Retrato de uma dama
T.S. Eliot¹
II
Agora que florescem os lilases,
Um vaso de lilases tem ela em seu quarto
E um deles trança entre os dedos enquanto fala.
“Ah, meu caro, não sabes, não sabes
O que é a vida, tu, que a subjugas em tuas mãos”
(Lentamente a retorcer o talo de um lilás);
“Deixas que de ti a vida flua, deixas que ela flua
E cruel é a juventude, e nenhum remorso tem
E sorri perante aquilo que sequer consegue ver.”
Sorrio, claro está.
E continuo a tomar chá.
“Mas com aqueles poentes de Abril, que de algum modo recordam
Minha vida já sepulta, e Paris na primavera,
Sinto uma paz infinita, e vejo o mundo
Esplêndido e jovem afinal.”
A voz retorna como a insistente atonia
De um violino quebrado numa tarde de agosto:
“Sempre estou certa de que entendes
Meus sentimentos, sempre certa de que os sentes,
Certa de que, na outra borda do abismo, alcances tua mão.
És invulnerável, não tens o calcanhar de Aquiles.
Vais em frente e, quando triunfas, podes dizer: aqui muitos falharam.
Mas que tenho eu, que tenho eu, meu caro,
Para dar-te que possas receber de mim?
Amizade e simpatia apenas
De quem já quase chega ao fim da vida.
Estarei sentada aqui servindo chá aos amigos…”
Ponho meu chapéu: como posso, pusilânime, exigir satisfações
Por haver ela dito o que me disse?
Me encontrarás todas as manhãs nos jardins públicos
A ler histórias em quadradinhos e a página desportiva.
Em particular, anoto:
Uma condessa inglesa sobe ao palco,
Um grego é morto num bailado polonês,
Outro acusado de desfalque bancário confessou.
Mantenho minha postura
E mantenho-me controlado
Salvo se um realejo, a martelar mecânico uma escala,
Repisa uma cediça canção familiar
Com o aroma de jacintos a fluir pelo jardim
Relembrando coisas que alguém já desejou.
Estarão certas ou erradas tais ideias?
* Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819