Manoel de Barros – Versos na tarde

O Catador
Manoel de Barros ¹

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais – o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.

O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

¹ Manoel Wenceslau Leite de Barros
* Cuiabá, MT. – 19 de Dezembro de 1916 d.C

Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record – 2001, pág. 43.


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