Palocci e o tráfego de informações

“O que não é moral não pode ser legal”
Agostinho de Hipona
* Tagaste, África 13 de novembro de 354 d.C
+ Hipona, África 28 de agosto de 430 d.C

O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, não saiu das manchetes nas edições de sexta-feira (20/5) dos jornais.

Mas há uma diferença no noticiário em relação aos dias anteriores: aparentemente, a informação de que sua empresa de consultoria prestou serviços muito bem remunerados a vinte clientes foi fornecida pelo próprio ministro.

Pelos serviços prestados a esses vinte clientes, a empresa do ministro faturou R$ 20 milhões em 2010, ano eleitoral, o que lhe teria permitido multiplicar por vinte o patrimônio pessoal.

Afora a curiosa repetição do número 20, o noticiário traz também uma novidade: não se percebe aquela avalanche de declarações de políticos oposicionistas, como aconteceu em denúncias anteriores contra integrantes do governo.

Outra diferença em relação a outras histórias: a imprensa tenta, mas não muito, descobrir os nomes das empresas que teriam sido responsáveis pelo fabuloso sucesso empresarial de Antonio Palocci.

Em geral o noticiário ataca os personagens do setor público envolvidos em casos suspeitos, mas não demonstra esforços para expor as empresas privadas envolvidas.

No caso do ministro da Casa Civil, o processo de blindagem realizado pelo governo é facilitado pelo desinteresse da oposição em alimentar o fogo.

Assuntos incômodos

Provavelmente, o noticiário teria amainado na sexta-feira se o próprio ministro não o tivesse alimentado com as informações que forneceu ao preparar um relatório a ser enviado à Procuradoria Geral da República.

Quase tudo que os jornais publicam tem essa origem.

Mas o “vazamento” de uma informação desse tipo só ocorre quando interessa a quem detém essa informação.

Palocci contratou uma grande empresa de relações públicas e assessoria de imprensa para administrar a crise.

Em casos como esse, normalmente os consultores recomendam oferecer alguma informação inofensiva para distrair a imprensa, enquanto se procura isolar os fatos eventualmente negativos.

Até mesmo a declaração de que “ex-ministros têm grande valor no mercado” deve ter sido parte dessa estratégia. A frase é uma tradução politicamente correta de “tráfico de influência”.

Agências de comunicação conseguem controlar rapidamente crises desse tipo porque sabe-se que a imprensa tem atualmente uma capacidade de investigação muito reduzida.

E sabe-se também que, assim como a oposição, a imprensa não quer discutir certos assuntos, como o que movimenta o noticiário em torno do ministro, porque também vive de traficar influência.

Por Luciano Martins Costa/Observatório da Imprensa

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