05/07, em que foi publicada a autorização de “férias” de Bruno Araújo, por uma infeliz coincidência, a Polícia Federal deflagrou a “Operação Black List”, contra o prefeito de Camaragibe, Jorge Alexandre, do PSDB, partido de Araújo. Jorge Alexandre é um dos principais aliados do ministro Bruno Araújo, no Estado de Pernambuco. O inquérito que investiga o aliado de Araújo e vários de seus assessores e empresários, corre perante o TRF da 5ª Região, porque Jorge Alexandre, como prefeito, tem foro privilegiado. O desembargador alagoano Rubens Canuto, que tomou posse em dezembro de 2015, decretou sigilo absoluto sobre o inquérito, proibindo, inclusive, que a Polícia Federal desse qualquer entrevista sobre a Operação.
SAIBA MAIS SOBRE A POSSE DE CANUTO AQUI
Sabe-se, entretanto, que a ação da Polícia Federal teria desbaratado um esquema de fraudes em licitações e comércio ilegal de medicamentos, que girou em torno de R$ 100 milhões (Leia Aqui).
Exatamente um mês antes da Operação da PF, em Camaragibe, Araújo fez visita política ao aliado Jorge Alexandre, prometendo liberação de recursos federais para obras de infra-estrutura no Município. Segundo o jornalista Inaldo Sampaio, em seu Blog, Jorge Alexandre foi um dos poucos prefeitos pernambucanos a irem à posse de Araújo no Ministério das Cidades.
Blog do Inaldo Sampaio, em 05/06/2016 |
O prefeito de Camaragibe é empresário do setor de medicamentos, sendo proprietário de distribuidoras, a primeira delas foi a empresa JAMED Comércio Ltda ME, CNPJ, 04.754.413.0001-12. Assista o vídeo onde Jorge Alexandre se apresenta como dono da Jamed, Aqui. Segundo o site da Receita Federal, hoje, a JAMED apresenta outros sócios:
Bruno Araújo, por sua vez, em sua campanha, recebeu ajuda de empresas ligadas ao setor de laboratórios, num total de R$ 340 mil, em doações, o que demonstra que é um político bem visto pelo empresariado que atua no ramo de laboratórios. Vejamos:
Embora não tenha processos ajuizados em seu nome, Bruno Araújo é sócio cotista do escritório de advocacia J. Meira, conforme ele mesmo declara à Justiça Eleitoral, num percentual de 17,5%, onde também assume ser proprietário de um apartamento nas chamadas “Torres Gêmeas” da Moura Dubeux” (Pier Duarte Coelho). Não fica clara, portanto, qual seria sua função no escritório de advocacia, uma vez que como deputado, portanto, mesmo antes de assumir o ministério interino, Araújo já era impedido de advogar, por força do Estatuto da OAB.
Nas chamadas “Torres Gêmeas”, Araújo é vizinho do deputado Jarbas Vasconcelos, de quem foi líder do governo, quando Vasconcelos governou Pernambuco (Leia AQUI: “Líder do governo Jarbas, Bruno Araújo interferiu para transferir delegado que investigava corruptos aliados”) e de Rômulo Maciel Filho, ex-presidente da HEMOBRAS, este último, acusado, pela Polícia Federal, na Operação “Pulso”, de fraudar licitações da estatal, juntamente com os lobistas Delmar Siqueira Rodrigues e a filha deste,Juliana Siqueira Rodrigues, que, segundo o blog apurou, têm ligações antigas com a Odebrecht. Curiosamente, o lobista Delmar Siqueira Rodrigues, preso pela Operação “Pulso”, recebeu título de cidadão pernambucano por indicação de ninguém menos que Bruno Araújo, quando ainda deputado estadual (Leia AQUI). Na operação “Pulso”, também foi indiciado o petista Mozart Sales, o que demonstra que a corrupção não faz acepção de pessoas. Durante a Operação Pulso, um fato curioso foi a tentativa de Rômulo Maciel Filho “salvar” parte dos recursos que guardava em seu luxuoso apartamento nas “Torres Gêmeas”, arremessando uma sacola de dinheiro pela janela. Vejam o vídeoAqui.
Confira AQUI
Conforme se pode observar na procuração extraída de um processo em tramitação no STF, o escritório do qual Bruno Araújo se declarou “cotista”, se associa com outros escritórios de nomeada, para atuar especificamente nos Tribunais Superiores, onde não só o próprio Bruno Araújo teria muito prestígio, mas seus sócios, entre eles o advogado e empresário do ramo de turismo e imobiliário, Marcos Meira:
Recentemente, aliás, Araújo, já ministro das Cidades, prestigiou a posse do novo desembargador federal Élio Filho, fazendo-se acompanhar de pessoas ligadas à gestão Geraldo Júlio, do PSB (DetalhesAQUI):
O advogado Marcos Meira, sócio de Bruno Araújo, conforme o próprio ministro interino declara à Justiça Eleitoral, foi apontado pelo ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, em mensagens de celular, como a pessoa a quem os executivos da empresa recorreriam para retardar ou modificar resultados de julgamentos no STJ, de onde o pai de Marcos Meira, Castro Meira, fora ministro até 2013, quando se aposentou. De acordo com a Polícia Federal, que interceptou as mensagens durante as investigações daLava Jato, as trocas de mensagens entre Leo Pinheiro, já condenado na Lava Jato e outros executivos da OAS, teriam ocorrido entre 2012 e 2013 (Detalhes AQUI, AQUI).
Outro personagem bastante conhecido e poderoso no meio jurídico pernambucano, que também pediu férias (leia AQUI), numa dessas impressionantes coincidências da vida, praticamente junto com o ministro interino Bruno Araújo, só que pelo período de três meses foi o presidente do STJ, ministro Francisco Falcão, que, ligadíssimo ao sócio de Araújo, o advogado e empresário Marcos Meira, Francisco Falcão teve pedido de instauração de inquérito contra si ajuizado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, por tentar influenciar na Operação Lava Jato, através da nomeação do ministro Marcelo Navarro, oriundo do TRF da 5ª da Região e que daria como contrapartida à sua nomeação, a soltura de empreiteiros corruptores, presos pelo juiz Sérgio Moro, na Lava Jato, entre eles, o ex-todo-poderoso ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht.
Falcão é tão íntimo do sócio de Bruno Araújo, que foi a Fernando de Noronha só para participar da festa de arromba que o jovem e já milionário advogado deu em sua pousada, a “Maravilha”, que já pertenceu ao apresentador Luciano Huck, em celebração de suas núpcias. O rega-bofes, que teve até show do cantor Arnaldo Antunes, foi assunto da colunista Roberta Jungmann (Leia Aqui)
Segundo o jornalista de “O Globo”, Jorge Bastos Moreno, um famoso advogado com forte atuação junto aos Tribunais teria feito uma delação premiada que colocou em pânico as cúpulas dos Tribunais. Esperamos que essa delação venha o quanto antes a público, para os podres que ouvimos tanto falar, em privado, sejam, finalmente, desmascarados para o público em geral. Talvez já tenha passado da hora de repensarmos a forma como são feitas as escolhas desses senhores que vestem a toca em nossos Tribunais e, principalmente, a forma como seus parentes e aderentes têm enriquecido, aproveitando-se desse parentesco e da influência que tiveram nas respectivas nomeações dos senhores togados.
Vivemos novos tempos e quem tiver seus podres, nem com o melhor e mais caro dos perfumes franceses conseguirá ocultar o mau cheiro que exalam.
Blog da Noélia Brito