Agonia
Vinicius de Moraes ¹
No teu grande corpo branco depois eu fiquei.
Tinha os olhos lívidos e tive medo.
Já não havia sombra em ti
– eras como um grande deserto de areia
Onde eu houvesse tombado
após uma longa caminhada sem noites.
Na minha angústia eu buscava a paisagem calma
Que me havia dado tanto tempo
Mas tudo era estéril e monstruoso e sem vida.
E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.
Eu estremecia agonizando e procurava me erguer
Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.
Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma.
Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem.
Depois foi o sono, escuro, a morte.
Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente.
Vinha cheio do pavor de tuas entranhas.
¹ Marcus Vinicius de Mello Moraes
* Rio de Janeiro, RJ. – 19 de Outubro de 1913 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 09 de Julho de 1980 d.C
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