Pelo visto a prática iniciada por outro tucano, o senador do PSDB Eduardo Azeredo, continua fazendo escola. O que é de causar espanto, é o silêncio das vestais tucanas – Artur Virgílio, Sérgio Guerra e cia. que não sobem a tribuna para denunciar a governadora Yeda Crusius.
Assim como fizeram em relação aos mensaleiros, aloprados e cuequeiros petralhas, é de se esperar que a mesma indignação seja manifestada pelos alvares membros do PSDB.
A grande mídia, também, não estampa nenhum tucano na capa e nas manchetes de jornais e revistas, com a tarja de “chefe de quadrilha”.
Por certo, aparecerá algum cardeal emplumado alegando que, delubianamente, foi somente uma questão de “despesas não contabilizadas”!
O que Se espera é que pelo menos a governadora venha a se explicar. A não ser que adote também a tática do “tô me lixando pra opinião pública”!
O editor
Gravações contêm indícios de caixa dois de Yeda
Desde que tomou posse, em janeiro de 2007, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), é assediada por denúncias. Uma delas, a existência de uma máfia que desviava verbas do Detran gaúcho, resultou em denúncia do Ministério Público. Corre na Justiça.
Outra, a de que a governadora adquirira uma mansão com verbas de má origem, foi investigada e desceu ao arquivo. De resto, a governadora tucana convive com a suspeita de ter escondido um caixa dois sob as arcas de sua campanha.
O repórter Igor Paulin escutou gravações que tonificam a suspeição relacionada ao caixa clandestino. Contou, nas páginas de “Veja“, o que ouviu.
Soam nas gravações as vozes de dois personagens que privaram da intimidade do tucanato gaúcho: o empresário Lair Ferst e o ex-servidor Marcelo Cavalcante.
Lair é um dos acusados de desviar verbas do Detran gaúcho. Marcelo foi assessor de Yeda entre 2002 e 2006. Coordenou a campanha dela.
Até fevereiro passado, Marcelo chefiava o escritório de representação do governo gaúcho em Brasília. Seu corpo foi encontrado boiando no Lago Paranoá.
A investigação policial aponta para o suicídio. Súbito, a voz do morto vem à tona nas gravações. Foram feitas por Lair Ferst. Registram 10 horas de conversa.
O repórter ouviu apenas um pedaço: 1h30. Recolheu desse trecho as seguintes revelações:
Marcelo Cavalcante diz a Lair Farst que Yeda recebeu dinheiro no caixa dois depois que a eleição terminou.
Relata que, terminado o segundo turno do pleito de 2006, ele próprio recolheu R$ 400 mil de dois fabricantes de cigarros.
R$ 200 mil vieram da Alliance One. Outros R$ 200 mil da CTA-Continental. Conta que entregou o numerário ao marido de Yeda, Carlos Crusius.
Ouvidos, executivos da Alliance One negaram a contribuição paralela. Exibiram um recibo que atesta a transferência de R$ 200 mil ao diretório gaúcho do PSDB.
A CTA-Continental diz que não doou nem no oficial nem no paralelo. Eis o que disse Allan Kardec Bichinho, presidente da empresa:
“Se me perguntar se me pediram dinheiro, direi que sim. Mas não levaram”.
O repórter tivera acesso às gravações faz 40 dias. Tardou em divulgá-las porque buscava um depoimento que as corroborasse. Obteve.
Chegou a uma pessoa chamada Magda Koegnikan. Vem a ser a ex-companheira de Marcelo, o colaborador de Yeda que feneceu nas águas do Paranoá.
Magda conversou com o repórter de “Veja” por cinco horas e meia. Contou que Marcelo soube da existência das gravações em novembro de 2007.
“Lair [Ferst] lhe mostrou as gravações e disse que as entregaria às autoridades para provar que os responsáveis pelos desvios no Detran eram integrantes do governo Yeda, e não ele”.
Segundo Magda, o companheiro caiu “em “depressão e passou a beber”. A revista reproduz, na forma de pergunta e resposta, parte do depoimento dela.
Vão a seguir alguns trechos:
– Como era a relação de Marcelo Cavalcante com Yeda Crusius?
Era assim: na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: “Marcelinho, precisamos arranjar R$ 10 mil para isso e aquilo”. E ele arranjava.
– Era ele, então, quem coletava doações?
Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius [marido da governadora]. No começo [da campanha], tinha de convencer as pessoas a colaborar. Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil […]. Só que esse dinheiro não entrava para o caixa.
– Ia para onde?
Olha, entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu R$ 400 mil de dois fabricantes de cigarro, R$ 200 mil de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa dois.
– Marcelo falava em caixa dois?
Até do caixa dois do caixa dois. Marcelo deu os R$ 400 mil reais a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam. Aí, Crusius apareceu e disse: “Quero me desculpar. Não conseguimos o dinheiro. Vamos precisar de mais um prazo. Espero sua compreensão”.
– Como Marcelo reagiu?
Foi tirar satisfações com Crusius. Ele sempre me repetia essa história. Contava que disse a Crusius: “Como não tem dinheiro? Entreguei na sua mão”. Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: “Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom”. Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida.
– O que foi feito dos R$ 400 mil?
Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os R$ 400 mil nisso.
– A casa da governadora?
É […].
– Quem gravou esses áudios?
[…] Lair Ferst. Ele ajudou Marcelo a arrecadar dinheiro. Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes. Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça.
– Marcelo avisou o governo Yeda?
Sim. Sugeriu que fizessem um acordo com Lair […].
– A senhora ouviu as gravações?
Ouvi. São conversas em barzinhos. Em janeiro, Marcelo foi procurado pela Justiça para confirmar se a voz nas gravações era dele e se tudo aquilo que ele dizia nelas era verdade. Estava com depoimento marcado entre a semana do Carnaval e a seguinte, mas morreu antes disso…
– Marcelo lhe disse que iria confirmar que a voz das gravações era dele?
Sim.