Fernando Pessoa – Versos na Tarde – 10/04/2015

Tudo que sinto, tudo que penso
Fernando Pessoa¹

Tudo que sinto, tudo quanto penso,
Sem que eu o queira se me converteu
Numa vasta planície, um vago extenso
Onde há só nada sob o nulo céu.

Não existo senão para saber
Que não existo, e, como a recordar,
Vejo boiar a inércia do meu ser
No meu ser sem inércia, inútil mar.

Sargaço fluido de uma hora incerta,
Quem me dará que o tenha por visão?
Nada, nem o que tolda a descoberta
Com o saber que existe o coração.

¹ Fernando António Nogueira Pessoa
* Lisboa, Portugal – 13 de junho de 1888 d.C
+ Lisboa, Portugal – 30 de novembro de 1935 d.C


[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Share the Post:

Artigos relacionados