Web: a Babel cibernética

Torre de Babel,Internet,Blog do MesquitaA revista britânica The Economist publicou um artigo sobre o fenômeno do ultra-nacionalismo na Web indicando que o espaço cibernético tenderia a se transformar num ambiente caótico, ao melhor estilo Torre de Babel.

O artigo parte de dados reais como a multiplicação de websites e weblogs sobre reivindicações nacionalistas e movimentos xenófobos nos quatro cantos do mundo, em especial na Europa e na Ásia Central.

Menciona também uma pesquisa do Centro Simon Wiesenthal, de Israel, indicando que o número de páginas que promovem o ódio e a xenofobia na internet triplicou entre 2008 e 2015.

The Economist tem razão ao constatar o crescimento vertiginoso da circulação de material pregando a intolerância na internet, mas peca ao contextualizar o problema, porque deixa a porta aberta para um outro tipo de absurdo, o de culpar o mensageiro quando a noticia é desagradável.

A multiplicação da xenofobia online é uma conseqüência da facilidade na publicação de conteúdos na Web e da formação quase instantânea de redes, vinculando pessoas e instituições. Este é um processo que veio para ficar, por mais que nos custe admiti-lo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]

Quando Gutenberg criou a impressão gráfica a partir de tipos móveis, a primeira grande conseqüência da descoberta foi a divulgação da rebelião de Martinho Lutero contra a cúpula da Igreja Católica, multiplicando os focos de contestação à hegemonia da cúria romana.

Foi o primeiro grande desdobramento político da crise gerada pela inovação gráfica e hoje ninguém se expõe ao ridículo de desmerecer Gutenberg por isto.

O que a Web está fazendo é desnudar o mundo em que vivemos. A xenofobia, o ultra-nacionalismo e a apologia da violência não surgiram com a rede.

Eles simplesmente só eram percebidos quando atingiam um ponto crítico, porque os recursos para circulação de informações eram reduzidos e centralizados.

Agora tudo está escancarado por conta da internet, criando uma sensação de medo e insegurança gerados pela nossa falta de intimidade e conhecimento em relação a um ambiente gerado por um processo inovador que não tem mais volta.

Temos a impressão de estarmos revivendo a Babel bíblica tal a cacofonia informativa que começa a se avolumar dentro da rede.

Mas há também o outro lado da moeda. Todo o processo de massificação leva a vulgarização e portanto a desvalorização, que na Web é sinônimo de desatenção.

Só vão sobreviver os weblogs e sites que criarem diferenciais ou agregarem valor informativo, seja pelo uso de softwares (como o RSS, por exemplo) ou pela contextualização, fruto de pesquisa e do conhecimento.

Este processo implica a necessidade de reflexão, reconhecidamente o melhor antídoto para a xenofobia e a intolerância.
Postado por Carlos Castilho – Observatório da Imprensa

Share the Post:

Artigos relacionados