T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 15/05/2017
Retrato de uma dama T.S. Eliot¹ II Agora que florescem os lilases, Um vaso de lilases tem ela em seu quarto E um deles trança entre os dedos enquanto fala. “Ah, meu caro, não sabes, não sabes O que é a vida, tu, que a subjugas em tuas mãos” (Lentamente a retorcer o talo de um lilás); “Deixas que de ti a vida flua, deixas que ela flua E cruel é a juventude, e nenhum remorso tem E sorri perante aquilo que sequer consegue ver.” Sorrio, claro está. E continuo a tomar chá. “Mas com aqueles poentes de Abril, que de algum modo recordam Minha vida já sepulta, e Paris na primavera, Sinto uma paz infinita, e vejo o mundo Esplêndido e jovem afinal.” A voz retorna como a insistente atonia De um violino quebrado numa tarde de agosto: “Sempre estou certa de que entendes Meus sentimentos, sempre certa de que os sentes, Certa de que, na outra borda do abismo, alcances tua mão. És invulnerável, não tens o calcanhar de Aquiles. Vais em frente e, quando triunfas, podes dizer: aqui muitos falharam. Mas que tenho eu, que tenho eu, meu caro, Para dar-te que possas receber de mim? Amizade e simpatia apenas De quem já quase chega ao fim da vida. Estarei sentada aqui servindo chá aos amigos…” Ponho meu chapéu: como posso, pusilânime, exigir satisfações Por haver ela dito o que me disse? Me encontrarás todas as manhãs nos jardins públicos A ler histórias em quadradinhos e a página desportiva. Em particular, anoto: Uma condessa inglesa sobe ao palco, Um grego é morto num bailado polonês, Outro acusado de desfalque bancário confessou. Mantenho minha postura E mantenho-me controlado Salvo se um realejo, a martelar mecânico uma escala, Repisa uma cediça canção familiar Com o aroma de jacintos a fluir pelo jardim Relembrando coisas que alguém já desejou. Estarão certas ou erradas tais ideias? ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]