Vivemos em plena era digital, também chamada de cibercultura ou sociedade de informação. A palavra da moda é interatividade, e o computador virou artigo doméstico.
Mas não para todos. O “Mapa das Desigualdades Digitais no Brasil“, publicação divulgada em parceria entre o MEC, o Instituto Sangari e a Ritla – Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, aponta que apenas 17% (ou 32 milhões de pessoas) no Brasil tinham computador em casa com acesso à internet em 2005. Em comparação, na Suécia, 76,2% da população acessavam a internet.
O sonho da Inclusão digital
Em 2006, havia 659 mil computadores, num universo de 56,5 milhões de alunos, e apenas 2,5% dos estudantes mais pobres chegavam a ele. Mas esta realidade está mudando. O governo federal lançou o programa “Um computador por aluno”, que deve distribuir 150 mil máquinas para 300 escolas de até 500 alunos espalhadas pelo país.
Já em várias escolas privadas, realidade virtual, robótica, lousas eletrônicas e laptops para cada aluno vêm se tornando chamarizes para pais preocupados em manter os filhos “antenados” com os novos tempos. Será que tanta tecnologia contribui efetivamente para a melhoria da qualidade do ensino?
Segundo um estudo da Unicamp, publicado em setembro do ano passado, não. Realizado em conjunto com o Instituto de Ciências Humanas e o Instituto da Computação e a Faculdade de Engenharia Mecânica, o estudo associa uma queda no desempenho dos alunos de 4ª a 8ª séries e do 3º ano do ensino médio ao uso intenso do computador.
Mas, a culpa é realmente da máquina?
Computador – como usar?
A doutora em Educação Andréa Ramal, especialista em tecnologias educacionais, acredita que o problema é com quem usa estes recursos: o homem. “Não basta equipar as escolas, é preciso formar o professor. Ele precisa se tornar um arquiteto cognitivo, capaz de orientar o percurso de aprendizagem dos alunos, estimulando-os a criar redes, a compartilhar informação e a gerir o conhecimento”.
É claro, que, se mal utilizadas, as tecnologias podem atrapalhar o aprendizado. “O uso da tecnologia deve estar a serviço do crescimento do aluno, e não ser um fim em si mesmo. Não basta simplesmente pedir ao aluno que ‘pesquise na internet’; cada atividade realizada no computador deve servir a algum objetivo pedagógico”.
O problema é que, em muitos casos, quando o professor usa um computador para passar slides em PowerPoint, só com o intuito de “ilustrar” a sua aula, está encarando a máquina como mero aparato ou ferramenta, uma visão, segundo a professora, influenciada pelo tecnicismo norte-americano da década de 70.
O papel estratégico do gestor escolar
Hoje, o conceito de tecnologia educacional considera a televisão, o computador, o rádio e até o celular como linguagens, como meios culturais de aprendizagem. “A sala de aula deve ser um ambiente de comunicação. Um espaço interativo, aberto em múltiplas janelas, no qual alunos e professores aprendam uns com os outros.
Para isso, é necessário rever a forma como as tecnologias são incorporadas na formação do professor. Não basta ser um usuário do pacote Office, ele precisa aprender a usar as tecnologias como novo ambiente de aprendizagem e de construção de conhecimento”, defende a professora Andréa, que também é diretora executiva da ID Projetos Educacionais.
Neste processo de mudança, o gestor escolar é peça fundamental, pois se ele não abre as portas da escola e as mentes do seu corpo docente para os novos paradigmas educacionais, nada acontece. “No caso da escola pública, o envolvimento das Secretarias de Educação é fundamental, pois a questão não é simplesmente metodológica, e sim de políticas públicas”, conclui.
Fonte:Opinião e Notícia