Cassiano Ricardo – Versos na tarde

Canção para poder viver
Cassiano Ricardo ¹

Dou-lhe tudo do que como,
e ela me exige o último gomo.

Dou-lhe a roupa com que me visto
e ela me interroga: só isto?

Se ela se fere num espinho,
O meu sangue é que é o seu vinho.

Se ela tem sede eu é que choro,
no deserto, para lhe dar água:

E ela mata a sua sede,
já no copo de minha mágoa.

Dou-lhe o meu canto louco;
faço um pouco mais do que ser louco.

E ela me exige bis, “ao palco”!

¹ Cassiano Ricardo Leite
* São José dos Campos, SP. – 26 de Julho de 1895
+ Rio de Janeiro, RJ. – 14 de Janeiro de 1974


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