Adélia Prado – Versos na tarde – 03/03/2016

Sem título
Adélia Prado¹

Meu espírito – que é o alento de Deus em mim – te deseja
pra fazer não sei o que com você.
Não é beijar, nem abraçar, muito menos casar
e ter um monte de filhos.

Quero você na minha frente,
extático – Francisco e o Serafim, abrasados -,
e eu para todo o sempre
olhando, olhando, olhando…

¹Adélia Luzia Prado Freitas
* Divinópolis, MG – 13 de dezembro de 1935 d.C
Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis”. Adélia é também referência constante na obra de Rubem Alves.

Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que sua carreira de escritora tornou-se sua atividade central.

Em termos de literatura brasileira, o surgimento de Adélia representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos.

Silêncio poético
A literatura brasileira, além de ser fortemente marcada pela presença de Adélia Prado, também foi marcada por um período de silêncio poético no qual a escritora “emudeceu sua pena”. Depois de O Homem da Mão Seca, de 1994, Adélia ficou cinco anos sem publicar um novo título, fase posteriormente explicada por ela mesma como “um período de desolação.

São estados psíquicos que acontecem, trazendo o bloqueio, a aridez, o deserto”. Oráculos de Maio, uma coletânea de poemas, e Manuscritos de Felipa, uma prosa curta, marcaram seu retorno, ou a quebra do silêncio. Rubem Alves refere-se a esses silêncios em A Festa de Babbete.

Obras

Poesia
Bagagem, Imago – 1975
O Coração Disparado, Nova Fronteira – 1978
Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira – 1981
O Pelicano, Rio de Janeiro – 1987
A Faca no Peito, Rocco – 1988
Oráculos de Maio, Siciliano – 1999

No livro Cacos para um Vitral, Adélia Prado usa a metáfora do vitral para explicar a relação entre a vida e Deus.

Prosa
Solte os Cachorros, contos, Nova Fronteira – 1979
Cacos para um Vitral, Nova Fronteira – 1980
Os Componentes da Banda, Nova Fronteira – 1984
O Homem da Mão Seca, Siciliano – 1994
Manuscritos de Felipa, romance, Siciliano – 1999
Filandras, contos, Record – 2001

Antologia
Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira – 1978
Palavra de Mulher, Fontana – 1979
Contos Mineiros, Ática – 1984
Poesia Reunida, Siciliano – 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O Pelicano e A Faca no Peito).
Antologia da Poesia Brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim – 1994.
Prosa Reunida, Siciliano – 1999

Balé
A Imagem Refletida – Ballet do Teatro Castro Alves – Salvador – Bahia – Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.

Em toda a obra de Adélia, fica evidente a sua fé católica.

Parcerias
A Lapinha de Jesus (em parceria com Lázaro Barreto) – Vozes – 1969
Caminhos de Solidariedade (em parceria com Lya Luft, Marcos Mendonça e outros) – Gente – 2001.

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