Um ano antes do Estado Islâmico estabelecer seu califado extremista na Síria e no Iraque, Abdulmunam Almushawah notou uma mudança preocupante a mais de 1.600 quilômetros de distância, na Arábia Saudita.
“Entendemos que eles estiveram construindo a realidade de hoje”, disse Almushawah em uma entrevista em sua base em Riad. “O que acontece na vida real tem uma sombra anterior no mundo eletrônico”.
Os EUA e seus aliados dizem que estão vencendo a luta contra o Estado islâmico, retomando território conquistado no ano passado e libertando cidades como Kobane na Síria e Ramadi no Iraque. No entanto, está perdendo terreno em uma área na qual os ataques aéreos não podem alcançar, um espaço em grande parte controlado por empresas sediadas nos Estados Unidos.
Executivos da Google Inc. e Facebook Inc., junto com funcionários do governo agora estão reunindo apoio para uma resposta combinada.
Território Digital
As informações recolhidas por Almushawah mostram como é difícil pegar as informações atuais e transformá-las em previsão.
Os jihadistas desenvolveram um nível de conhecimento técnico que permite a utilização da Internet e das redes sociais sem serem pegos por agências de inteligência, disse a Europol em um relatório divulgado na segunda-feira.
A campanha de Internet do Estado Islâmico, também conhecida como ISIS, ISIL ou Da’esh, ajudou a atrair milhares de soldados estrangeiros e inspirou ataques isolados.
O de San Bernardino, Califórnia, mostrou como a Internet ajuda a “fazer crowdsource de terrorismo, para vender assassinatos”, disse James Comey, diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI). Envolveu pessoas “consumindo veneno pela Internet”, disse ele em um discurso duas semanas após o ataque de dezembro.
Almushawah notou mais recentemente um aumento no diálogo envolvendo a Indonésia. Uma bomba em Jacarta reivindicada pelo Estado Islâmico deixou oito pessoas mortas este mês.
Nova Dinâmica
Um vídeo de 17 minutos aparentemente feito pelo Estado Islâmico no domingo mostrou imagens supostamente de um dos nove terroristas que participaram dos ataques de 13 de novembro em Paris, no território controlado pelo grupo, antes dos ataques, enquanto declarava que empresários e líderes políticos franceses são alvos da agrupação.
O vídeo recebeu o título de: “Mate onde encontrá-los”.
Empresas de rede social estão cooperando com as agências de inteligência ocidentais, mas caminham sobre a linha tênue entre ajudar na luta contra o extremismo e desencadear uma enxurrada de demandas de países em todo o mundo pedindo para apagar postagens.
Contra ataque
Com a expansão desse alcance on-line, também aumentaram os esforços das agências de segurança de combatê-la, como fizeram com a Al-Qaeda.
Os EUA este mês anunciaram sua Countering Violent Extremism Task Force, um novo grupo que irá integrar o esforço em casa, e outra organização para fazer a ligação com os parceiros internacionais.
A Casa Branca disse no dia 8 de janeiro, que a equipe de segurança do presidente Barack Obama se reuniu com empresas de tecnologia na Califórnia.
A unidade especializada da Polícia Metropolitana de Londres remove 1.000 posts de conteúdo extremista a cada semana, em média, enquanto a Europol criou uma equipe em junho, com a missão de combater a presença do Estado Islâmico nas redes sociais. Sua missão era fechar qualquer nova conta afiliada ao Estado Islâmico duas horas depois de ter sido criada.
O desafio é eliminar o recrutamento e incitamento na Internet e nas redes sociais, mantendo fontes suficientes de inteligência para diminuir o apelo e frustrar ataques.
Alma extremista
De volta a Riad, a unidade de Almushawah, chamada Assakina, iniciada em 2003 em um país cuja própria marca conservadora do Islã tem sido acusada de abastecer a jihad. Quinze dos 19 autores do 11 de setembro de 2001, os ataques contra os EUA, eram cidadãos sauditas.
Enquanto existe um potencial para o sucesso, o esforço ainda tem como alvo apenas um punhado relativo de militantes, disse Almushawah.
O que é necessário é uma abordagem global, afirma ele.
“O ciberespaço é a alma do Estado Islâmico”, disse Almushawah.
Donna Abu-Nasr e Jeremy Hodges, da Bloomberg