Os dois principais chefes do banco britânico HSBC pediram desculpas publicamente nesta semana por práticas “inaceitáveis” cometidas por sua filial na Suíça.
Eles disseram que as desculpas se referiam à falta de controle da instituição sobre operações da filial em anos anteriores. As declarações foram dadas pelo chefe executivo Stuart Gulliver e o presidente do banco, Douglas Flint.
Eles afirmaram que muitas melhorias de procedimentos foram colocadas em prática para aumentar o controle sobre as atividades do banco.
O HSBC é o atual foco de um escândalo bancário iniciado com o vazamento de dados de 106 mil clientes de 203 países que mantinham contas na Suíça.
Autoridades de diversos países investigam supostas evidências de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro envolvendo correntistas.
Parte dos indícios apontaria ainda para uma “ajuda” dada por funcionários do banco para que clientes ricos evitassem pagar milhares de dólares em impostos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
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Vazamentos
A onda de suspeitas sobre o HSBC surgiu em 2007, quando Hervé Falciani, ex-funcionário da área de tecnologia da informação da filial do banco na Suíça obteve os dados de 106 mil clientes de alto perfil em cujas contas tramitavam bilhões de euros.
Entre eles estavam empresários, políticos, estrelas do showbizz e esportistas, mas também traficantes de drogas e armas e suspeitos de ligações com atividades terroristas.
Os dados se referiam a movimentações financeiras ocorridas entre os anos de 2005 e 2007.
Uma parte desses clientes se aproveitava do sigilo bancário do país para manter contas não declaradas – com o provável objetivo de evitar pagamento de impostos ao até mesmo lavar dinheiro.
Falciani fugiu da Suíça com o material, a fim de evitar ser processado pelas leis locais e acabou entregando os dados para autoridades francesas em meados de 2007.
Investigações
Com base nos dados obtidos com Falciani, a França abriu uma investigação sobre cidadãos franceses que estariam mantendo contas secretas na Suíça.
Mas os dados dos documentos deram origem também à chamada “Lista Lagarde”, que resultou em prisões e tentativa de recuperação de recursos financeiros na Grécia, na Espanha, nos Estados Unidos, na Bélgica e na Argentina.
O governo britânico recebeu a lista e identificou mais de mil sonegadores. Cerca de 135 milhões de libras foram recuperadas silenciosamente e uma pessoa foi detida.
O jornal francês Le Monde também deve acesso aos dados e repassou os documentos para um consórcio internacional de jornalistas chamado ICIJ.
As investigações culminaram com as próprias autoridades suíças investigando a filial do banco. Neste ano, policiais foram às instalações da empresa no país para recolher evidências sobre eventuais crimes cometidos.
Brasil
Os documentos vazados por Falciani também incluem dados sobre 5,5 mil contas secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, com um saldo total de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões).
O Brasil, de acordo com o consórcio de jornalistas ICIJ, está em nono lugar na lista de 203 países com a maior quantia em dólares nos documentos vazados da filial suíça.
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Como as contas eram usadas
Manter contas em outros países não é ilegal, mas muitas pessoas as usam para esconder dinheiro das autoridades fiscais de seus países.
E, apesar de existirem formas legais para se pagar menos impostos, é ilegal esconder dinheiro para sonegar impostos.
Segundo as acusações, o banco não somente teria feito vista grossa para a evasão de impostos como também teria ajudado ativamente alguns clientes a violarem a lei.
Quando foram introduzidas novas leis na Europa em 2005 obrigando bancos suíços a recolher impostos de contas não declaradas e repassá-los às respectivas autoridades fiscais, o banco teria escrito aos clientes oferecendo formas de contornar os tributos.
Em um caso mostrado no programa Panorama, da BBC, o HSBC deu a uma família abastada um cartão de crédito internacional para fazer saques de dinheiro não declarados em caixas automáticos no exterior.
O HSBC nega que os donos das contas listadas estavam evadindo impostos, mas autoridades francesas concluíram, em 2013, que 99,8% de seus cidadãos na lista vazada provavelmente praticavam evasão fiscal.
Delator
Os motivos que levaram Falciani a vazar os dados bancários ainda geram polêmica. Cinco anos depois de começar a divulgar as informações, ele disse em entrevista à BBC que se sente “vingado” e “aliviado” pelo fato de o escândalo ter vindo à tona e estar sendo investigado em diversas partes do mundo.
Ele disse também que a história ainda está longe de chegar ao fim, porque uma grande quantidade de dados brutos obtidos por ele ainda não teria sido analisada.
Por outro lado, seus críticos questionam as intenções do informante. Muitos o acusam de ter tentado vender as informações – acusação que ele nega.
Fonte:BBC