Política.
O caso do deputado honesto.
Artigo do jornalista Clóvis Rossi destaca o único político honesto lá da Assembléia Legislativa de Rondônia.
Leiam e tirem cópias, espalhem por aí: “Há um Honesto Desconhecido, doravante tratado por HD, à solta por aí.
Mais exatamente, em Rondônia.
É o único dos 24 deputados estaduais não acusado de trambiques. É tamanha a podridão no país tropical que conseguiu violentar uma das regras fundadoras do jornalismo. Jornalismo é, na essência, o relato da anomalia.
Notícia é avião que cai ou atrasa muito, não aviões que decolam e pousam mais ou menos no horário, aliás a avassaladora maioria.
Em Rondônia, a avassaladora maioria dos deputados é trambiqueira, mas, mesmo assim, os nomes dos 23 saíram no jornal. O da anomalia, o honesto desconhecido, ficou no anonimato.
Consta até que está cadastrado no Ibama, como espécime ameaçada de extinção. Receberá, quando seu nome for conhecido, pulseirinha com a inscrição “político honesto 0001”.
O fabricante das pulseiras avisa que descontinuou a produção. Falta demanda. O anonimato protege as crianças de HD.
Já imaginou a reação dos coleguinhas ao verem chegar os filhos da anomalia? “Ói, lá, o filho do honesto”, dirão, escandindo as palavras como antigamente se fazia com “filho da puta”.
Protege também a mulher do indigitado. Poupa-a do vexame de, ao entrar no cabeleireiro, ser recebida com olhares irônicos das mulheres dos 23 trambiqueiros e com a dúvida da dona do salão: “Mulher de honesto tem dinheiro para pagar pelo menos a unha?”.
HD disfarça-se para freqüentar seu local de trabalho, a Assembléia Legislativa.
Um colega, outro dia, disse-lhe que não poderia mais tratá-lo como “excelência”. Emendou: “Sua honestidade é uma vergonha para a categoria”.
HD pensa em pedir asilo. De cara, descartou Brasília.
Mas está difícil encontrar-se em qualquer ponto do Brasil.
É um aleijão. Agride a “normalidade” da pátria.”