TI:Telecapitalismo do atraso

Coluna Élio Gaspari – O Globo

O que falta ao Brasil é capitalismo, regime que enriquece o virtuoso e destrói o incapaz. Na semana passada, a empresa americana Skype foi vendida à casa de leilões eletrônicos ebay por US$ 2,6 bilhões.

Em 2003, quando foi criada, parecia uma aventura. Seu negócio era oferecer conexões telefônicas de baixo custo ou mesmo gratuitas para quem tinha computadores conectados à internet. Deu certo. Seu programinha (grátis) transforma computadores em telefones e já foi baixado em 166,6 milhões de máquinas. A qualquer momento, há mais de dois milhões de pessoas conectadas pelo Skype.

O Brasil é o seu quinto mercado, com dois milhões de programas baixados. A história do Skype é mais um caso de sucesso do cruzamento da iniciativa, do lucro e do progresso. Coisa como a lâmpada elétrica, o Ford Bigode ou a caneta Bic.

A tecnologia que fez essa fortuna chama-se VOIP, ou Voz sobre IP. Nos Estados Unidos, logo que a novidade se mostrou competitiva, grandes operadoras, como a ATT e a Verizon, foram à luta, oferecendo-a à patuléia. Hoje há 1,1 mil companhias oferecendo esse serviço. Trata-se de oferecer ligações telefônicas grátis ou, pelo menos, 60% mais baratas. Uma nova empresa, a Vonage, já permite a ligação de telefones ao cabo da internet, dispensando o computador.

Nenhuma das grandes empresas de telefonia brasileiras (Telefonica, Embratel, Telemar ou Brasil Telecom) oferece acesso a planos de Voz sobre IP aos seus clientes residenciais.

Beneficiam-se do avanço tecnológico nas suas operações rotineiras e vendem-no às grandes empresas, mas moitam em relação à patuléia. Algo como se os fabricantes de carruagens fizessem de conta que não surgiu o motor a explosão.

Felizmente, já existem empresas oferecendo esse serviço. Cinco, além da Skype, vão listadas abaixo.

A Telemar e a Embratel representaram junto ao Conar contra a maior dessas companhias, o UOL Fone. Ele faz em português algumas coisas que a Skype faz em inglês. (Atenção: o UOL pertence à mesma empresa que edita a “Folha de S.Paulo”, onde esta coluna também é publicada.) As teles sustentaram que a propaganda do UOL enganava o público omitindo custos indiretos nas tarifas que anunciava. Por unanimidade, a queixa foi mandada ao arquivo. Briga boa.

Pelo UOL Fone, os assinantes do serviço de banda larga do provedor pagam R$ 0,31 por minuto numa ligação de São Paulo para Brasília e R$ 0,16 para os Estados Unidos.

Pela Embratel e pelas grandes operadoras as mesmas chamadas custam entre 33% e 90% mais caro.

Pela Skype, que não carrega a cruz tributária brasileira, essas ligações custam entre coisa nenhuma e R$ 0,14. A idéia de proteger o mercado retardando a inovação é coisa do capitalismo de mensalão.

Não foi o acaso que levou duas teles a buscar conforto nas grandes famílias petistas. É possível que até o fim deste ano uma grande operadora lance o seu pacote de serviços de Voz sobre IP para consumidores residenciais. Aleluia.

Será divertido comparar as tarifas e ouvir as justificativas de quem prefere blindar seus micos, deixando a patuléia ao sol.

ENDEREÇOS ÚTEIS:
Skype: www.skype.com
UOL Fone: http://fone.uol.com.br

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