Poesia – Mariza Lourenço – 14/07/2021

Deixei tudo lá, para me servir de choro e castigo

Tango
Mariza Lourenço

Ainda danço tango
com teus ternos
guardados no armário

Ainda faço amor
no mesmo ritmo
das lembranças
de tua língua

Ele não voltou para pegar suas roupas
e eu não joguei nada fora: nem as gravatas,
nem a flor seca que ainda teima em espalhar
um cheiro de despedida pelo quarto.

Deixei tudo lá, para me servir de choro e castigo,
para me fazer rastejar, sozinha, de culpa e desejo.

Ai, a ausência que nada preenche:
Nem os dedos, nem a vontade que surge quando não peço,
nem esta pouca vergonha que me faz gemer seu nome
enquanto me arrasto pelo chão.

Nem o tango que ouço enquanto umedeço.
Nem a saudade me revirando por dentro.
Nada preenche:
A fome.
…e a lembrança de suas mãos desenhando
em meu corpo todos los pasos de amor.

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