Lula, política externa e popularidade

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Brasília – Vários tentaram, mas Lula é o primeiro presidente pós-ditadura a usar sua atuação externa de maneira eficaz para alavancar a popularidade interna. A tática é manjada em países desenvolvidos, sobretudo nos EUA. Consiste em inocular no cenário doméstico os efeitos de ações no plano internacional como forma de ficar bem avaliado pelos eleitores locais.

Como bem notou ontem Nelson de Sá, o noticiário sobre a viagem de Lula aos EUA tem sido uma enxurrada de manchetes positivas. Na Reuters, “Lula diz que a economia vai crescer em 2009″. Na AP, “Lula quer apoio para derrubar as tarifas americanas sobre etanol”.

Nas TVs, o presidente deu sua lição (sic) para os desenvolvidos. “Lula diz em Nova York que vai ao G20 pedir aos países ricos que aumentem controle sobre os bancos”, destacou o telejornal da Band. Não importa se tudo é baboseira diplomática sem efeitos práticos.

Ou o encontro com Barack Obama ter sido só um contato inicial, sem consequências imediatas. Também é irrelevante o seminário com empresários em Nova York ter servido de cenário para imagens da futura propaganda eleitoral de Dilma Rousseff, a candidata oficial ao Palácio do Planalto em 2010.

O que conta é a mídia positiva conquistada por Lula, reforçando a percepção dos eleitores no momento: a de que a culpa pela crise econômica não é do governo. A responsabilidade é das nações ricas. E o Brasil está ensinando a todos como se administra bem um país, nas palavras ouvidas “ad nauseam” nos bastidores do poder em Brasília.

Pesquisas internas do governo indicam que 60% dos eleitores não acham Lula culpado pela atual desaceleração da economia. A viagem aos EUA ajudou a cristalizar essa avaliação. O petista assim mantém sua popularidade nas alturas e continua influente no jogo de 2010. Para desespero geral da oposição.

Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo

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