Nem o bom velhinho é mais encarado com inocência. A praga da pedofilia se alastra e determina novos comportamentos daquele que nos shoppings, faz a alegria do imaginário das crianças nas festas de fim de ano. Os pais estão de olho no contato físico dos Noeis e seus filhos.
Candidatos são orientados a evitar contato físico com as crianças.
A pedofilia passou a ser um novo tópico no curso de formação de Papai Noel, Mamãe Noel e Noelete que acontece todos os anos no Centro de Solidariedade ao Trabalhador na Liberdade, no Centro de São Paulo. Nesta segunda-feira (23), os candidatos aprenderam pela primeira vez onde tocar as crianças e o que devem evitar durante o contato delas com o bom velhinho.
Para Sílvio Ribeiro, responsável pelo curso e Papai Noel há 42 anos, é importante saber onde tocar as crianças para que os gestos não sejam encarados de forma equivocada pelos pais. “Papai Noel sempre foi pegajoso, ama as crianças. Com essa onda de pedofilia que está acontecendo no mundo, os pais estão apavorados”, afirmou.
Os candidatos a Papai Noel que passaram pelo Centro de Solidariedade nesta terça foram aconselhados por Ribeiro a evitar contatos físicos excessivos com as crianças e até mesmo a arrumar as roupinhas, tarefa que deve ser feita pelos pais. Cócegas na barriga também foram desaconselhadas. Uma boneca de 1 metro foi usada para demonstrar como segurar as crianças.
O curso desta manhã teve a participação de cerca de 40 candidatos. Eles também aprenderam a história de São Nicolau, como posar para fotografias e noções de higiene pessoal. Clientes como hipermercados, shoppings e lojas irão selecionar os preferidos por fotografias.
Candidatos
O funcionário público Edgar Pinto, de 54 anos, trabalhou como Papai Noel em 2009 em um hipermercado. Para tentar uma nova vaga neste ano, deixa a barba crescer há 8 meses. Ele tirou férias do serviço para trabalhar como Papai Noel e complementar a renda da família. “Tem que gostar de criança, ser alegre, comunicativo”, disse sobre os requisitos necessários para interpretar o bom velhinho.
O desempregado José dos Reis, de 60 anos, tenta a vaga pela primeira vez. Ele está sem emprego há mais de dois anos e viu no trabalho uma oportunidade. “Estou atrás de emprego, mas como está difícil tem que encarar o que aparece. Acho que não tem dificuldades porque gosto de criança”, afirmou.
Papai Noel experiente, Sílvio Ribeiro diz que o candidato precisa “gostar de crianças, estar de bem com a vida e ser paciente”. Também é importante nunca prometer presentear a criança – ela pode se frustrar caso o presente não venha. Outra repetida e sonora lição durante o curso é como fazer o famoso “ho ho ho” característico do personagem.
Luciana Bonadio/G1