Arte – Escultura – Michelangelo

Pietà Rodanini - Foto: Studio Flashcom
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Michelangelo Buonarroti¹
Pietà Rondanini, 1552-64, Mármore, alt. 195 cm, Castello Sforzesco, Milão

Sobre esta peça, de uma contemporaneidade impressionante (alguém que não conheça não dirá que esta escultura é da segunda metade do século XVI…), apenas importa sublinhar que foi a última obra realizada por Miguel Ângelo; sobre o caráter inacabado da peça, pensa-se hoje que o artista quis que fosse assim mesmo… se se reparar, à esquerda da imagem aparece um outro braço, de um primeiro corpo de Cristo (“perfeito”…) que, entretanto, o artista abandonou.

¹Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni
* Caprese, Itália – 06 de Março 1475
+ Roma, Itália 18 de fevereiro de 1564

Michelangelo foi um dos cinco filhos de Ludovico de Lionardo Buonarroti Simoni e de Francesca, que morreu quando Michelangelo tinha seis anos.
Michelangelo foi entregue aos cuidados de uma ama-de-leite cujo marido era cortador de mármore na aldeia de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo atribuirá a este fato sua vocação de escultor.

Brincadeira ou não, o certo é que na escola enchia os cadernos de exercícios com desenhos, totalmente desinteressados das lições sobre outras matérias.
Por isso, mais de uma vez foi espancado pelo pai e pelos irmãs de seu pai, a quem parecia vergonhoso ter um artista na família, justamente uma família de velha e aristocrática linhagem florentina, mencionada nas crônicas locais desde o século XII.
E o orgulho familiar jamais abandonará Michelangelo.

Ele preferirá a qualquer titulo, mesmo o mais honroso, a simplicidade altiva de seu nome: “Não sou o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti”.
Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença.

Mas o aprendizado é breve – cerca de um ano -, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental.

Diz-se também que o motivo da saída do jovem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno.
Entretanto, nenhuma prova confirma essa versão.

Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnífico – riquíssimo banqueiro e protetor das artes em Florença mantinha nos jardins de São Marcos.Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente a mesa de seus filhos.

Michelangelo está em pleno ambiente físico e cultural do Renascimento italiano.
A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia Antiga, seu ideal de beleza – baseado no equilíbrio das formas -, sua concepção de mundo – a filosofia de Platão.
Michelangelo adere plenamente a esse mundo.

Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitológico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helênicos, mas um escultor grego de verdade.

Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos, reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo.Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio.Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas palestras sobre filosofia e estética.

Mas seu temperamento irônico, sua impaciência com a mediocridade e com a lentidão dos colegas lhe valem o primeiro – e irreparável – choque com a hostilidade dos invejosos.
Ao ridicularizar o trabalho de um companheiro, Torrigiano dei Torrigiani, vaidoso e agressivo, este desfechou-lhe um golpe tão violento no rosto que Michelangelo ficou com o nariz desfigurado.

Mancha que nunca mais se apagará da sua sensibilidade e da sua retina, a pequena deformação lhe parecerá daí por diante um estigma – o de um mundo que o escorraça por não aceitar a grandeza do seu gênio – e também uma mutilação ainda mais dolorosa para quem, como ele, era um sofisticado esteta, que considerava a beleza do corpo uma legitima encarnação divina na forma passageira do ser humano.

Em 1490, Michelangelo tem 15 anos.
É o ano em que, o monge Savonarola começa a inflamada pregação mística que o levará ao governo de Florença.
O anúncio de que a ira de Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites.
Lourenço, o Magnífico, morre em 1492.
Michelangelo deixa o palácio.
A revolução estoura em 1494.
Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza.

Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Médici, Michelangelo se acalma.
Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo.

Lê Petrarca, Boccaccio e Dante.
Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença.
Esculpe o Cupido Adormecido – obra “pagã” num ambiente tomado de fervor religioso, vai a Roma, onde esculpe Baco e Adônis Morrendo.

Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros “as vaidades e os anátemas”.

Logo, porém, a situação se inverte.
Os partidários do monge começam a ser perseguidos.
Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo, que também se fizera monge durante os sermões de Savonarola.
Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado.Michelangelo se cala.
Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos.
Mas esculpe a Pietá, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e clássicas.

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