Tolo
Baudelaire¹
Eu nunca iria deixá-la
Será que o caminho do meu coração é me machucando?
Eu tenho que ficar com o meu orgulho
Eu sei como me esconder
Só há tristeza e dor.
Estou chorando na chuva
Se eu esperar uma nuvem no céu
Você saberia, da chuva de lágrimas em meus olhos.
Mas eu nunca iria contar isto,
Eu amo você.
Então através da mágoa estarei chorando na chuva
Gotas de chuvas reprovando o céu.
Você nunca desejaria que me ausentasse da tristeza,
Mas desde então, nós não estamos mais juntos
Eu esperaria pela tempestade, para esconder as minhas lágrimas.
Gostaria que você nunca me conhecesse
Em poucos dias quando o choro acabar
Eu vou usar um belo sorriso e caminhar para o sol
Eu posso ser um tolo
Mas posso cultivar esse sonho, de tê-la em meus braços.
¹Charles Pierre Baudelaire
* Paris, França – 09 Abril 1821 d.C
+ Paris, França – 31 Agosto 1867 d.C
Baudelaire recomendava aos seus leitores que se embriagassem, de vinho, poesia ou virtude, para não sentir “o fardo horrível do Tempo”.
Famoso por suas poesias do Livro Flores do Mal, influenciou toda a poesia simbolista mundial e lançou as bases da poesia moderna.
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Aos 6 anos fica órfão de pai e, pouco mais de um ano depois, a mãe casa-se novamente com um major: este acontecimento causará em Baudelaire um trauma cujas conseqüências repercutirão em toda sua vida.
Em 1832, o padrasto é promovido a tenente-coronel e transferido para Lyon, matricula Baudelaire no Colégio Real daquela cidade, mas em 1836 retorna a Paris onde seu padrasto fora chamado para um cargo junto ao Estado Maior.
Começa então a freqüentar o colégio “Louis lê Grand” onde, apesar de uma expulsão, consegue passar no baccalauréat em 1839, mesmo ano em que o padrasto é nomeado general.
Nessa mesma época datam os primeiros ensaios poéticos e a colaboração anônima no jornal satírico Corsaire Satan.
Em 1840, conflitos familiares levam o jovem poeta a morar sozinho na pensão Lévêque Bailly, onde conhece os poetas Gustave lê Vavasseur e Enerts Prarond, e inicia um relacionamento com Sarah, uma judia cujo nome de guerra como prostituta era Louchette.
O padrasto odiado, preocupado com a vida libertina de Baudelaire, consegue convencê-lo a viajar para o Oriente: assim cumprindo o périplo da África, primeiramente na ilha Maurício, em seguida na Ilha da Reunião, mas volta para França em fevereiro de 1842.
Atingindo a maioridade recebe a herança do pai falecido, mas a superestimando passa a viver num apartamento na Ilha de Saint Louis e começa um relacionamento com a mulata Jeanne Duva, figurante no teatro da Porte Saint Antoine; mas tendo como ocupação maior a prostituição.
Faz amizades com Nerval, Balzac, Gautier e Banville, freqüenta o “Club dês Hashishins”, um grupo de fumantes de haxixe que se reunia no Hotel Pimodan, onde passa a morar.
Inicia uma vida depravada que vai sugando de forma selvagem o patrimônio.
Familiares do jovem poeta pedem que seja declarado incapaz pelo tribunal, que o acaba colocando sob a tutela de um curador, o tabelião Désiré Ancelle.
Em 1845 publica Saison de 1845, publica também em varias revistas os primeiros poemas que iniciarão LÊS FLEURS DU MAL.
No mesmo ano tenta um suicídio frustrado que o faz momentaneamente se aproximar da família.
Já em 1846 publica o Salon de 1846 no qual crítica sem piedade Vernet e exalta Delacroix; em 1847, uma revista publica La Fanfarlo.
Inicia uma relação turbulenta com a atriz de teatro Marie Daubru, ficando ao lado dela até quando, velha e doente, não mais conseguirá levantar da cama.
Começa então uma paixão por Apollonia Sabatier, chamada de “LA Presidente”, animadora de um dos mais famosos salões artísticos da época.
Em 1857 publica uma série de 18 poesias.
Mas 1857 é o ano mais importante da produção literária de Baudelaire, no dia 25 de junho são publicadas Lês Fleurs du Mal que é logo violentamente atacado por Lê Figaro, o livro é recolhido poucos dias depois sob acusação de obscenidade e é condenado a um multa de 300 francos (reduzidos depois para 50) e o editor a uma multa de 100 francos e, mais grave, seis poemas devem ser suprimidos da publicação, condição sem a qual a obra não poderá voltar a circular.
Sua admiração por Apollonia que havia correspondido seus cortejos, começa a esfriar, rebaixada da condição de musa para amante, não poderá ser mais para ele uma “Madonna”.
O falecimento do padrasto favorece uma certa reaproximação com a mãe visitando-a vez ou outra e escrevendo-lhe cartas carinhosas e desesperadas.
A saúde de Baudelaire fica precária em conseqüência de uma sífilis contraída na juventude, que o leva recorrer ao éter e ao ópio.
Em 1860 sai a segunda edição de Lês Fleurs du Mal.
Baudelaire se candidata a cadeira da Academia antes ocupada por Lacordaire, fato que provoca uma forte manifestação negativa pela imprensa parisiense e, no ano seguinte, seguindo conselho de Saint Beuve, retira sua candidatura.
Desapontado pela incompreensão dos seus compatriotas, deixa Paris e viaja para Bélgica mas não obtém o sucesso almejado.
Retorna para a França onde sua situação financeira despenca e o leva a refugiar-se na Bélgica, os sinais da doença tornam-se mais evidentes com náuseas e vertigens.
Em 1866 sai na Bélgica mais uma obra sua ,mas no dia 15 de março daquele ano o poeta cai no chão da igreja de Saint Loup, vítima de um ataque de paralisia com sintomas de afasia.
Num desespero materno sua mãe rompe todos os obstáculos e chega ao encontro do filho no dia 2 de julho, removendo-o para Paris.
Embora lúcido, perde completamente a fala e a paralisia progride velozmente até que no dia 31 de agosto de 1867, após longa agonia morre nos braços da mãe.
Baudelaire marcou com sua presença as últimas décadas do século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista.
De sua maneira de ser originaram-se na França os poetas “malditos”.
De sua obra derivaram os procedimentos anticonvencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, o intelectualismo de Mallarmé, a ironia coloquial de Corbière e Laforgue.
Quase toda a crítica moderna concorda que Baudelaire inventou uma nova estratégia da linguagem.
Erich Auerbach observou que sua poesia foi a primeira a incorporar a matéria da realidade grotesca a linguagem sublimada do romantismo.
Nesse sentido Baudelaire criou a poesia moderna, concedendo a toda realidade o direito de ser submetida ao tratamento poético.