Da série: o Ceará que dá certo!
Se você pensa que os nosso infelizes ouvidos estão fadados a serem estuprados eternamente com a “coisa” emitida pelas bundas, ops, bandas de forró, Lêdo Ivo engano.
Música instrumental da mais alta qualidade é produzida aqui na taba de Alencar. O músico e compositor Luciano Franco, lança CD que rompe com a mesmice musical brasileira, atualmente afogada ente o, argh!, axé e outras porqueiras inomináveis.
Confira abaixo reportagem do Diário do Nordeste
Rio discreto e original
por Henrique Nunes
Luciano Franco: disco instrumental prioriza a musicalidade de inspiradas composições próprias
O músico cearense Luciano Franco está lançando seu segundo álbum, “Rio Novo”, excelente prévia para sua apresentação no Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga
A Bossa Nova continua sendo a principal referência de Luciano Franco, baixista, violonista, guitarrista, pianista e compositor cearense, cuja discrição, elegância e talento conviviam, há cerca de oito anos, em lugares mais intimistas, como a Estudantina, casa tão agradável como efêmera que levava toda uma fartura de boa música ao Bairro de Fátima. Então, Luciano revezava-se ao violão com Cláudio Costa, em geral na companhia da nossa diva jazzy Fhátima Santos, em seu bairro, em sua casa talvez mais acolhedora. Apesar de todas estas suas qualificações, um instrumentista discreto, de uma musicalidade naturalmente sofisticada e original.
Quatro anos após seu primeiro álbum, Luciano lança (o novamente autoral) ´Rio Novo´, promovendo novas investigações instrumentais contemporâneas, sob influências jazzísticas, marcantemente brasileiras. Atração da abertura do Festival de Jazz & Blues, dia 21, onde já se apresentou anteriormente, com seu show próprio ou acompanhando outros artistas, Luciano apresenta um repertório sofisticado, talhado entre músicos cearenses e baianos, aproximados através da Associação dos Amigos do Jazz de Salvador, a Sojazz. Além dela, o disco contou com o apoio das empresas Homeclass e Claris.
Um entre muitos possíveis, dada a extensão do repertório autoral de Luciano, o disco ´Rio Novo´ demonstra a versatilidade do compositor, em diferentes gêneros. Em comum entre eles, o cuidado com a harmonia e a desenvoltura das melodias. Também a opção por arranjos em favor da música, com espaço para improvisação, mas sem exageros.
O samba-canção chega firme, luxo só, em ´Um grande amor´. Chama a Maysa, nem que seja a da minissérie pra ela fazer uma letra e cantar! Luciano ao baixo e violão entre a bateria do cearense Daniel Alencar e o trombone de Fred Dantas, ao lado de Márcio Dhiniz (bateria), Joatan Nascimento (flugelhorn), Sérgio Benuti (flugelhorn) e Chico Oliveira (guitarra), convidados da terra da cantora Maricenne Costa, outra ótima pedida para o Festival. Do lado de cá, o álbum traz nomes como Edson Távora Filho (piano), Jerônimo Neto (baixo), estes velhos conhecidos do tempo da Estudantina, e ainda Márcio Resende (sax e flautas), Tito Freitas (piano), Jorge Helder (baixo), Adelson Viana (acordeom e piano), Tarcísio Sardinha (violão) e ainda Luizinho Duarte e Pantico Rocha (bateria), Vinícius Franco (filho do compositor) e Marcelo Randemarck (baixo).
Entre tantas feras, Luciano às vezes soa coadjuvante, apenas temperando as melodias com seu violão, como na faixa de abertura, ´Cristal´, um instrumental brasileiro de linha cool com Chico Oliveira, Daniel Alencar e Edson Távora Filho espraiando a melodia de timbres suavemente pop. Também cool, a canção ´Noite e Dia´ pede uma letra sob o flugel de Benutti e suas síncopes quebradas. A faixa-título, em homenagem ao bairro de Cascavel onde viveu na infância e adolescência, faz um passeio mais jazzy pela melodia conduzida pela flauta de Resende e baixo de Jorge Helder, este solando sob a síncope sambista de Márcio Dhiniz e do piano de Adelson Viana.
Bossas naturais
Em ´Novos Amigos´, sua guitarra semi-acústica conduz o clima mais intimista, jazz brasileiro, à Toninho Horta. Ao baixo, Luciano Franco ainda transcende suas belas harmonias ao espírito do Novo Tango, na alegre melodia de ´Valsa para Beatriz´, sob os endiabrados contrapontos entre Adelson e Resende. Em tempo, Beatriz aqui se refere à mãe do músico, que fique claro. O chorinho também não é esquecido por Luciano. Em ´Choro de Domingo´, no entanto, é o espírito mais lírico, mais condizente com seu cancioneiro e o do homenageado Dominguinhos, que ele expõe, novamente tendo o acordeon de Adelson como sua principal base melódica. Enternecedor.
E tem o samba, quebrado, edulobiano, deixando todo mundo (Resende, Helder, Daniel, Adelson e o compositor e seu violão ´gigante´) deitar e rolar em clima de um típico instrumental brasileiro de primeira grandeza, em ´No passo da Rosa´, homenagem às divisões de Rosa Passos. Música instrumental brasileira que, historicamente, é o rótulo mais pertinente também para a elegante ´Pra cima e pra baixo´, entre o samba e o jazz com Resende ao sax e muito espaço pros solos de baixo do anfitrião e do piano de Adriano Oliveira.
A proximidade entre a bossa e o jazz ganha linhas mais evidentes em ´Fotografando´, cujo balanço é guiado por flautas e flugel (Joatan), piano (Tito Freitas), baixo (Marcelo Randemarck) e bateria (Márcio Dhiniz), além do violão magistral de Luciano. Outra bossa de primeira, com belo trompete de Joatan Nascimento e a bateria visionária de Luizinho Duarte, ´Tudo de novo´ já foi apresentada, com letra, no Festival de Inverno da Meruoca de 2007. Aqui, o baixo é de Vinicius Franco, filho do dono da festa.
Luizinho, Tito Freitas e o baixo de Luciano percorrem tranqüilo mais uma, ´Laranjeira´, com direito a improvisos mais incisivos de Tito. Já em ´Se você disser´, são o violão e a guitarra de Franco que, próximos ao balanço de Daniel Alencar, Jerônimo Neto e Edson Távora Filho, vibram entre a bossa de Tom e a de Baden Powell. Quem estiver em outra quando o Carnaval chegar pode conferir o lançamento deste paramentado CD no próximo dia 10, no Centro Cultural Oboé. Ou contactar o próprio músico e adquirir o disco (9622-6750 e 8796-9056 / lucianoafranco@yahoo.com.br), também à venda na loja Desafinado. Uma boa representação de um rio de renovação para o som instrumental brasileiro.