Boa noite
Poema
Emily Dickinson ¹
Sépala, pétala, espinho.
Na vulgar manhã de Verão –
Brilho de orvalho – uma abelha ou duas –
Brisa saltando nas árvores –
– E sou uma rosa!
Ter medo? De quem terei?
Não da Morte – quem é ela?
O Porteiro de meu Pai
Igualmente me atropela.
Da Vida? Seria cômico
Temer coisa que me inclui
Em uma ou mais existências –
Conforme Deus estatui.
De ressuscitar? O Oriente
Tem medo do Madrugar
com sua fronte sutil?
Mais me valera abdicar!
A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.
Experiência para mim
É cada qual que eu encontro.
Será que contém um fruto?
A Imagem de uma Noz
Aparece numa Árvore,
Igualmente plausível;
Mas Miolo é requisito
Para esquilos e p’ra Mim.
O Fado mata-o, mas ele não caiu –
Dos dois – o Fado tombou.
E nas mais terríveis varas empalado –
A tudo neutralizou.
Morde-O e sapa-lhe o mais firme Avanço
Mas, quando o Pior passou,
E Ele, impassível, o fitou nos olhos,
Por Homem o aceitou.
¹ Emily Dickinson
* Boston, Usa – 10 de Dezembro de 1830
+ Boston, Usa – 15 de Maio de 1886