João Cabral de Melo Neto – Versos na tarde – 13/03/2016

A Palo Seco
João Cabral de Melo Neto¹

Trechos do poema
( Quaderna – 1960 )

Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;

se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.

O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;

é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.

A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,

as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.

Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:

não de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.

¹João Cabral de Melo Neto
* Recife, Pe. – 9 de Janeiro de 1920 d.C
+ Rio de Janeiro, Rj. – 9 de Outubro de 1999 d.C

João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo.

Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre.

Nasceu no Recife, em 6 de janeiro de 1920, filho de Luiz Cabral de Melo e de Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo, de antigas famílias de Pernambuco e Paraíba. Pelo lado paterno é quarto neto de Antônio de Moraes e Silva, o Moraes do Dicionário, e primo de Manuel Bandeira e Mauro Mota.

Pelo lado materno é primo de Gilberto Freire e do historiador José Antônio Gonsalves de Melo.

Passou a infância nos engenhos “Poço do Aleixo”, município de São Lourenço da Mata, “Pacoval” e “Dois Irmãos”, município de Moreno.

Estudou no Recife com os Irmãos Maristas, primeiro no Colégio de Ponte d’Uchoa e depois no da Conde da Boa Vista.

Não tem curso superior, mas considera equivalente a uma Faculdade o que aprendeu com Willy Lewin e depois com Joaquim Cardozo.

Trabalhou numa companhia de seguros, na Associação Comercial de Pernambuco, no Departamento de Estatística do Estado, e, no Rio, para onde veio em fins de 1942, foi nomeado por concurso Assistente de Seleção do DASP (1943) e diplomata (1945).

Estreou na literatura em 1942 com Pedra do Sono.

Em 1947 foi servir em Barcelona, depois em Londres, Sevilha, Marselha, Madri, Genebra, Berna, Assunção.

Promovido a embaixador em 1976, foi nosso representante no Senegal até 1979, quando passou a representar o Brasil no Equador, onde ficou até 1981. Foi embaixador do Brasil em Honduras até 1984 e, em 1986, Cônsul Geral do Brasil na cidade do Porto (Portugal).

Casou-se no Rio em 1946 com Stella Maris Barbosa de Oliveira e tem cinco filhos.

Além dos estágios no Rio, viveu em Brasília, durante o governo Jânio Quadros, como chefe de gabinete do Ministro da Agricultura.

Foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras em 1968, na vaga de Assis Chateaubriand.

Poesia

– Pedra do sono.
– Os três mal-amados.
– O engenheiro.
– Psicologia da composição com a fábula de Anfion e Antiode.
– O cão sem plumas.
– O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife.
– Dois parlamentos.
– Quaderna.
– A educação pela pedra.
– Museu de tudo.
– A escola das facas.
– Auto do frade.
– Agrestes.
– Crime na Calle Relator.
– Primeiros poemas.
– Sevilha andando.

Poemas Reunidos

– Poemas reunidos.
– Duas águas.
– Terceira feira.
– Poesias completas.
– Poesia completa.
– Museu de tudo e depois.

Antologias

– Poemas escolhidos.
– Antologia poética.
– Morte e vida severina e outros poemas em voz alta.
– O melhor da poesia brasileira (Drummond, Cabral, Bandeira, Vinicius).
– João Cabral de Melo Neto.
– Poesia crítica.
– Morte e vida severina. Litografias de Liliane Dardot.
– Os melhores poemas de João Cabral de Melo Neto.
– Poemas pernambucanos.
– Poemas sevilhanos.

Prosa

– Considerações sobre o poeta dormindo.
– Joan Miró.
– O Arquivo das Índias e o Brasil.
– Poesia e composição.

Filmes

– O curso do poeta. Produtores: Fernando Sabino e David Neves. Roteiro e direção de Jorge Laclette, 1973.
– Morte e vida severina: um filme documento. Direção de Zelito Vianna, 1976.
– O mundo espanhol de João Cabral de Melo Neto. Produção e direção de Carlos Henrique Maranhão,1979.
– Morte e vida severina. Direção de Walter Avancini. TV Globo, 1981.
– O ovo de galinha. Recitado por Ney Latorraca. TV Globo, 1980.

Discografia

– Poesias – Murilo Mendes e João Cabral de Melo Neto. Lp 010. Festa, Discos Ltda., 1956.
– O Teatro da Universidade Católica de São Paulo apresenta Morte e vida severina. P. 932.900 L., Nancy, 1966.
– Morte e vida severina – Música de Chico Buarque de Holanda, Car 4002, Caritas.
– João Cabral de Melo Neto por ele mesmo. IG 79.029. Festa, Serie de Lux. s/d.
– Poemas de João Cabral de Meto Neto. 2 discos. Som Livre, 1982.

Ópera

– Severino: Auto de Navidad – Música de Salvador Moreno.Ópera de Bellas Artes, México. 1966 (Apresentado antes no Teatro Lyceu de Barcelona).

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