Perdidos na noite em Leverkusen.
Cora Rónai – GLobo On Line
Onze da noite. Numa rua escura de Leverkusen (pleonasmo: não há ruas iluminadas em Leverkusen a essa hora) uma van se aproxima vagarosamente de um canto. Lá dentro, cinco indivíduos debruçam-se sobre os notebooks que trazem ligados, enquanto um sexto dirige.
A van anda um pouco para a frente: as pessoas observam os notebooks, trocam observações. A van pára, dá ré alguns metros e finalmente estaciona.
Dentro do carro, a atividade torna-se febril: conseguimos encontrar um lugar onde nossas placas de conexão T-Mobile funcionam!
Xexéo precisa mandar a coluna, Ivo e Maia têm que mandar uma dúzia de fotos cada um, as três fotos da minha coluna, já reduzidas ao mínimo necessário para a impressão, ainda não chegaram ao jornal.
Guarabyra, nosso craque em tecnologia, faz o papel de marisco, entre um grupo de jornalistas à beira de um ataque de nervos num lugar ermo em Leverkusen (pleonasmo: não há outro tipo de lugar em Leverkusen) e uma redação estressada com o horário de fechamento no Rio.
As plaquinhas que usamos são semelhantes ao Vivo Zap, isto é, são basicamente telefones celulares que, espetados ao computador, conectam-se à internet em banda larga. A diferença é que o Vivo Zap funciona, e as plaquinhas da T-Mobile não. Na verdade, a T-Mobile consegue ser pior do que a Vodafone. Eu já disse que, aqui, Vodafone pronuncia-se “Fodafon”, não? Pois é.
É difícil de acreditar, eu sei, mas a vida online não é exatamente um campo de morangos aqui na Alemanha. Em vinte dias de viagem já vimos de tudo, até modems ISDN, tecnologia aposentada no Brasil há anos. Para mandar o texto da coluna do hotel de segurança máxima onde estamos detidos, digo, hospedados, tive que fazer uma conexão discada.
Foi uma vitória, possível apenas porque sou uma mulher tecnologicamente prevenida, que não sai de casa sem um kit completo de cabos e adaptadores; ainda assim, era tão vagabunda a conexão, mas tão vagabunda, que na hora das famigeradas fotos, depois de esgotar o meu elenco de truques, corri para a Van dos Desesperados.
Honestamente, não entendo por que estamos passando por perrengues tão arcaicos. Não há um único problema que tenhamos enfrentado até agora — e não foram poucos — que qualquer presidiário carioca não tire de letra, com a maior facilidade. Depois, ainda falam do Terceiro Mundo.
Nem preciso dizer que, quando voltamos ao nosso aconchegante hotel, o restaurante já estava fechado e o room service não tinha um único prato quente para aquecer nossas almas exaustas. Fui dormir de estômago vazio e tão tensa, que se pusesse uma lâmpada na boca acendia.
Agora, com licença, que vou lá no Walmart que o Maria descobriu a duas léguas daqui, comprar água mineral para os cabelos e gilete para os pulsos.