Inglaterra e o Ministério da Solidão

Por que os britânicos tiveram que criar um Ministério da Solidão


DMITRY BERKUT VIA GETTY IMAGES

Theresa May quer solucionar a “triste realidade moderna”.

Os ingleses criaram um ministério para combater a solidão. 

O Reino Unido acaba de criar um ministério para lidar com o que a primeira-ministra Theresa May categorizou como “a triste realidade moderna”. O Estado agora terá um ministério para combater a solidão

No ano passado, uma comissão britânica descobriu que quase nove milhões de pessoas no país, muitas vezes, ou sempre, se sentem sozinhas – uma condição que pode ter sérias repercussões para a população. 

Os médicos alertam que o isolamento social é uma epidemia crescente que pode ter consequências físicas, mentais e emocionais. A solidão também foi associada com o maior risco de doença cardíaca, diabetes e câncer, de acordo com pesquisadores. 

Além de anunciar o nome de Tracey Crouch para o ministério, May também defendeu que o governo, em parceria com a população e as empresas, crie uma estratégia para impedir que as pessoas se sintam solitárias. O plano deve ser divulgado até o fim deste ano. 

Crouch afirmou estar honrada com a nomeação. Para ela, será um desafio lidar com o “problema geracional”.

“Tenho certeza de que, com o apoio de voluntários, ativistas, empresas e meus colegas deputados de todos os lados da Câmara, podemos fazer progressos significativos no combate à solidão”, disse.

Afinal, como o governo pode ajudar a combater a solidão?

O HuffPost UK listou algumas iniciativas que podem ajudar a população a lidar com esse problema

1. Acessibilidade

De acordo com a organização Sense, pessoas com alguma deficiência lutam para fazer amizades e construir relações. Isso porque muitos lugares ainda não têm acessibilidade ou sequer são pensados para que pessoas com deficiência possam frequentar.

Mais da metade (53%) dos ingleses com alguma deficiência experimentam a solidão. Esse índice sobe para três quartos (77%) quando se trata de jovens.

“Muitas das barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam para fazer amigos e conhecer pessoas são coisas práticas, como a necessidade de transporte e edifícios acessíveis, apoio financeiro e assistência social adequada”, disse o vice-presidente da Sense, Richard Kramer, ao HuffPost UK.

“Nós queremos que o governo forneça financiamento adequado para assistência social e que as autoridades locais ofereçam serviços melhores e mais acessíveis. Isso inclui serviços específicos que abordam a solidão, bem como oportunidades sociais mais amplas que permitam que as pessoas saiam e se encontrem em sua comunidade.”

2. Transporte

De acordo com a Campanha contra a Solidão, o governo deverá pensar em políticas públicas mais eficientes. Por exemplo, se uma rota de um ônibus deixa de existir, um idoso que mora naquela região ficará impossibilitado de se desolocar para acessar à cidade. Além disso, a campanha pede que o governo incentive os negócios locais indispensáveis, sobreturo, para a socialização dos mais velhos.

“Os idosos precisam saber que podem frequentar aquele café da esquina, por exemplo, e que ele não vai deixar de existir”, defende a porta-voz da campanha, Alice Stride, ao HuffPost UK.

3. Tecnologia

A organização No Isolation quer reduzir o isolamento social involuntário através da tecnologia. As crianças que sofrem de doenças crônicas e se esforçam para se comunicar estão entre as que a empresa ajuda.

“O governo já está fazendo um ótimo trabalho ao relacionar problemas de saúde mental e saúde física com a solidão. Contudo, ainda há um longo caminho a percorrer em termos de comunicação dos dados. Todos nós precisamos trabalhar colaborativamente nesse enorme problema. Convidamos o governo a trabalhar com startups que são apaixonados e criativos no combate à solidão”, afirmou a fundadora da No Isolation, Karen Dolva.

4. Comunidade

Um relatório em 2017 descobriu que mais de 90% das mães se sentem solitárias após o parto. A maioria (80%) das mães quer mais amigos, no entanto, 30% nunca começaram uma conversa com outra mãe que pudesse desencadear uma nova amizade. Mais de 10% de mães, ainda, disseram sofrer com a depressão pós-parto.

Channel Mum é uma comunidade on-line e grupo de apoio para novas mães. “As mães são um dos grupos mais solitários, já que a sociedade perdeu o sentimento de comunidade”, defende o fundador, Siobhan Freegard.

“Para enfrentar a solidão, precisamos enfrentar o custo proibitivo da habitação, garantir que as mães possam ter um trabalho flexível para se encaixar em suas famílias, usar as mídias sociais de forma positiva e proporcionar um melhor suporte para problemas de saúde mental causados ​​pela solidão e também enfrentar o tabu que torna tão difícil para muitas mães admitir que são solitárias.”
Ana Betariz Rose/HuffPost

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