São as tristezas entrando E as alegrias saindo
Deixei tudo lá, para me servir de choro e castigo
Boa noite. O Grito Renata Pallottini se ao menos esta dor servisse se ela batesse nas paredes abrisse portas falasse se ela cantasse e despenteasse os cabelos se ao menos esta dor se visse se ela saltasse fora da garganta como um grito caísse da janela fizesse barulho morresse se a dor fosse um pedaço de pão duro que a gente pudesse engolir com força depois cuspir a saliva fora sujar a rua os carros o espaço o outro esse outro escuro que passa indiferente e que não sofre tem o direito de não sofrer se a dor fosse só a carne do dedo que se esfrega na parede de pedra para doer doer doer visível doer penalizante doer com lágrimas se ao menos esta dor sangrasse
Boa noite. Ajuda Miguel Torga Porque o amor é simples, Vale a pena colhê-lo. Nasce em qualquer degredo, Cria-se em qualquer chão. Anda, não tenhas medo! Não deixes sem amor o coração!
— Nessa amplitude lôbrega e infinita
Toda a poesia é luminosa
E o que ficou das experimentações…
…sentido apenas pelos piscar de seus olhos.
Da calma e do silêncio Conceição Evaristo Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas. Quando meu olhar se perder no nada, por favor, não me despertem, quero reter, no adentro da íris, a menor sombra, do ínfimo movimento. Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem. Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia. Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra. Conceição Evaristo, no livro “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008. FotografiaTumblr