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Manoel de Barros – Versos na tarde

Mundo Pequeno Manoel de Barros ¹ I O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos. II Conheço de palma os dementes de rio. Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano. Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte. Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas. IV Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas, Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos de um mar extinto. Caminha sobre as conchas dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não tinha boca mesmo. “Sonora voz de uma concha”, ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares conversamentos de gaivotas. E passam navios caranguejeiros por ele, carregados de lodo. Sombra-Boa tem hora que entra em pura decomposição lírica: “Aromas de tomilhos dementam cigarras.” Conversava em Guató, em Português, e em Pássaro. Me disse em Iíngua-pássaro: “Anhumas premunem mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer”. Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas: “Borboletas de franjas amarelas são fascinadas por dejectos.” Foi sempre um ente abençoado a garças. Nascera engrandecido de nadezas. VI Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. – Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas… E se riu. Você não é de bugre? – ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas – Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de gramática. VI Toda vez que encontro uma parede ela me entrega às suas lesmas. Não sei se isso é uma repetição de mim ou das lesmas. Não sei se isso é uma repetição das paredes ou de mim. Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes? Parece que lesma só é uma divulgação de mim. Penso que dentro de minha casca não tem um bicho: Tem um silêncio feroz. Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra. ¹ Manoel Wenceslau Leite de Barros * Cuiabá, MT. – 19 de Dezembro de 1916 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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A camareira e o chefão do FMI

A camareira subversiva Ela jamais sonhou com a fama. No espaço de uma vida, não se tornaria uma celebridade nem em seu bairro, o Bronx – quanto mais no mundo. Africana, muçulmana, mãe de uma adolescente, a camareira de 32 anos que limpava as suítes do Sofitel em Nova York já achava seu green card um privilégio. Pelas fotos divulgadas na internet, não é especialmente bonita. Mas, para brancos poderosos e prepotentes, reúne qualidades de sedução particulares: é jeitosa, negra e faxineira. Nunca denunciaria um ataque sexual. Conhece seu lugar. Nafissatou Diallo é o nome da camareira que derrubou o francês Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-gerente do FMI e pré-candidato socialista à Presidência na França. Algemado e com a cara de tédio típica dos parisienses, DSK deixou pelos fundos o palco das finanças e da política (leia mais) . Ele se diz inocente. Mas, pelo encontro casual com Nafissatou em sua suíte de US$ 3 mil, encara agora sete acusações, de crimes sexuais a cárcere privado. Seria a camareira uma arma secreta de Sarkozy, o futuro papai do bebê de Carla, para tirar do páreo um adversário perigoso? O FMI nomeará um novo diretor, quem sabe uma diretora, se quiser evitar mulherengos. Os socialistas franceses estão escandalizados, mas na direção oposta. Criticam o abuso da polícia americana contra DSK, presumidamente culpado com base na palavra de uma empregada.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Eles são brancos e não se entendem. Existe um oceano, físico e cultural, entre os Estados Unidos e a França. A mídia francesa é leniente com os desvios na vida particular de seus políticos. Se DSK fosse denunciado por uma camareira em Paris, em nenhuma hipótese seria detido antes de ser julgado, por presunção de inocência. Nos EUA, há a presunção inicial de que a vítima fala a verdade. Me interesso mais pela camareira do que por DSK. Vi muitos se perguntando: será que o ex-diretor do FMI, conhecido pela habilidade em negociações, seria tão idiota e tresloucado a ponto de atacar a moça ao sair nu do banheiro? Mas começam a emergir casos semelhantes de mulheres menos corajosas que a africana. A loura jornalista francesa Tristane Banon, afilhada da segunda mulher de DSK, tinha 22 anos em 2002 quando diz ter sido atacada por ele: “Parecia um chimpanzé no cio”. Kristin Davis, ex-cafetina americana, afirmou que uma prostituta brasileira a aconselhou a não mandar mais mulheres para ele: “É bruto”. Africana e muçulmana, a mulher que derrubou Strauss-Kahn desafiou as regras dos poderosos Nafissatou não sabia que aquele senhor de cabelos brancos era DSK. Está com medo, escondida, sob a proteção da polícia de Nova York. Queria ficar anônima, mas seu nome e fotos se espalharam. É filha de um comerciante da etnia peule – 40% da população da Guiné, na África Ocidental. Emigrou com o marido para os EUA em 1998. Separada, vive sozinha com a filha de 15 anos num conjunto popular no Bronx. Há três anos trabalha no Sofitel da Times Square. Tem fama de trabalhadora e séria. Uma prima, Mamadou Diallo, afirmou: “Ela é uma boa muçulmana. Realmente bonita, como várias mulheres peules, mas não aceitamos esse tipo de comportamento em nossa cultura. Strauss-Kahn atacou a pessoa errada”. Para quem alega ser improvável que um homem tente obrigar uma mulher estranha a fazer sexo oral – afinal, é arriscado colocar-se dentro de uma boca relutante, cheia de dentes –, é bom lembrar que DSK é francês. Sexo oral na França é tão popular que, no ano passado, uma ex-ministra da Justiça de Sarkozy, em entrevista na TV, quis dizer “inflação”, mas trocou por “felação”. Ela desculpou-se dizendo ter falado “muito depressa”, mas a gafe correu mundo. Um quarto de hotel num país estrangeiro é um hiato na vida. Artistas, políticos e executivos nômades podem interpretar suítes de hotel como lugares tão solitários e protegidos que convidam a transgressões. Estão de passagem. O mais provável é que DSK tenha se apoiado em sua soberba e na presunção de impunidade para dar vazão a seus instintos. Julgava saber de cor o manual da supremacia e da submissão. DSK não imaginava que aquela camareira fosse subversiva. Como poderia aquela emergente inverter as regras e desafiar o poder? Ruth de Aquino/Época

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Palocci e o tráfego de informações

“O que não é moral não pode ser legal” Agostinho de Hipona * Tagaste, África 13 de novembro de 354 d.C + Hipona, África 28 de agosto de 430 d.C O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, não saiu das manchetes nas edições de sexta-feira (20/5) dos jornais. Mas há uma diferença no noticiário em relação aos dias anteriores: aparentemente, a informação de que sua empresa de consultoria prestou serviços muito bem remunerados a vinte clientes foi fornecida pelo próprio ministro. Pelos serviços prestados a esses vinte clientes, a empresa do ministro faturou R$ 20 milhões em 2010, ano eleitoral, o que lhe teria permitido multiplicar por vinte o patrimônio pessoal. Afora a curiosa repetição do número 20, o noticiário traz também uma novidade: não se percebe aquela avalanche de declarações de políticos oposicionistas, como aconteceu em denúncias anteriores contra integrantes do governo. Outra diferença em relação a outras histórias: a imprensa tenta, mas não muito, descobrir os nomes das empresas que teriam sido responsáveis pelo fabuloso sucesso empresarial de Antonio Palocci. Em geral o noticiário ataca os personagens do setor público envolvidos em casos suspeitos, mas não demonstra esforços para expor as empresas privadas envolvidas. No caso do ministro da Casa Civil, o processo de blindagem realizado pelo governo é facilitado pelo desinteresse da oposição em alimentar o fogo. Assuntos incômodos Provavelmente, o noticiário teria amainado na sexta-feira se o próprio ministro não o tivesse alimentado com as informações que forneceu ao preparar um relatório a ser enviado à Procuradoria Geral da República. Quase tudo que os jornais publicam tem essa origem. Mas o “vazamento” de uma informação desse tipo só ocorre quando interessa a quem detém essa informação. Palocci contratou uma grande empresa de relações públicas e assessoria de imprensa para administrar a crise. Em casos como esse, normalmente os consultores recomendam oferecer alguma informação inofensiva para distrair a imprensa, enquanto se procura isolar os fatos eventualmente negativos. Até mesmo a declaração de que “ex-ministros têm grande valor no mercado” deve ter sido parte dessa estratégia. A frase é uma tradução politicamente correta de “tráfico de influência”. Agências de comunicação conseguem controlar rapidamente crises desse tipo porque sabe-se que a imprensa tem atualmente uma capacidade de investigação muito reduzida. E sabe-se também que, assim como a oposição, a imprensa não quer discutir certos assuntos, como o que movimenta o noticiário em torno do ministro, porque também vive de traficar influência. Por Luciano Martins Costa/Observatório da Imprensa

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New York Times: No Brasil babás chegam à classe média

Babás brasileiras vivem um momento de ascensão, em que estão quebrando o estereótipo de trabalhadoras que cobram pouco e se dedicam muito, segundo reportagem do “The New York Times”. O jornal aponta que conforme aumentam as expectativas de melhora na qualidade de vida dessas profissionais, mais ela buscam trabalhar para as classes sociais mais abastadas e se tornam menos acessíveis para as famílias de classe média. De acordo com o “Times”, a mudança tem causado um problema em uma sociedade em que cada vez mais mulheres ingressam no mercado de trabalho sem que haja um sistema de creches elaborado, como ocorrem em nações industrializadas. O jornal aponta ainda que os rendimentos dos trabalhadores domésticos no Brasil (babás e empregadas domésticas) subiram 34% entre 2003 e 2009, mais do que o dobro do aumento médio de todos os profissionais no país. Ao mesmo tempo, as horas de trabalho caíram 5%, para 36,2 horas semanais. O “Times” relata que está terminando o tempo em que babás aceitavam trabalhar por um salário baixo com apenas dois dias de folga a cada 15 dias. Folha de S.Paulo A revolução das babás brasileiras Com salários de até R$ 5 mil, reflexo da ascensão social da classe média, elas viraram notícia no diário americano ‘The New York Times’. Uma reportagem publicada ontem pelo diário americano The New York Times relata o que chama de “revolução das babás” no Brasil, com o aumento dos salários e da mobilidade social na profissão. Intitulada “Babás ascendentes chegam à classe média brasileira”, a reportagem diz que essa revolução “está destruindo o estereótipo colonial da ajuda doméstica barata, mas dedicada, na América Latina”. Para o jornal, a situação vem criando tensões sociais num país em que mais mulheres vêm entrando no mercado de trabalho sem ter o acesso aos desenvolvidos sistemas de creches que existem em algumas nações industrializadas. “Estão se apagando rapidamente os dias em que babás vestidas de branco trabalhavam por um salário humilhante, com apenas dois dias de folga a cada 15 dias. Babás mais qualificadas estão se recusando a trabalhar nos fins de semana e exigindo salários que são de duas a quatro vezes maiores do que ganhavam há apenas cinco anos”, diz o texto. Apartamento A reportagem cita o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), segundo quem os salários médios das babás subiram 34% em termos reais entre 2003 e 2009 – mais que o dobro da média geral dos trabalhadores brasileiros -, enquanto a carga de trabalho caiu 5%, para 36,2 horas por semana. Segundo o economista da FGV, a situação reflete a ascensão da classe média brasileira, que cresceu de 37% da população, em 2003, para 55% em 2010. A reportagem cita exemplos como o da babá Andreia Soares, de 39 anos, que com um salário de cerca de R$ 5 mil mensais trabalhando para uma família de classe alta de São Paulo conseguiu ganhar dinheiro suficiente na profissão para comprar um apartamento de dois quartos, uma casa para a mãe e um terreno para o irmão e já planeja a compra de um carro que custa mais de R$ 60 mil. Apesar do progresso, o jornal observa que alguns economistas estão céticos sobre quanto tempo mais a revolução pode durar. Neri lembra que os brasileiros ainda têm um nível educacional baixo, e Rodrigo Constantino, economista da consultoria Graphus Capital, disse que a falta de investimentos em educação no Brasil deve impedir que muitos trabalhadores domésticos encontrem outros trabalhos mais bem remunerados. Ele adverte ainda que os incessantes pedidos de aumentos salariais podem alimentar a inflação. BBC Brasil/O Estado de S.Paulo

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Design – Automóveis

Alfa Romeo 33-2 – 1969 Alfa Romeo Iguana – 1969 Bizzarrini Manta – 1968 Ferrari 512S – 1969 Ferrari PF Modulo – 1970 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Microsoft e o paradoxo do Skype

Líder mundial de sistemas operacionais para computadores, a Microsoft é pequena em telecomunicações. Em smartphones, a participação da empresa ficou em somente 4,2% no ano passado, segundo a empresa de pesquisa Gartner. Os gigantes desse mercado são a Apple, com o iPhone, e o Google, com o Android. A compra do Skype reforça a estratégia da empresa em telecomunicações. Além disso, cria uma alternativa poderosa aos comunicadores do Google e do Facebook, com a possibilidade de integrar o Skype ao Windows Live Messenger, aos seus sistemas de comunicação corporativa e ao videogame Xbox 360. Em smartphones, a Microsoft fez dois movimentos anteriores importantes: fechou um acordo com a Nokia, que, a partir do ano que vem, adotará o Windows Phone 7 em seus celulares inteligentes e, na semana passada, outro com a RIM, fabricante do BlackBerry, para transformar o Bing no buscador padrão dos aparelhos da fabricante canadense. Resta saber como as empresas de celulares vão receber os aparelhos Windows Phone 7 com Skype nativo. O grande temor das operadoras é se transformar, nesse cenário de smartphones e tablets, em “dumb pipes” (tubos burros), oferecendo somente conectividade de dados, enquanto toda a receita de serviços adicionais fica nas mãos de outras companhias, como a Apple, o Google, o Facebook ou a própria Microsoft.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Apesar de os investidores não terem gostado da compra do Skype, vários analistas receberam bem a aquisição. “Essa é uma clara tentativa da Microsoft de aumentar fortemente sua presença nos mercados de soluções colaborativas”, disse, em comunicado, Fernando Belfort, analista sênior da Frost & Sullivan. “O nome Skype é muito forte entre os consumidores e a Microsoft espera, com isso, alavancar as vendas de seus outros produtos”, afirmou, também em comunicado, Fernando Lima, analista da IDC. O professor Silvio Meira, da Universidade Federal de Pernambuco, chegou a escrever ontem em seu blog: “É bem capaz de Steve Ballmer ter feito a operação que vai garantir seu nome na história dos negócios da era da informação”. Ao integrar o serviço de chamadas via internet a outros produtos, fica mais fácil para a Microsoft resolver o chamado “paradoxo do Skype”. O paradoxo é o seguinte: como falar de Skype para Skype é grátis, quanto mais pessoas usam o serviço, menos receita tem a empresa. Num mundo em que todos usam o Skype, as receitas do Skype cairiam para zero.   Renato Cruz/O Estado de S. Paulo

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Maquiavel – Frase do dia

“Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis.” Maquiavel

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