Multidão
Ada Negri¹
Uma folha tomba do plátano,
um frêmito sacode o cimo do cipreste,
És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra,
penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam,
para as águas dormentes do lago me atraem,
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros
a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra,
não mais pesa o corpo nos ares,
transporta-o a vertigem obscura
És tu que me atravessas, tu.
¹Ada Negri
* Lodi, Milão, Itália – 3 de Fevereiro de 1870
+ Milão, Itália – 11 de Janeiro de 1945