O que Sigmund Freud diria sobre nossa obsessão pelas selfies?
Freud popularizou várias ideias; ego, superego e inconsciente.
Freud popularizou várias ideias; ego, superego e inconsciente.
Por que a extrema direita brasileira ama a Idade Média europeia.
Um fantasma ronda o Brasil – o fantasma da racionalidade.
Tudo começou quando Silva foi convidada a entrar nos grupos de que o pai participava. Ela comprou um chip novo, para que não fosse reconhecida pelo número de telefone, e passou a enviar notícias e vídeos – reais – que expunham os problemas do presidente. ‘Eu o vi xingando aquele fake sem saber que era a filha dele.’ A ideia era apenas rebater argumentos, em geral baseados em fake news, que se cansara de ouvir. À época, o principal assunto nos grupos era o atentado à faca contra Bolsonaro. Os integrantes dos grupos diziam, sem provas, que o mandante havia sido o ex-presidente Lula. A estudante rebatia com fatos da investigação. O pai dela ficou possesso, mas Silva não parou até que conseguisse implodir todos os grupos, um a um. “Eu o vi xingando ‘aquele fake’ sem saber que era a filha dele. Até que minha madrasta reclamou que ele perdia muito tempo brigando nos grupos e ele resolveu sair de todos”, riu a estudante. Mas aí quem não queria parar era ela. “Já tinha tomado gosto pela coisa.” Silva, que vive em Goiânia, percebeu que invadir o terreno em que bolsonaristas radicais se sentem mais confortáveis – os grupos de WhatsApp – é uma forma efetiva de combater a proliferação de fake news a favor do presidente. A ferramenta de envio de mensagens instantâneas foi essencial para a eleição de Bolsonaro – as evidências indicam que a avalanche de fake news distribuídas no mundo oculto dos grupos de zap beneficiou mais a ele do que a qualquer outro candidato. Guerrilha digital A goiana está longe de ser a única “guerrilheira digital” dedicada a combater fake news e intolerância em grupos de mensagens. Em algumas semanas de pesquisa, conheci dezenas de pessoas – eleitoras de Ciro Gomes, Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Marina Silva e Geraldo Alckmin – que resolveram se entregar à tarefa. É estafante: são até oito horas diárias com os olhos fixos no WhatsApp. “Cada um mantém a sanidade como consegue”, ela desabafou. É o caso dos 20 editores de uma página de esquerda no Facebook. Durante a campanha eleitoral, eles entraram em grupos bolsonaristas para entender o que pensavam os apoiadores do capitão reformado. Passado o pleito, decidiram continuar por ali, na esperança de mudar opiniões. A tática escolhida é curiosa, mas vem surtindo efeito: fingindo ser eleitores de extrema direita, eles lançam mão de argumentos ainda mais radicais que os que habitualmente circulam nos grupos. Um dos participantes, um bacharel em filosofia que mora em São Paulo e pediu para não ser identificado para não ser descoberto nos grupos, posta coisas como: “Bolsonaro não é só um político, ele é Melquisedeque, a presença do Senhor na Terra, o patriarca de uma nova geração de governantes”. Ou: “A Amazônia está pronta para receber o povo de Israel, meu pastor disse que aqui será a nova Jerusalém”. ‘Eles não percebem o humor e a caricatura. Mas, se desenvolvem senso crítico, pra mim está bom.’ Ouve, como resposta, habitualmente, que está louco, que Bolsonaro não é Deus e nem poderia entregar a Amazônia a quem quer que fosse. Alguns ficam tão revoltados que saem do grupo. É quando o paulistano se considera vitorioso. “Eu uso citações da Bíblia, de Handmaid’s Tale, Game of Thrones e outros livros sobre regimes autoritários. Já mandei as máximas do Grande Irmão de [1984, romance clássico de George] Orwell para defender a ditadura militar. Eles não percebem o humor e a caricatura. Mas, se desenvolvem senso crítico, pra mim está bom”, me disse. Segundo ele, o trabalho do grupo chega a afugentar uma média de 100 pessoas por semana de grupos que espalham fake news pró-Bolsonaro. “Nós vimos que não dá para dialogar com algumas pessoas, então tentamos assustá-las com o próprio radicalismo. É gente a que só conseguimos chegar assim”, prosseguiu. Os Agentes das Fanfics Após dinamitar os grupos de que o pai participava, Brenda Silva percebeu que descobrira uma maneira de enfrentar as notícias falsas e postagens intolerantes que infestam os grupos pró-Bolsonaro. E resolveu ir adiante, ao lado de pessoas que encontrou no Twitter para somar esforços. A equipe que ela reuniu, chamada de Agentes das Fanfics, tem integrantes no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal. Ninguém se conhece pessoalmente, mas todos conversam diariamente em redes sociais. O lema é “resistência e deboche”, me disse a bacharel em Direito Stefany Oliveira, de Juiz de Fora. A trupe concebeu uma estratégia peculiar, que até aqui tem se mostrado praticamente infalível: ganhar a confiança dos participantes, conquistar o posto de administrador e deletar o grupo. Montei um passo a passo para explicar como ela funciona: Ao receber o convite para entrar num grupo bolsonarista, um dos integrantes da equipe entra e começa a conversar, de modo amistoso, com os demais participantes. Com o passar dos dias, pessoa constrói uma imagem confiável no grupo. Segundo Silva, isso requer tempo, dedicação e muito sangue frio para ler notícias falsas ou opiniões radicais, machistas, misóginas etc. Nesse meio tempo, outros integrantes da trupe são chamados a entrar no grupo. Após algumas semanas, começa a ação combinada. Geralmente, o integrante há mais tempo no grupo é atacado por um colega de equipe. O “veterano” então procura o administrador do grupo para reclamar da bagunça e das brigas constantes e pede poderes de moderador para retirar pessoas “mal intencionadas” da conversa. Assim que se torna administrador, o infiltrado avisa os companheiros. É a senha para o grupo ser invadido e ter início um bombardeio de figurinhas (stickers) – geralmente depreciativas a Bolsonaro. Em seguida, o administrador infiltrado deleta todos os integrantes, matando o grupo. ‘Uso as coisas que escuto do meu pai para me passar por minion nos grupos.’ Desde janeiro, quando o trabalho começou, que a trupe de Silva ostenta cerca de 30 grupos desmantelados, a maioria deles com centenas de participantes. Entre eles, estão agrupamentos batizados de Apenas direita, 100% Bolsonaro, Olavo x Mourão, Mulheres Conservadoras, Brasil com Bolsonaro, Avante Capitão, Mulheres
Caso de condenado por estuprar garotas em Porto Alegre serve de alerta. Róger da Silva Pires, 20 anos, preso e condenado por estupros, extorsões e ameaças que envolveu meninas entre 12 e 15 anosReprodução / Agencia RBS Ministério Público (MP) divulga resultados de apuração para chamar atenção ao Dia Mundial da Internet Segura Ocultado pela naturalidade e inocência típicas de crianças e adolescentes que buscam fazer o máximo de amigos em grupos nas redes sociais está um risco sorrateiro que não para de fazer vítimas: o do abuso sexual. Na véspera do Dia Mundial da Internet Segura (6 de fevereiro), o Ministério Público Estadual divulga os resultados da apuração de uma série de estupros, extorsões e ameaças que envolveu garotas entre 12 e 15 anos em Porto Alegre. O autor, Róger da Silva Pires, 20 anos, foi preso e condenado e, nos últimos meses, teve as condenações confirmadas pelo Tribunal de Justiça em um total de 42 anos de prisão — a Defensoria Pública, que representou o réu nos processos, avalia a possibilidade de recorrer. — É uma pena exemplar, não só para fins de punição, mas para que a sociedade saiba que esse tipo de crime (com uso da internet) tem, sim, punição. É muito alto o risco que os adolescentes têm. Há pesquisa que mostra o Brasil como o país com maior vulnerabilidade de crianças e adolescentes online. No Brasil, ainda estamos começando a responsabilizar os crimes que ocorrem via internet. Esse caso foi um divisor — diz a promotora Denise Villela, coordenadora do Centro de Apoio da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões do MP. O terror imposto por Pires a suas vítimas adolescentes começou em meio a brincadeiras de amigos, passeios em shopping e parques e muita, muita conversa em aplicativos do celular e por meio do Facebook. Enturmado com jovens de classe média e média alta por dar aulas de tênis e treinar no Parque Germânia, Pires conseguia se inserir em grupos de WhatsApp e, então, passava a escolher suas vítimas. Ele foi preso em ação da Polícia Civil e do Ministério Público em 2016 e condenado por crimes contra cinco adolescentes cometidos entre 2015 e 2016. O MP acredita que pode ter havido mais casos. Usando pelo menos três aparelhos de telefone e 18 diferentes chips (apreendidos na operação), Pires, então com 18 anos, criava falsos perfis nas redes para conversar, seduzir, extorquir e ameaçar as jovens. Depois de obter fotos com cenas de nudez das vítimas (ou de alegar ter as fotos), ele usava nomes diferentes para enviar mensagens com pedidos de dinheiro ou exigências de encontros, prometendo que só assim apagaria as imagens sem divulgar na internet. Os encontros acabavam resultando em estupros. E o terror seguia com intimidações. As autoridades extraíram cerca de 5 mil imagens dos telefones dele, a maior parte com cenas de pornografia e, algumas delas, das vítimas identificadas. Em seu rol de ameaças, Pires dizia ser filho de um desembargador (inclusive, enviava para o telefone das vítimas a foto do magistrado), que poderia mandar prender familiares da vítima ou fazê-los perder o emprego, alegava ser de facções criminosas e, caso a vítima não cedesse, teria parentes executados. Nos perfis falsos, o homem também fazia se passar por supostas vítimas dele. Em um caso, uma das adolescentes recebeu mensagem de uma pessoa que se identificava como mulher e contava que Pires havia matado sua avó e sequestrado uma amiga por ela ter se negado a ter encontros com ele. A suposta interlocutora enviou ainda uma foto mostrando pulsos ensanguentados e dizendo que cometeria o suicídio por não suportar mais a pressão de Pires. Tudo mentira. Perfil falso Pires chegou a criar um perfil falso usando nome e foto de um jovem de classe média alta que era conhecido (e popular) entre as adolescentes que ele tinha como alvos. Com a falsa identidade, simulava namoros virtuais. Usando outras identidades, conseguia que vítimas enviassem fotos com cenas de nudez. O rapaz soube do uso de seu nome quando foi procurado por adolescentes que queriam entender o motivo de ele não conversar mais com elas no Facebook. Ele sequer as conhecia. Assustado, avisou a mãe, que fez registro na polícia. O jovem que teve o nome usado conhecia Pires de encontros casuais no shopping em grupos de amigos. Dedicado a falsear uma realidade que não vivia, Pires costumava fazer selfies ao lado desses garotos e publicá-las em seu Facebook como se fosse amigo próximo deles. As ameaças protagonizadas por Pires eram tão contundentes que mesmo vítimas que não haviam enviado fotos suas para ele ficavam apavoradas e cediam, aceitando encontrá-lo. Ele costumava captar imagens de mulheres nuas na internet e enviar às vítimas como forma de pressioná-las. Segundo consta nos processos, os estupros teriam ocorrido numa espécie de porão de uma casa na Vila Jardim, onde Pires morava com a avó e outros familiares. Com 28 anos de atuação no MP, a promotora Denise Villela disse que poucos criminosos a impressionaram tanto quanto Pires em seu depoimento à polícia: — Falava do que tinha feito desprovido de constrangimento. Não conseguia compreender o quão perverso foi com as meninas, pois foi uma extorsão sexual brutal. Não era estuprador de colocar revólver na cabeça e estuprar. Era dissimulado. Essas vítimas de crimes cibernéticos são exploradas dentro da confiança que têm nas pessoas com quem se relacionam virtualmente, é uma quebra de confiança semelhante ao abuso sexual paterno, que ocorre dentro de casa. Elas perdem a confiança nas pessoas, passam a desconfiar de forma exacerbada, é um prejuízo para o resto da vida. Para o promotor da Infância e da Juventude Júlio Almeida, que fez as denúncias contra Pires, o caso é um paradigma para o MP por ter revelado a facilidade com que o criminoso se infiltrou em grupos de conversa de adolescentes: — O caso nos mostrou que não precisa ser um hacker ou um expert para conseguir isso. É tudo muito novo, o WhatsApp é novo. Os pais têm de saber onde os filhos estão transitando. Crianças
Os desafios da reportagem em tempos de algoritmos e antagonismo político No dia 9 de outubro, o campus Álvaro Alvim da ESPM, em São Paulo, recebeu o 1º Seminário Internacional de Jornalismo ESPM/Columbia Journalism School. Em pauta, a crise dos modelos de negócios tradicionais, com a fuga de audiência e de anunciantes, o jornalismo investigativo, as novas ferramentas que servem para a busca da verdade, a pesquisa e o ensino do jornalismo. Enfim, os desafios da profissão em tempos de fake news, pós-verdade e polarização política globalizada. E o principal convidado do evento foi Steve Coll, diretor da Columbia Journalism School, da Columbia University. Em uma conversa franca, Steve Coll falou diretamente de Columbia com a Revista de Jornalismo ESPM. Uma breve (mas significativa) amostra do que ele trouxe para o fórum de discussões: como o jornalismo tem se transformado em termos de métodos e narrativas (com os recursos das grandes reportagens investigativas, como Panama Papers), os desafios para novos jornalistas – passando da cobertura do governo Trump à Lava Jato. Em meio a tanta turbulência, há boas notícias: colaborador da revista New Yorker e vencedor de dois prêmios Pulitzer, Steve continua esperançoso com o futuro do jornalismo. Como jornalista e diretor da Columbia Journalism School, diga: o que mudou na forma de fazer jornalismo? Foram duas mudanças significativas: na maneira como a notícia é distribuída e na estrutura da informação. Ambas impuseram um grande desafio ao jornalismo. A primeira tem a ver com o poder que as redes sociais assumiram na distribuição da mídia em vários países. Isso fez com que jornais, revistas, rádios e emissoras de TV perdessem muito do controle na distribuição do seu conteúdo. Os jornais costumavam controlar seu relacionamento com os leitores a ponto de eles saírem para comprar os jornais em bancas! Agora, eles dependem de plataformas como Facebook, Snap ou YouTube para falar com o seu público. Além do impacto econômico, isso mudou a maneira como as companhias desenham o conteúdo de notícias. E qual foi o impacto da mudança na estrutura da informação? É mais positivo e, possivelmente, de efeito mais duradouro, pois tem a ver com a estrutura que a informação passou a ter com o advento do Big Data e o uso de softwares baseados em algoritmos capazes de processar imensos volumes de dados. Isso impactou diretamente o jornalismo investigativo, em projetos como Panama Papers – mudando a forma como o jornalismo é feito, com aumento da colaboração entre as organizações de mídia. Houve investigações que foram feitas por até 60 veículos em conjunto, todos guardando os mesmos segredos e publicando ao mesmo tempo. Isso era algo impensável dez anos atrás. Outro aspecto são os jornalistas colaborando com cientistas da computação e de dados para o bem público. Há diversos casos de reportagens premiadas feitas a partir da análise de uma grande quantidade de dados. Uma das novidades mais fascinantes na profissão nos dias de hoje. Então o senhor acredita que programação, tecnologia de dados e outras áreas relacionadas deveriam fazer parte do ensino atual nas escolas de jornalismo? Sim. Porque, na era do Big Data, é difícil para o jornalista levar adiante sua função democrática e constitucional de informar se ele não souber examinar da maneira correta os dados e algoritmos que estão sendo utilizados e seus impactos na sociedade. É preciso literalmente olhar por baixo dos códigos e ver como eles são feitos. Os tribunais americanos estão usando softwares de algoritmo para determinar sentenças baseadas em indicações de como alguns criminosos irão reagir, se podem ou não retornar ao crime. Isso mostra que os processos de engenharia utilizados nos códigos das chamadas “fake news” [notícias falsas] podem influenciar a opinião pública. Há várias questões muito importantes de interesse público que estão sendo desenvolvidas com o suporte de engenheiros e especialistas em dados. Isso muda significativamente as habilidades necessárias para o exercício do jornalismo hoje. Embora seja um entusiasta do mundo digital, o senhor continua colaborando com uma revista impressa, a New Yorker. Até que ponto a mídia digital impactou as narrativas e a maneira como as notícias são editadas em outros meios? A minha velha e tradicional revista impressa é muito ativa na plataforma digital e isso certamente mudou a experiência de quem escreve para a revista nos últimos 15 anos. A New Yorker tem feito um grande trabalho de reflexão para balancear o jornalismo literário tradicional e o trabalho investigativo com a velocidade que a internet demanda. Se você olhar de uma maneira mais ampla para a indústria de jornais e revistas, o desafio óbvio é manter a qualidade dentro de uma demanda por mais volume e velocidade de notícias. Cada um desenvolveu uma estratégia para fazer frente a esses novos canais investindo mais do que de fato gostariam em mecanismos de controle de qualidade. Exemplos de erros catastróficos no jornalismo nos mostram que, muitas vezes, eles ocorrem não por questão de recursos, mas de atenção e de priorizar a qualidade. O que mudou nos cursos da Columbia Journalism School, considerando essas novas necessidades de conhecimento que o jornalista demanda hoje? Adaptamos e mudamos o nosso currículo: passamos a ensinar mais sobre mídias sociais e distribuição, além de oferecer a oportunidade de o jornalista aprender novas habilidades em ciência de dados e computação aplicadas às redações. Lançamos um curso Master, no qual os alunos passarão o verão todo estudando computação e ciência de dados antes de entrar no programa de jornalismo. Também temos programas de pesquisa e inovação que procuram engajar os estudantes em tecnologias que oferecem novas formas de contar uma história. Outra grande mudança foi que dobramos a nossa carga horária de ensino de jornalismo investigativo, pois acreditamos que, no mundo de hoje, o jornalista precisa saber se destacar e gerar valor indo mais fundo na notícia. Para instigar os alunos nesse sentido, todos os nossos cursos passaram a oferecer conteúdo de reportagem básica, mas também todas as técnicas de reportagem investigativa e de jornalismo de dados. Os jornalistas mais antigos terão que voltar à escola? No meu
Cada vez mais influentes em nossas decisões, os algoritmos pedem responsabilidade de quem os cria Eles estão em toda parte, mas você não se dá conta. Em suas buscas na internet, lá estão eles. Se você quer aplicar no mercado de ações, comprar um tênis ou contratar um financiamento imobiliário, é claro que eles estarão lá. Silenciosos, imperceptíveis, mas influenciando suas decisões. Você poderia achar que estamos falando sobre sua consciência, mas não. Estamos nos referindo aos algoritmos. Em termos técnicos, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. Eles são muito utilizados na área de programação, descrevendo as etapas que precisam ser efetuadas para que um software execute as atribuições que lhe são designadas. Qualquer programa de computador é composto por uma variedade de algoritmos sendo executados em alta velocidade. Nos casos mais avançados, eles podem nem ser escritos por um ser humano, mas por outros algoritmos. O aprendizado de máquinas é uma técnica de inteligência artificial moderna usada para ensinar aos computadores como realizar coisas que as pessoas podem fazer. No entanto, eles não são restritos apenas à área computacional. O simples ato de um indivíduo se secar sempre na mesma ordem depois que sai do banho, por exemplo, já é considerado um algoritmo. Contudo, a relação do termo com o universo eletrônico é mais forte pela presença constante no nosso cotidiano, mesmo que não percebamos. Dado esse cenário, muitas pessoas já começam a se perguntar até que ponto os algoritmos estão de fato influenciando nossa vida, seja no trabalho, nas tomadas de decisões ou no simples gosto do que escolhemos como entretenimento. “A internet criou um mundo de escolha infinita: se quero comprar um par de sapatos, em vez de ir à sapataria do bairro e escolher entre cem pares, posso ir a um site e escolher entre 1 milhão. Mas ninguém tem tempo de olhar 1 milhão de pares de sapatos. O que os algoritmos fazem, então, é escolher, dentre esse milhão, a centena que provavelmente nos agradará mais, e depois nós escolhemos dentre esses”, explica Pedro Domingos, professor de ciências da computação na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e autor do livro O algoritmo mestre (Editora Novatec). Para Tom Griffiths, diretor do Laboratório de Ciência Cognitiva Computacional da Universidade da Califórnia em Berkeley, as eleições presidenciais de 2016 dos Estados Unidos dão um bom exemplo de como os algoritmos podem ter um impacto significativo em nossas vidas. Segundo ele, um dos problemas nessa eleição foi que as pessoas não estavam tendo uma cobertura equilibrada: como consequência do uso de plataformas de redes sociais, as pessoas estavam vendo histórias defendidas por pessoas com visões políticas similares e selecionadas pelas empresas de tecnologia para maximizar o engajamento. “Para mim, isso sugere um problema de projeto de algoritmo: existe um algoritmo melhor que podemos usar para selecionar as notícias que as pessoas veem para se certificar de que estão entendendo bem as questões que afetam sua sociedade? Do ponto de vista de um cientista da informática, trata-se de escolher a ‘função objetiva’ que estamos tentando otimizar ao mostrar o conteúdo. Mostrar às pessoas o que elas querem ver pode maximizar o número de vezes que elas clicam nos anúncios ou o tempo que gastam na plataforma. Penso que é hora de as empresas pensarem mais sobre essas funções objetivas e a sociedade começar a fazer perguntas sobre quais dessas funções são aceitáveis para as empresas usarem”, diz ele à Revista da Cultura. Pensando nisso, recentemente Facebook e Google corrigiram seus sistemas de inteligência artificial para mostrar a seus usuários uma visão de mundo mais real. A intenção, além de manter a credibilidade do conteúdo, é proteger os usuários de uma exposição danosa na rede mundial de computadores, além de atacar a rentabilidade que esse conteúdo pernicioso pode gerar. A partir do momento em que isso pare de dar dinheiro, deixará de ser feito. Existem softwares que mapeiam as preferências e rotinas das pessoas, não só nas redes sociais, mas também em outros ambientes públicos na internet, como sites de compras ou de pesquisa. Ao mapear essas preferências e hábitos de utilização, os softwares apresentam ofertas de produtos, serviços ou até mesmo ideias, no exato momento em que o internauta está mais disposto a aceitá-los. “Eu mesmo passei por isso, quando estava esperando minha filha nascer. Naturalmente, passei a procurar mais pelo assunto e também produtos e serviços relacionados. Fiquei impressionado na época com o poder desses algoritmos, pois cada vez que entrava em algum site de lojas de departamento, na capa, só apareciam ofertas de carrinhos de bebê, fraldas e outros produtos do tema. Dado que nos tempos de hoje é rotineiro ao ser humano pesquisar qualquer coisa na web, as ações desses algoritmos influenciam substancialmente nas nossas decisões diárias”, afirma Ricardo Ribeiro Assink, especialista em engenharia de projetos de software e professor nos cursos de ciências da computação e sistemas de informação da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Thiago Avelino, matemático pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor de tecnologia da Nuveo, trabalha com inteligência artificial, rede neural e visão computacional. De acordo com ele, as pessoas adquirem produtos ou são impulsionadas a tomar determinada atitude porque os algoritmos nos jogam dentro de “bolhas de necessidades relativamente parecidas”. Portanto, grupos semelhantes – seja por gênero, idade ou classe social – consomem sempre as mesmas coisas. E O FUTURO? O dilema inevitável quando falamos sobre algoritmos é se um dia eles poderão definitivamente suplantar a vontade humana. Para Domingos, em muitas áreas, os algoritmos já nos suplantam. Em outras, vai demorar mais tempo. Ainda de acordo com ele, o fundamental é que as decisões finais estejam sempre a cargo dos humanos. Outra questão que se impõe é se um dia eles poderão reproduzir nosso senso de justiça ou ética, por exemplo. O especialista responde afirmativamente. O problema é que nós somos pouco consistentes no nosso comportamento ético. Portanto, os computadores, ao
Exclusivo: investigação revela exército de perfis falsos usados para influenciar eleições no Brasil Cada funcionário seria responsável por controlar de 20 a 50 perfis falsos | Ilustração: Kako Abraham/BBC São sete da manhã e um rapaz de 18 anos liga o computador em sua casa em Vitória, no Espírito Santo, e dá início à sua rotina de trabalho. Atualiza o status de um dos perfis que mantém no Facebook: “Alguém tem um filme para recomendar?”, pergunta. Abre outro perfil na mesma rede. “Só queria dormir a tarde inteira”, escreve. Um terceiro perfil: “Estou com muita fome”. Ele intercala esses textos com outros em que apoia políticos brasileiros. Esses perfis não tinham sua foto ou nome verdadeiros, assim como os outros 17 que ele disse controlar no Facebook e no Twitter em troca de R$ 1,2 mil por mês. Eram, segundo afirma, perfis falsos com fotos roubadas, nomes e cotidianos inventados. O jovem relatou à BBC Brasil que esses perfis foram usados ativamente para influenciar o debate político durante as eleições de 2014. As evidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. A estratégia de manipulação eleitoral e da opinião pública nas redes sociais seria similar à usada por russos nas eleições americanas, e já existiria no Brasil ao menos desde 2012. A reportagem identificou também um caso recente, ativo até novembro de 2017, de suposto uso da estratégia para beneficiar uma deputada federal do Rio. A reportagem entrevistou quatro pessoas que dizem ser ex-funcionários da empresa, reuniu vasto material com o histórico da atividade online de mais de 100 supostos fakes e identificou 13 políticos que teriam se beneficiado da atividade. Não há evidências de que os políticos soubessem que perfis falsos estavam sendo usados. Com ajuda de especialistas, a BBC Brasil identificou como os perfis se interligavam e seus padrões típicos de comportamento. Seriam o que pesquisadores começam a identificar agora como ciborgues, uma evolução dos já conhecidos robôs ou bots, uma mistura entre pessoas reais e “máquinas” com rastros de atividade mais difíceis de serem detectados por computador devido ao comportamento mais parecido com o de humanos. Parte desses perfis já vinha sendo pesquisada pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, coordenado pelo pesquisador Fábio Malini. “Os ciborgues ou personas geram cortinas de fumaça, orientando discussões para determinados temas, atacando adversários políticos e criando rumores, com clima de ‘já ganhou’ ou ‘já perdeu’”, afirma ele. Exploram o chamado “comportamento de manada”. “Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma noção de maioria”, diz um dos ex-funcionários entrevistados. Esta reportagem é a primeira da série Democracia Ciborgue, em que a BBC Brasil mergulha no universo dos fakes mercenários, que teriam sido usados por pelo menos uma empresa, mas que podem ser apenas a ponta do iceberg de um fenômeno que não preocupa apenas o Brasil, mas também o mundo. Segundo Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), a suspeita de que esse seria um serviço oferecido normalmente para candidatos e grupos políticos “faz pensar que a prática deva já estar bem disseminada nesse ambiente político polarizado e que vai ser bastante explorada nas eleições de 2018, que, ao que tudo indica, serão ainda mais polarizadas que as últimas de 2014”. Philip Howard, professor do Instituto de Internet da Oxford, vê os ciborgues como “um perigo para a democracia”. “Democracias funcionam bem quando há informação correta circulando nas redes sociais”, afirma, colocando os fakes ao lado do problema da disseminação das fake news, ou seja, notícias falsas. Direito de imagemGETTY IMAGESRobôs estariam tentando manipular opinião pública nas redes sociais no Brasil desde 2012 Exército fake Em 2012, segundo os entrevistados pela BBC Brasil, o empresário carioca Eduardo Trevisan, proprietário da Facemedia, registrada como Face Comunicação On Line Ltda, teria começado a mobilizar um exército de perfis falsos, contratando até 40 pessoas espalhadas pelo Brasil que administrariam as contas para, sobretudo, atuar em campanhas políticas. Inicialmente, a BBC Brasil entrou em contato com Trevisan por telefone. Ele negou que sua empresa crie perfis falsos. “A gente nunca criou perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais”, afirmou, pedindo que a reportagem enviasse perguntas por email. “Os serviços em campanhas eleitorais prestados pela Facemedia estão descritos e registrados pelo TSE, de forma transparente. Por questões éticas e contratuais, a Facemedia não repassa informações de clientes privados”, respondeu, posteriormente, por email (leia resposta completa na parte final desta reportagem). Empresário criou a página Lei Seca RJ, que alerta motoristas para locais de blitze no Rio | Reprodução/Facebook Trevisan, cujo perfil pessoal no Twitter carrega a descrição “Brasil, Pátria do Drible”, tem quase um milhão de seguidores. Ele ganhou projeção com sua página Lei Seca RJ, criada em 2009. Seguida por 1,2 milhão de usuários, ela alerta motoristas para locais de blitze no Rio. Um ex-funcionário disse ter sido contratado justamente achando que trabalharia administrando o Twitter do Lei Seca RJ. “Era um trabalho bem sigiloso. Não sabia que trabalharia com perfis falsos”, diz. Quando descobriu, conta, passou a esconder de amigos e familiares o que fazia. Hoje, afirma, tem medo de falar, porque trabalhou “para gente muito importante” e teria assinado um contrato de sigilo com a empresa. Políticos Os depoimentos dos entrevistados e os temas dos tuítes e publicações no Facebook levam aos nomes de 13 políticos que teriam sido beneficiados pelo serviço, entre eles os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). A atuação era variada. Para Aécio, perfis supostamente falsos publicaram, por exemplo, mensagens elogiosas ao
Só dói quando eu rio Ilustrações de Victor Nizovtsev STF tira de Sérgio Moro denúncias contra Cunha, Geddel e Rocha Loures O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por cinco votos a quatro, nesta terça-feira (19), retirar do juiz federal Sérgio Moro as denúncias contra políticos dos PMDB sem foro privilegiado, acusados junto com o presidente Michel Temer por organização criminosa. Estão no grupo o deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA) e o ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures (PR). Os processos serão enviados para a Justiça Federal de Brasília, já que prevaleceu o entendimento de que o caso não tem conexão com o esquema de corrupção investigado na Petrobras, foco da Lava Jato. Os três peemedebistas queriam manter as acusações no STF ou, pelo menos, garantir que as denúncias fossem enviadas para uma vara criminal do Distrito Federal, e não para a jurisdição de Moro. O ministro Luiz Fux se declarou impedido e não votou nesse tópico, e Celso de Mello não participou da sessão. “São fatos ocorridos no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, na articulação política ilícita. Não são fatos diretamente ligados à questão só da Lava Jato, à Petrobras”, disse o ministro Alexandre de Moraes, o primeiro a votar pela retirada dos processos da Vara Federal de Curitiba, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância. Os peemedebistas foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) junto com o presidente Michel Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, por organização criminosa. A tramitação da denúncia contra Temer e os ministros foi suspensa por decisão da Câmara dos Deputados. Depois disso, Fachin decidiu desmembrar o processo, enviando para a primeira instância as investigações contra os acusados sem foro privilegiado na Corte. As defesas de Geddel, Cunha e Loures haviam entrado com recurso pedindo para eles a extensão da imunidade conferida a Temer, Padilha e Moreira Franco. No entanto, o STF manteve o entendimento do relator, Edson Fachin, de que seria “inviável” dar a outros acusados a imunidade garantida ao presidente pelo Artigo 86 da Constituição. “É algo absolutamente específico e singular ao presidente da República, não havendo possibilidade de se estender a coautores e partícipes”, afirmou Alexandre de Moraes nesta terça. Também estão implicados nas investigações sobre a suposta organização criminosa do PMDB na Câmara o banqueiro André Esteves e os executivos Joesley Batista e Ricardo Saud, ambos do Grupo J&F. Somente o caso do deputado André Moura (PSC-SE), que figura como investigado no processo, deve permanecer no STF. Em relação à outra denúncia feita contra Temer, também barrada na Câmara, por obstrução das investigações, foi mantido o envio à Justiça Federal de Brasília, determinado anteriormente por Fachin, da parte que envolve Joesley Batista, Ricardo Saud, Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures. Com Agência Brasil Mesquita no clima natalino, ou para não dizerem que não escrevo cartinhas singelas; Querido ministro Gilmar “Activia” Mendes. Gostaria de ganhar de natal um “Habeas Corpus” com validade indeterminada e com efeito “Erga Omnes”. Ficarei muito agradecido se meu modesto pedido for atendido. “Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.” Hermann Hesse LESA PÁTRIA TENTA ENGANAR A OPINIÃO PÚBLICA COM EXEMPLOS VINDOS DOS ESTADOS UNIDOS MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND O lesa pátria Michel Temer está agora comparando a sua ascensão golpista com Presidentes dos Estados Unidos. Usando uma linguagem de farsante, o que não chega a surpreender se for feita uma análise aprofundada sobre o desempenho de seu governo e suas falações, o golpista que coloca em prática a sua “ponte para o futuro” disse em um encontro do seu partido que, “(…) se nos Estados Unidos se dissesse que quando o vice assume a Presidência face a um eventual impedimento do presidente, isto é um golpe, qualquer americano ficaria corado. Mas aqui não, havia uma certa desfaçatez”. Só que o lesa pátria está mais uma vez querendo se legitimar pela mentira como Presidente golpista que é, e não completa o raciocínio para dizer que nos Estados Unidos o vice que eventualmente assume a Presidência executa um programa igual ao do Presidente eleito. Os dois casos mais recentes, o primeiro depois do assassinato de John Kennedy assumiu Lyndon Johnson, que seguiu o programa do político assassinado, o do Partido Democrata. Posteriormente, Gerald Ford ocupou o lugar do renunciante Richard Nixon, que se envolveu em baixarias como no caso Watergate. O vice Ford, ao assumir a presidência seguiu o que foi apresentado na campanha. Se um integrante do Partido do Presidente Democrata decidisse trair e executar o programa dos Republicanos, por exemplo, o que aconteceria? E se eventualmente Donald Trump não completar o mandato, o vice decidisse seguir o programa do Partido Democrata deixando de lado as propostas dos Republicanos, podem imaginar o que aconteceria? E o que fez o lesa pátria Temer colocando em prática a sua “ponte para o futuro” se não trair os eleitores que escolheram nas urnas uma proposta de governo diferente da executada atualmente, que na verdade é um retorno ao passado de Fernando Henrique Cardoso, repudiado nas urnas quatro vezes seguidas. Mas o lesa pátria Michel Temer, mais uma vez tentando enganar a opinião púbica brasileira, demonstra que sua reverência aos Estados Unidos, cujo Departamento de Estado ajudou no golpe, está equivocada. Ao ocupar o governo colocou em prática um programa de governo rejeitado pelos eleitores brasileiros quatro vezes seguidas nas urnas. Se Johnson ou Ford fizessem o mesmo que o mentiroso lesa pátria Temer não teriam condições de seguir como Presidentes. Essa é a verdade que Temer tenta esconder, porque tem consciência que só ocupa o posto que ocupa para executar a famigerada “ponte para o futuro”, uma proposta que por sinal não passa de um programa responsável pelo Brasil recuar pelo menos cem anos e de inteira satisfação dos golpistas, internos e externos, responsáveis pela sua ocupação do governo. Não contente com tantas mentiras
Hackers passaram a utilizar a publicidade no Facebook para fazer pequenos pagamentos com suas contas e promover páginas fraudulentas. Direito de imagemGETTY IMAGES Há alguns anos, o modo preferido de atuação de hackers era enviar vírus que se instalavam nos nossos computadores e podiam destruir nossos arquivos ou tornar o aparelho completamente inútil. Com a explosão de compras pela internet, porém, o foco de muitos deles passou a ser ganhar dinheiro. E as redes sociais se transformaram um de seus principais locais de atuação. De acordo com o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), um think tank americano, os ciberataques são responsáveis pelo roubo de cerca de 20% do dinheiro gerado na internet – aproximadamente US$ 400 bilhões por ano. Os números são estimados, já que nem todas as pessoas roubadas pela internet denunciam os crimes, e há muitos países que nem sequer guardam os dados. Desde malwares (softwares maliciosos) até phishing (roubo de dados por meio de links falsos), passando pelo ransomware (golpe em que computadores são infectados com um vírus que codifica e “sequestra” os arquivos – os invasores pedem um “resgate” por eles), sorteios e loterias falsas, todos têm o objetivo de conseguir dinheiro de forma fraudulenta. Agora, por meio dos anúncios colocados no Facebook para promover páginas pessoais, de negócios ou de eventos, foi descoberto um novo fenômeno no cibercrime. Roubo ‘por comissão’ Direito de imagemGETTY IMAGESCriminosos geralmente são responsáveis por páginas de apostas ou de sorteios e recebem comissões caso elas tenham mais tráfego Quando o participante da rede social resolve pagar um anúncio no Facebook para promover sua empresa, por exemplo, pode deixar os dados de seu cartão armazenados no site para futuras contas ou dar à página acesso a outras contas de pagamento como PayPal. Ao invadir nossas contas, os hackers sabem onde procurar e acessar esses dados. “Eles entram na conta do Facebook não para roubar grandes quantidades de dinheiro, mas sim para usar valores da vítima e promover seus próprios sites de apostas. Ao dirigir e aumentar as visitas a essas páginas, eles recebem uma espécie de comissão”, diz o especialista em segurança e privacidade na internet Graham Cluley à BBC. Direito de imagemGETTY IMAGESHá alguns anos o site criou a possibilidade de pagar por anúncios de páginas, negócios ou eventos na rede social Os criminosos basicamente se apossam momentaneamente da conta de Facebook da vítima e fazem pequenos pagamentos para anúncios de seu interesse. Como o dinheiro sai do bolso do usuário e em pequenas quantidades – algo entre US$ 2 e US$ 6 -, fica mais difícil detectar a fraude. Além disso, como o Facebook realiza a cobrança automática dos anúncios depois que o usuário contrata o serviço uma vez, o pagamento não costuma levantar suspeitas. Um programa de rádio da BBC chegou a receber o telefonema de um ouvinte que teve cerca de US$ 16 mil roubados por meio desse método. Questionado pela BBC, o Facebook admitiu que, neste caso, terceiros obtiveram acesso aos dados de login da vítima e foram feitos pagamentos fraudulentos para a promoção de páginas à revelia do dono real do perfil. Proteja-se Direito de imagemGETTY IMAGESSua segurança na internet depende da quantidade de informação sobre si mesmo que você compartilha nos sites e como a protege Graham Cluley fez algumas recomendações para que seja possível se prevenir. Primeiro, é preciso assegurar-se de que as informações sobre seus cartões de crédito não ficaram gravadas em seu computador nem em seu celular. Elimine também qualquer conta que contenha dados financeiros e esteja associada ao seu perfil de Facebook. Por exemplo, Paypal, ou um método de pagamento semelhante. Cheque o movimento em sua conta bancária com frequência. Pequenos roubos, mesmo frequentes, podem passar despercebidos. Se você tem suspeitas, peça informações ao Facebook. O site pode fornecer detalhes sobre os anúncios e páginas que você está promovendo, e qual foi a quantia investida neles. Caso você tenha feito uma campanha com anúncios pagos no Facebook, mas ela já chegou ao fim, também é possível pedir ao banco que não aceite mais cobranças que venham da rede social, a não ser que sejam autorizadas por você mediante contato.