Collor. “Aquilo” de volta à pocilga

Brasil: da série “só dói quando eu rio”

Será o tempo o senhor da razão? Ou da insensatez. De grão em grão, o marajá das Alagoas recupera espaço no bordel brasiliense, cujas “madames” não sentem o menor constrangimento em chafurdar no esgoto de suas (deles) convicções.

Mais que nunca, a quadrilha de Carlos Drummond de Andrade se materializa, não no amor de Pedro mas, sim, na indecência do leilão das almas vendidas. Entre galináceos e guabirus, Rui Barbosa enrubesce a erma aposta no plenário do Senado.

É preciso que tudo mude para que tudo continue como está.

O editor

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‘Senhor da razão’, o tempo impõe retorno de Collor

De tempos em tempos, o pensamento humano é submetido a reviravoltas insondáveis. Idéias e certezas do passado viram, de uma hora pra outra, lixo irreciclável.

Copérnico, por exemplo, esmigalhou a auto-estima da humanidade ao revelar que a Terra não é o centro do cosmo.

Ao pendurar o macaco na árvore genealógica do homem, Darwin não contribuiu para a restaurar-lhe o amor próprio.

Na política brasileira, os petistas costumavam alegar que seus antepassados não descendiam dos chimpanzés. Eram adotados.

A ascenção de Lula, porém, nivelou o petismo ao resto dos mortais. Ao menos no que diz respeito às perversões.

Assim é que, quando Renan Calheiros se encontrava com a guilhotina na jugular, o PT, à frente Ideli Salvatti, empenhou-se em salvá-lo. Salvou uma, duas vezes.

Agora, em franco desafio a Copérnico, um Renan redivivo converte-se em centro do cosmo. No Senado, Renan faz. Ali, Renan acontece.

Nesta quarta (4), Renan refez Fernando Collor, um desafeto do ex-PT. Converteu-o em presidente da comissão de Infraestrutura, derrotando Ideli.

Por um desses caprichos do destino, Ideli e Collor estavam “separados”, na mesa da comissão, apenas pelos fios do bigode de Aloizio Mercadante.

O mesmo Mercadante que, em passado nem tão remoto, atuara como torquemada na CPI que levara Collor ao impechment de 1992.

Numa evidência de que volta em grande estilo, Collor rendeu, à sua maneira, homenagens a Ideli. Disse nutrir por ela “o maior respeito”.

Afirmou que considera a senadora petista uma personagem agregadora. Uma “senadora que congrega, reúne, cisca para dentro”.

A imagem aviária deixou Mercadante abespinhado. Exigiu retratação. Foi atendido. Collor retirou a expressão. O que não modificou o resultado final.

Agora integrado ao consórcio que dá suporte congressual a Lula, o ex-amigo íntimo, muito íntimo, intimíssimo de PC Farias prevaleceu sobre Ideli por 13 votos contra dez.

Brasília vive uma dessas crises de autoconhecimento que costumam convulsionar a mente humana.

O ex-PT, por exemplo, procura desesperadamente as idéias do passado. Porta-se como um cachorro sem faro. Sob Lula, teve de esconder o osso. Mas esqueceu onde.

Lula Marques/Folha

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