Qualidade do sêmen masculino piorou desde o início do século XX, e a justificativa pode ser a radiação emitida pelos celulares, dizem estudos.
Mais do que um simples meio de comunicação, o celular se tornou uma ferramenta de trabalho para uma grande parte da população. Essa ferramenta, que tem se tornado cada vez mais indispensável, precisa ser transportada em um local que seja fácil de guardar e de ter acesso. O bolso da calça parece perfeito, mas na verdade, pode ser um local perigoso.
Um estudo realizado por uma equipe do Centro Médico Carmel e do Instituto Technion de Haifa, em Israel, aponta que a qualidade do sêmen masculino piorou desde o início do século XX, e a justificativa pode ser a radiação emitida pelos celulares. O estudo foi publicado na Reproductive BioMedicine Online.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
Os aparelhos celulares são responsáveis por emitir ondas eletromagnéticas de radiofrequência, provenientes do sinal do aparelho junto à frequência energética que a bateria dos celulares emite. De acordo com os cientistas, a frequência emitida por esses aparelhos é responsável por piorar a qualidade do sêmen masculino.
“Essa radiação que os celulares emitem é considerada a grande vilã na fertilização e na qualidade seminal dos homens”, afirma a doutora Jacira Ribeiro Campos, biomédica da clínica de reprodução assistida Pró Nascer, no Rio de Janeiro, em entrevista ao Opinião & Notícia.
A pesquisa aponta que guardar o celular a menos de 50 cm da região pélvica interfere na qualidade do esperma. O estudo feito com 106 homens revela que a qualidade do esperma era pior entre os homens que guardavam o aparelho celular no bolso da calça (47% deles).
O estudo reforça uma tendência que vem se apresentando em diversas pesquisas anteriores que relacionam o uso do celular com a qualidade do esperma masculino. “Existem 579 estudos relacionando a qualidade do espermatozoide com os hábitos de vida moderna”, afirma Jacira. “A maioria dos estudos relaciona a queda na qualidade seminal ao celular estar posicionado a menos de 50 cm da área genital”, acrescenta.
Jacira explica que o contato direto ou muito próximo com a região genital oferece risco de esterilidade pelo aumento da temperatura que os aparelhos celulares provocam. “A bolsa escrotal é externa ao corpo, porque a produção de espermatozoides acontece entre 35,5°C e 36,5°C, geralmente 1°C a menos que a temperatura corporal. Quando você superaquece essa área, você aumenta a produção de radicais livres no sêmen”.
Além da proximidade dos aparelhos com a área genital, a pesquisa aponta que falar ao celular por mais de uma hora ou utilizá-lo enquanto está ligado à corrente elétrica são fatores que também prejudicam a qualidade seminal masculina. “Quando o celular está no bolso, ele está em repouso. A partir do momento que você usa para conversar ou carregar, ele entra em atividade e a bateria do aparelho começa a esquentar. Nessas horas, eles estão emitindo muito mais radiação eletromagnética”, explica Jacira.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a piora na qualidade do sêmen significa a perda da motilidade dos espermatozoides (capacidade de se moverem), viabilidade (espermatozoides vivos) e queda na concentração de espermatozóides. De acordo com dados de 2010, houve uma redução de 80% na motilidade, 9% na viabilidade e uma pequena queda na concentração de espermatozoides no ejaculado de homens que passaram a conviver com o celular junto ao corpo.
A OMS aponta que para um homem ser considerado fértil, ele precisa apresentar em seu espermograma uma concentração mínima de 15 milhões de espermatozoides. Desta quantidade presente no esperma masculino, 40% deles devem estar móveis e 60% precisam estar vivos.
Estudo indica tendência mundial
Apesar dos resultados que o estudo apresenta, Jacira reforça que ele não é conclusivo e o celular não pode ser considerado o único responsável pela queda na qualidade do sêmen masculino nos últimos anos. “Podemos dizer que está ocorrendo uma tendência da piora da qualidade do esperma, mas nenhum cientista pode garantir que é o celular que está provocando isso”.
Jacira também afirma que o público pesquisado pelo estudo israelense não pode representar o total da população mundial, e com isso, os resultados não podem traçar um ponto final. “Cento e seis é um número muito pequeno para bilhões de habitantes”.
Para Jacira, o celular é um fator a ser somado a outros na relação com a infertilidade masculina. “O que a literatura mundial diz é que de 30 a 40% dos casos de infertilidade masculina são causados pela rotina estressante que o homem leva na vida moderna”, explica.
Fatores como a exposição à poluição, alimentação ruim, diminuição do tempo de sono, além do contato com outros aparelhos que emitam ondas eletromagnéticas – como tablets, notebooks, roteadores de internet, entre outros – contribuem negativamente para as divisões celulares.
“O homem tem uma produção diária de espermatozoides, diferentemente da mulher, que nasce com todos os óvulos prontos e vão sendo liberados a cada mês no ciclo da menstruação. A cada três meses, a população de espermatozoides é renovada. Quando você é submetido a todas essas interferências que são potenciais pra piorar a produção, você tem uma queda da qualidade do sêmen”, explica Jacira.
No entanto, Jacira não descarta a importância dos resultados de estudos recentes acerca da qualidade seminal estar aliada às ondas eletromagnéticas dos celulares. “Esse tipo de estudo sobre a qualidade do esperma pode ajudar a esclarecer porque aumenta a população infértil mundial ao longo dos anos”.
Manter os aparelhos celulares a uma distância considerada segura – pelo menos 50 cm longe da região pélvica –, transportando-os em bolsos de camisa, por exemplo, e reduzir o uso são formas de limitar o impacto de ondas eletromagnéticas de radiofrequência na produção seminal. Mas a principal recomendação de Jacira vai além dos celulares. “Manter uma boa qualidade de vida e reduzir a rotina estressante ajudam a melhorar a qualidade do esperma”
Por Nycolas Santana