Cuba Imperial.

Percival Puggina
O autor é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

Os malabarismos retóricos a que recorrem os seguidores brasileiros de Fidel Castro, na tentativa de defender sua ditadura, já começam a exigir platéia com atestado de morte cerebral.

Certamente não passava pela cabeça de Angel Castro, ao mudar-se para Cuba, a idéia de que seus dois rebentos transformariam a ilha toda numa espécie de empresa familiar na qual ambos mandam e 11 milhões de cubanos obedecem.

Há muito salta aos olhos de qualquer observador honesto que a situação de Cuba enveredou por uma desastrosa picada sem fim previsível.

Mesmo assim, o meio acadêmico brasileiro e expressiva parcela da intelectualidade nacional jamais pouparam louvores a Fidel, ao ideário que ele encarna e desossa e aos ícones do fatigante ‘socialismo o muerte!’ que os cubanos retificam para ‘socialismo y muerte’.

De seu caráter sanguinário dão prova as vítimas do paredón e as sepultadas vivas nas masmorras do regime.
Os malabarismos retóricos a que recorrem seus seguidores brasileiros, treinados para dar nó em pingo d’água quando se trata de defender o comunismo, já começam a exigir platéia com atestado de morte cerebral.

Os vários debates de que participei nos últimos dias forneceram eloqüentes exemplos disso.
‘Cuba é uma referência de autonomia’, insistem. Cuba? Autonomia? Desrespeitam a autonomia própria e a dos outros!Sob Fidel, esse país, hoje dependente da Venezuela, viveu 30 anos na mais servil submissão à URSS. Foram três décadas de tenebrosas concessões.
Ao longo delas, os jovens cubanos eram alugados como bucha de canhão para as intervenções comunistas na autonomia de
Angola, Moçambique, Congo, Nigéria, Bolívia, Nicarágua, El Salvador e onde quer que a URSS precisasse de alguém para o serviço sujo das guerrilhas.

‘Cuba é uma democracia, sim, mas diferente da nossa’, proclamam, referindo-se a um regime sem liberdade de imprensa e de opinião, que há 47 anos só tem um partido, só tem um dirigente máximo, onde criticar o governo faz muito mal à saúde e onde o líder, enfermo, transfere o poder para o maninho.

Quando alguém, desmontando a farsa dos argumentos, põe os pingos nos ‘is’ da história e desenrola o filme dos fatos, eles, inevitavelmente, entre resmungos, começam a falar mal do Bush.

Tá bom… O mais surpreendente não é o que afirmam, mas o desprezo que demonstram pelo discernimento alheio.

Publicado pelo Correio do Povo em 10/08/2006
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