Batalha de egos. No atual cenário da ópera, as novas prima-donas não estão mais no palco, e sim nos bastidores.
Agora, as sopranos e tenores estão sendo substituídos por protagonistas temperamentais que atuam mais nos bastidores. No mês passado, a estreia da ópera Giovanna d’Arco de Giuseppe Verdi no Teatro La Scala de Milão terminou com uma discussão, infelizmente exibida ao vivo por um canal de televisão, entre Moshe Leiser, o diretor artístico, e Riccardo Chailly, maestro e diretor musical do teatro. Leiser fez um comentário sarcástico, “parabéns maestro!”, ao qual Chailly não respondeu. Indignado, Leiser o chamou de “idiota” e de um “ser desprezível”.
Segundo o jornalista inglês Norman Lebrecht, Chailly iritara Leiser ao lhe pedir que fizesse uma mudança em uma determinada cena. O maestro não concordou que o dueto de amor combinaria com uma orgia de demônios no fundo do palco e a discórdia terminou em insultos. Como os demônios não constam da partitura original de Verdi e que Giovanna d’Arco (Joana d’Arc) foi uma heroína francesa profundamente religiosa e mais tarde canonizada, a objeção de Chailly parece razoável.
Mas essa não foi a única briga em que Chailly se envolveu; este mês outro diretor artístico, Graham Vick, foi convidado a deixar a produção do La Scala depois de discordar de Chailly em outra questão de interpretação.
Durante anos maestros e diretores artísticos trabalharam juntos, em estreita colaboração e com um mútuo respeito hierárquico. Hoje, maestros e diretores artísticos têm compromissos que os obrigam a viajar o mundo inteiro, o que lhes impede de conversar por um tempo mais longo antes do primeiro ensaio.
Essas tensões não surpreendem. Os maestros em geral procuram ser fiéis à partitura do compositor, ao passo que os diretores artísticos querem diferenciar suas produções do trabalho dos concorrentes. O que fazer então com as novas divas da ópera e suas brigas?
Na opinião de Serge Dorny, gerente geral da Ópera Nacional de Lyon, o papel do gerente será cada vez mais instrumental. Antes de serem tomadas quaisquer decisões a respeito de uma produção, muitas vezes dois ou três anos antes da estreia, o gerente terá de “avaliar se o maestro e o diretor artístico têm condições de trabalhar juntos como uma equipe”. Em caso de eventuais hostilidades, o gerente geral atuará como mediador.
Peter Gelb, gerente geral da Metropolitan Opera House de Nova York, já agiu algumas vezes como mediador entre grandes egos. Em suas palavras, seu papel é mais de um produtor de ópera, para garantir que as tensões não prejudiquem o trabalho, do que um administrador.
Fontes:
Opinião&Notícias
The Economist-Opera’s new prima donnas aren’t onstage, but behind the curtain