Trump fez discurso cujas declarações foram classificadas como “prejudiciais e absurdas” pelo governo mexicano.
Adriana Almanza não se intimidou pela fama, discurso ou fortuna de Donald Trump. E escreveu ao magnata americano um carta aberta para apresentar-lhe ao seu pai, Raúl, um imigrante mexicano que chegou há mais de três décadas nos Estados Unidos.
“Ele não bebe. Não se droga. É claro que não é um criminoso, estuprador ou um traficante de drogas, como você sugeriu em seu discurso”, diz um trecho . “Meu pai trabalha 5-6 dias por semana desde que eu era criança e nunca eu o ouvi reclamar uma vez sequer.”
“Não somos ricos na riqueza, senhor. Mas somo ricos no que importa, o conhecimento, a cultura e a fé”, escreveu Adriana na mensagem, que já foi compartilhada 122 mil vezes no Facebook e teve 240 mil curtidas.
O sucesso surpreendeu a jovem, de 28 anos. “Nunca fui uma pessoa de morder a língua e guardar o que pensa”, disse ela à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Tudo começou no discurso em que Trump anunciou sua candidatura às primárias do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2016. Na ocasião, ele defendeu um “grande muro” na fronteira sul do México que, segundo ele, “não é um amigo”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
“O México manda sua gente, mas não manda o melhor. Está mandando gente com um monte de problemas… Estão trazendo drogas, o crime, os violadores. Acho que há alguns que são bons”, disse o empresário.
Assim, Adriana sentiu a necessidade de agir. “Estava pensando na minha gente. Em meu pai, nos meus tios, primos, amigos, e todos os imigrantes, os latinos, especialmente os mexicanos”.
Diz ela ser orgulhosa de suas raízes e que “não vai permitir que pessoas como ele falem assim de minha gente”. “Para mim, meu pai é todo um herói, ele é meu mundo, sacrificou muito e sofreu muito”.
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“Ninguém pode dizer que ele não é ‘o melhor do México'”.
E foi exatamente isso que expressou na carta a Trump.
Conta ela não ser “nenhum segredo” que o pai chegou ao país sem documentação – ou “‘ilegal’, como você os chama”, disse – explicando como ele buscou emprego no campo em vários Estados para enviar dinheiro a seus pais e nove irmãos no México.
“Senhor Trump, eu seu discurso afirmou que o México não envia aos EUA os melhores. Mas me permita discordar. Se meu pai representa o tipo de pessoas que México ‘envia’, não há dúvida de que este país está cada vez melhor”.
“O problema é que você e eu temos uma definição diferente ‘dos melhores'”.
Escreve ela que “os melhores, para mim, são os que trabalham duro e seguem humildes. Isso é exatamente o que representa meu pai, isso é exatamente o que os outros milhões de mexicanos representam”.
O pai “não tem o que se chama de ‘educação formal'”, diz a jovem, que se lembra de como ele a ajudava em tarefas escolares e lhe ensinou a importância da educação e de conquistar um diploma – apesar de ele mesmo não ter um.
Adriana tem uma licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade Valley State e um mestrado em educação.
Carta já foi compartilhada mais de 122 mil vezes no Facebook
A jovem não foi a única a reagir às declarações de Trump, que foram classificadas pelo governo mexicano como “prejudiciais e absurdas”.
A Univisión, principal cadeia de televisão em espanhol dos Estados Unidos, anunciou ruptura com a organização do Miss Universo, que pertence a Trump, “como consequência de seus comentários ofensivos sobre imigrantes mexicanos”.
Alguns artistas hispânicos como o colombiano J Balvin, o ator chileno Cristián de la Fuente e a atriz Roselyn Sánchez, de Porto Rico, também se recusaram a participar do evento.
O sucesso veio nas redes sociais, onde tornou-se uma hashtag (#AdrianaAlmanza). Ironicamente, o pai conheceu o Facebook há apenas alguns meses.
“É um pouco difícil para ele (o pai) entender tudo o que está passando”, disse ela. “Tampouco entende porque Donald Trump disse estas coisas”.
Será que o magnata irá respondê-la?
BBC