Tango
Mariza Lourenço
Ainda danço tango
com teus ternos
guardados no armário
Ainda faço amor
no mesmo ritmo
das lembranças
de tua língua
Ele não voltou para pegar suas roupas
e eu não joguei nada fora: nem as gravatas,
nem a flor seca que ainda teima em espalhar
um cheiro de despedida pelo quarto.
Deixei tudo lá, para me servir de choro e castigo,
para me fazer rastejar, sozinha, de culpa e desejo.
Ai, a ausência que nada preenche:
Nem os dedos, nem a vontade que surge quando não peço,
nem esta pouca vergonha que me faz gemer seu nome
enquanto me arrasto pelo chão.
Nem o tango que ouço enquanto umedeço.
Nem a saudade me revirando por dentro.
Nada preenche:
A fome.
…e a lembrança de suas mãos desenhando
em meu corpo todos los pasos de amor.