António Ramos Rosa – Versos na tarde – 04/07/2015

Poema
António Ramos Rosa¹

Tinhas um nome de trigo e de silêncio
e no círculo da tua íris a melancolia
de um verde leve e de um lilás suave.
O teu sorriso cintilava como o oiro da penumbra
O vento da sombra despenteara-te os cabelos
e o negro ramalhete de uma madeixa esguia
pendia sobre a tua fronte pálida e indecisa

Aproximei-me do teu rosto como uma vogal branca
e acariciei-o como se acaricia uma nascente de linho
ou uma pequena estrela limpa uma andorinha branca
e com os meus dedos soletrei-lhe todas as minúcias
mágicas

Pronunciou então o meu nome num murmúrio de
seda
ou como um óleo da lua O meu sangue deslizou
sob uma chuva de pólen para o lábio de uma praia
entre a primavera e o outono da ternura

Minha pequena estrela que julgara perdida
erguia-se da água com os ombros esguios
e da fonte dos ventos mais suaves
como uma ânfora de linfa ou um ramo de oiro pálido

De Os animais do Sol – 2003
Ps. Mantida a grafia do português de Portugal

¹António Ramos Rosa
* Algarve, Portugal – 1924 d.C


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