É comum que as redes sociais sejam tomadas por uma onda de solidariedade após ataques extremistas, com hashtags que vão desde “Pray for…” (“Reze por…”) a “I am” (“Eu sou…”) passando por filtros para mudar fotos de perfil no Facebook.
Mas não foi isso o que se viu após o ataque mais letal da história recente da Somália, no leste da África, no último sábado.
A repercussão foi significativamente inferior àquela gerada por atentados semelhantes nos Estados Unidos e na Europa.
O ataque deixou pelo menos 300 mortos, quando um caminhão-bomba explodiu na capital do país, Mogadíscio. A explosão foi tão forte que alguns corpos não puderam ser identificados.
Nas redes sociais, alguns usuários começaram a questionar a falta de solidariedade e a escassez de hashtags sobre a Somália.
Khaled Beydoun, um professor de Direito da Universidade de Detroit Mercy, nos Estados Unidos, criticou a profundidade da cobertura da imprensa nas redes sociais em um post que foi amplamente compartilhado nas redes sociais.
“Odeio comparar tragédias humanas, mas a imprensa tradicional me obriga a fazer isso”, escreveu ele.
“Não há slogans dizendo ‘nós somos Mogadíscio’ nem imagens chamativas circulando pelas redes sociais em demonstração de solidariedade”, acrescentou.
Beydoun não é o único a fazer a crítica.
Entre sábado, o dia do ataque, e as primeiras horas de segunda-feira, a hashtag #IAmMogadishu (“#EuSouMogadíscio”, em português) gerou 200 tuítes.
Já na terça-feira 13 mil tuítes nas redes sociais reclamaram da falta de atenção da imprensa em relação aos ataques.
Apesar da aparente falta de solidariedade do Ocidente com a Somália nas redes sociais, os próprios somalis estão se organizando na internet.
Voluntários criaram um grupo para ajudar a identificar as vítimas chamado Gurmad252, com uma página no Facebook e um site.
Gurmad significa “venha ajudar uns aos outros” em somali e 252 é o código internacional da Somália.
Um homem de nacionalidade somali criou uma página de financiamento coletivo para pagar pelo serviço de ambulâncias a pessoas afetadas. Em pouco tempo, alcançou seu objetivo inicial de US$ 12 mil (R$ 37 mil).
Além disso, milhares de pessoas tomaram as ruas de Mogadíscio para protestar contra o Al-Shabab, grupo extremista acusado pelo atentado, com bandanas vermelhas amarradas à cabeça.
“As bandanas representam o sangue do meu povo que foi morto na explosão”, disse uma manifestante ao correspondente da BBC na África, Alastair Leithead.
O ataque
Um caminhão cheio de explosivos foi detonado destruindo hotéis, prédios de governos e restaurantes em uma área movimentada da capital somali, matando pelo menos 300 pessoas e deixando outras centenas feridas.
Duas pessoas foram presas no ataque que tinha como objetivo atacar o aeroporto internacional de Mogadíscio, onda há várias embaixadas, segundo autoridades locais.
O ataque foi atribuído ao al-Shabaab, um grupo extremista islâmico local e uma das organizações extremistas mais letais do mundo dos últimos anos.
No país, o atentado foi descrito como o “11 de setembro da Somália”, em referência ao ataque contra as Torres Gêmeas nos EUA.
* Com reportagem de Rozina Sini, da BBC.