Antônio Botto – Versos na tarde – 17/05/2013

Soneto
Antônio Botto¹

Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento

¹Antônio Tomás Botto
* Abrantes, Portugal – 17 de Agosto de 1897 d.C
+ Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959 d.C

Antônio Botto nasceu em Concavada, freguesia do conselho de Abrantes, Portugal, filho de Maria Pires Agudo e de Francisco Thomaz Botto. O seu pai trabalhava como “marítimo” no rio Tejo. Em 1908 a sua família mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e foi funcionário público. Em 1924-25 trabalhou em Santo António do Zaire e Luanda, na então colônia de Angola.

A sua obra mais conhecida, e também a mais polêmica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu caráter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época. Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu em 1930 as suas Canções para inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos. Homossexual assumido (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa. Morreu atropelado em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria. Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966.

Obras

Poesia

* Trovas (1917)
* Cantigas de Saudade (1918)
* Cantares (1919)
* Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932)
* Canções do Sul
* Motivos de Beleza (1923)
* Curiosidades Estéticas (1924)
* Pequenas Esculturas (1925)
* Olimpíadas (1927)
* Dandismo (1928)
* Ciúme (1934)
* Baionetas da Morte (1936)
* A Vida Que te Dei (1938)
* Sonetos (1938)
* O Livro do Povo (1944)
* Ódio e Amor (1947)
* Fátima – Poema do Mundo (1955)
* Ainda Não se Escreveu (1959)

Ficção

* António (1933)
* Isto Sucedeu Assim (1940)
* Os Contos de António Botto (1942) – literatura infantil
* Ele Que Diga Se Eu Minto (1945)

Teatro

* Alfama (1933)

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