Brasil: da série “O tamanho do buraco”!
Logo que estourou o propinoduto da Camargo Corrêa, revelando que assim como os petralhas, os demais pulhas que infestam a política brasileira, também são adeptos do delubiano axioma das “despesas não contabilizadas”.
O primeiro emplumado a sair em defesa da empreiteira dadivosa foi FHC. Ele mesmo! O sociólogo da entregação. O comprador da reeleição. Enquanto Lula, o apedeuta do planalto central afirmava que não sabia nada das estripulias de Marcos Valério, o inefável FHC, que, sem medo de cupins, expõe sua (dele) cara de pau em declarar que as doações da empreiteira “não tem nada de irregular”.
Uáu!
A lama é a mesma. Os porcos é que são diferentes.
Argh!
No Brasil, as leis só alcançam o caixa dois do camelô
Ao cruzar o fosso do Castelo de Areia da Camargo Corrêa, a PF e o Ministério Público devolveram às manchetes a torneira do caixa dois.
Submetido a uma torrente de escândalos, o brasileiro já aprendeu que é por essa bica que jorra o dinheiro da corrupção polícia no Brasil.
Se todos a conhecem o cano, por que nunca foi fechado? Simples. Disseminou-se a percepção de que o “por fora” não resulta em punição.
É um tipo de crime tratado à base de duas leis informais. Ambas alheias aos códigos penal e tributário do país.
As arcas do caixa dois são reguladas pela Lei da Selva. Quanto pilhados, os infratores se autoenquadram na Lei do Silêncio.
Em 2005, acossado pelas valerianas que a contabilidade delubiana tratara como verbas “não contabilizadas”, Lula saiu à francesa.
Numa entrevista parisiense, o presidente (que nunca soube de nada!) disse que caixa dois é coisa que “todos os partidos fazem”.
Na última quinta-feira, quando começaram a soar as conversas vadias captadas pelos grampos da Camargo Corrêa, FHC achegou-se à boca do palco.
Defendeu a empreiteira: “Não tem nada de irregular”. E ironizou a ausência do PT na lista de sete partidos premiados -“por dentro” e “por fora”.
“Terá sido a única empresa grande que não deu dinheiro para o PT. Acho que o PT deve protestar”, disse FHC, em timbre de galhofa.
Assim como fizera o Lula do mensalão, o FHC do “camargão” serve-se de uma velha artimanha. Truque tosco, manjado.
Funciona assim: Como o dinheiro sujo é telhado de vidro comum a todas as legendas, a punição de uma arrastaria as demais.
Assim, numa espécie de cumplicidade premiada, uns são intimados a não denunciar os outros. Até atiram algumas pedras, porém…
Porém, essas pedras nunca atingem o telhado alheio. Passado o barulho, são recolhidas. E servem à construção dos fornos em que são assadas as pizzas.
Uns fornecem a farinha e a mussarela. Outros entram com o orégano e o tomate. Nesse repa$to, a platéia é convidada a desempenhar o papel de idiota.
Encerrada a fase dos pratos salgados, evololui-se para a sobremesa: o quindim da reforma política.
Insinua-se que a única maneira de dar cabo do “por fora” é a reformulação da legislação eleitoral, com trará o financiamento público de campanha. Lorota.
Não há dúvida de que a lei que rege as eleições precisa ser passada a limpo. Mas a tese de que a punição do caixa dois depende disso é idéia indigesta.
O que é o caixa dois? Dinheiro porco. Sai emporcalhado das arcas da empresa que dá, entra imundo na escrituração do candidato que recebe…
…E desce sujo ao bolso do marqueteiro e outros prestadores de serviços de campanha. Afora o passeio pelo código penal, os infratores fraudam o fisco.
Cometem a mesma infração tributária de que são acusados os milhares de camelôs que vendem contrabando à bugrada nas ruas das grandes cidades brasileiras.
Esses brasileiros que recorrem à informalidade para encher a geladeira são tratados com os rigores do “rapa”.
Os fiscais ora lhe tomam a mercadoria ora liberam-na, mediante o pagamento de propinas.
No camelódromo da política, a falta de formalidade não resulta senão em poucos instantes de constrangimento. Ainda assim, só de raro em raro.
O mensalão flerta com a prescrição no STF. O tucanoduto de Minas envereda pelo mesmo caminho.
As arcas clandestinas de FHC se dissiparam antes mesmo de ganhar a formalidade de um processo judicial.
Planilhas eletrônicas descobertas em 2000 mostraram que, na campanha presidencial de 1994, as arcas tucanas foram borrifadas com R$ 10,1 milhões de má origem.
Em 2003, descobriu-se que, no ano anterior, FHC organizara uma caixinha para fornir o caixa dois de 24 candidatos ao Congresso.
Queria compor uma bancada que defendesse o seu ex-governo. Coletaram-se R$ 7 milhões. Contribuíram nove empresas. Entre elas a Camargo Corrêa. Quem se lembra?
Numa atmosfera assim, é difícil supor que o novo escândalo resultará em punição. O melhor que o Estado tem a fazer, é dispensar ao camelô um tratamento “político”.
Se caixa dois graúdo não é punido, porque continuar castigando a sonegação miúda dos tributos das quinquilharias?