Dória um intruso no PSDB?

Esquerda tucana declara guerra a Dória; prefeito reage

por Rafael Rizzo

Já não é de hoje que os setores progressistas do PSDB se irritam com a figura intrusa e desafiadora de João Dória Jr.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

O alcaide paulistano, quando ainda proponente à vaga de candidato, já causava mal estar na legenda por sua postura exageradamente chamativa e pró-mercado. Era visto com ressalvas, como um bizarro no ninho – alguém que não fazia sentido num clube elite formado por sociólogos, economistas e “formuladores de políticas públicas”.

À época, o duelo entre Dória e Matarazzo não representava apenas o confronto entre um PSDB moderno e atento às mudanças na sociedade contra sua ala social-democrata e elitista; representava, também uma luta mortal pela renovação de quadros no partido em São Paulo, sua principal base.

De um lado tínhamos José Serra, Aloysio Nunes e Fernando Henrique Cardoso. Do outro o governador Geraldo Alckmin e o habilidoso articulador político Júlio Semeghini.

A história, como sabemos, resultou em prévias fratricidas com vantagem para João Dória. O resultado surpreendeu os analistas de sempre, que davam como certa a vitória de Matarazzo.

Pela primeira vez em muito tempo, os “tucanos de bico vermelho”perdiam a supremacia sobre o diretório municipal de São Paulo. Acuados, voaram em debandada para a campanha de Marta Suplicy, e alguns de seus candidatos a vereador recusaram-se a apoiar Dória. Terminaram esmagados.

Crescimento meteórico e alinhamento liberal

Durante a campanha, João Dória nunca teve medo de se apresentar como antagonista da esquerda. Mais que isso: colocava-se como candidato herdeiro das manifestações populares que levaram a cabo o governo de Dilma Rousseff.

Sua página de facebook era tomada por vídeos produzidos pelo Movimento Brasil Livre; o ativista Kim Kataguiri debatia propostas em transmissões ao vivo para o Facebook e panfletava com seus colegas nas ruas e nas redes.

A proximidade de Dória com a nova direita persistiu após o início do seu mandato. Acompanhado de um crescimento meteórico, o prefeito liderou uma série de ataques ao ex-presidente Lula, que eram prontamente viralizados em suas redes e nos veículos de mídia do MBL e outros gruposmenores. Firmou-se como crítico da ação perniciosa de especialistas e não teve medo de confrontar o jornalismo engajado de certos veículos de imprensa.

A tática funcionou: Dória conquistou repercussão nacional e firmou-se como principal alternativa tucana para o pleito presidencial de 2018, conforme atesta o Paraná Pesquisas.

Velho tucanato reage

Atônitos diante da blitzkrieg midiática de Dória, os representantes da esquerda tucana permaneceram calados e distantes durante os 30 primeiros dias de mandato.

Bastou, porém, que as aventuras do alcaide vestido de lixeiro se tornassem rotineiras para que os primeiros sinais de insatisfação viessem ao ar.

O primeiro a se manifestar foi Alberto Goldman, ex-governador de São Paulo. Para ele, “Dória não tem o perfil da história política do PSDB”- fato constatado também por seus eleitores.

Bastou que a matéria fosse publicada pela Época para que o viés de confirmação positiva de Dória como “outsider”no partido se cristalizasse perante os seguidores. As declarações de Goldman foram celebradas nas redes sociais como sinal de independência. Mais uma vitória para o prefeito.

Vídeos com direita e pré-campanha do MBL

Dória firmou-se como o segundo político mais popular do mundo em redes sociais, atrás apenas do presidente americano Donald Trump.

Seu facebook, sozinho, fala para mais de 7 milhões de pessoas todos os dias – números espantosos para um prefeito recém-eleito.

É uma plataformasuficientemente robusta para que o prefeito possa rebater, com certa tranquilidade, os constantes ataques da grande mídia.

Disposto a turbinar seu aparato de comunicação, Dória lançou um programa de entrevistas, feitas através de livestream para o facebook, onde conversa com influencers digitais da nova direita, como o historiador Marco Antonio Villa, o comediante Carioca (Pânico) os roqueiros Lobão e Roger (Ultraje a Rigor).

Paralelamente, o MBL – que já defendia o prefeito em redes sociais – deu um passo adiante em sua ação política e admitiu publicamente que pretende eleger João Dória presidente da República em 2018.

A espontaneidade da declaração possui certo elemento estratégico: o MBL parece influenciar o avanço de quadros liberais dentro da estrutura partidária do PSDB, a ponto de ter eleito 4 vereadores pelo partido, possuir um deputado federal (Paulo Eduardo Martins) e forte parceria com o prefeito de Porto Alegre (Nelson Marchezan Jr.), também liberal.

FHC se movimenta; Dória reage 

Na manhã da última sexta feira (24), o grão tucano Fernando Henrique Cardoso saiu do ninho e lançou mão de sua primeira alfinetada.

Afirmou que Alckmin, aliado de Dória, é o tucano mais bem posicionado para concorrer a presidente, e cutucou o o mote do prefeito. “Se você for um gestor, não vai inspirar nada. Tem que ser líder” afirmou.

O ataque revela a sutileza da ação política de FHC. Ao mesmo tempo que diminui Dória, o coloca em oposição contra seu principal aliado, que de forma trôpega tenta se firmar como candidato a presidente.

A tática faz parte de uma possível estratégia de fortalecimento da ala esquerdista do PSDB, que deseja a todo custo recuperar o Palácio dos Bandeirantes em uma eventual aliança com Geraldo.

Dória foi rápido na resposta.”Respeito muito o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas eu só lembro que ele previu que eu não seria eleito nas prévias para ser candidato pelo PSDB.

Apoiou outro candidato, o que não muda minha admiração. Ele mesmo já confessou que, quando comecei campanha para prefeito de SP, acreditava que eu não seria eleito. Venci as duas. Os dois primeiros prognósticos do FHC ele errou”, disse o prefeito logo após as movimentações do ex-presidente.

Xadrez político no PSDB se intensifica

O cenário político dentro do PSDB para os próximos meses é por demais complexo. Após brilhar nas eleições municipais de 2016, o partido encontra-se refém de um governo federal impopular, ao mesmo tempo que assiste seus nomes mais tradicionais derreterem nas delações da Lava-Jato.

Além disso, passa a ser vítima de um assédio ideológico por parte da nova direita – em especial do MBL – que fala diretamente para seu eleitorado.

A ascensão de Dória como grande nome para 2018 é também a ascensão de uma difusa e midiática direita liberal dentro do partido. As transformações que pode acarretar – temidas por FHC em artigo no final do passado – podem redefinir o papel da legenda para os próximos anos.

Num país cada vez mais polarizado, um novo PSDB, reorientado ideologicamente, não teria mais espaço para figuras oriundas do movimento revolucionário dos anos 60 ou das cátedras de sociologia da Sorbonne.

Pode ser o fim do partido da social democracia brasileira como conhecemos. E isso não parece ser uma má notícia.

Fonte: Jornal Livre

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