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Manipulação: A TV como fator de desinformação

Televisão e Manipulação Informativa Por Francisco Julio Xavier* Estamos vivendo a era do desespero. Gritam por socorro os noticiários, desesperados – essa é a palavra, estão a sombra do desastre – por sucumbirem depois de uma era em que os meios tradicionais de comunicação reinaram no cenário midiático. Pode parecer uma teoria negativista, mas não é; seria positivista – creiamos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Tem se tornado um constante drama para meios hegemônicos a queda em receita vindo da publicidade, causa maior, devido ao seu enfraquecimento em audiência e alcance de público, que agora não tem apenas o controle remoto, mas a vastidão das redes sociais e da internet como toda. Algo que podemos constatar é a luta diária travada pelos meios em reverter essa situação de distanciamento do público para a internet. Uns se preparam para esse novo cenário e tentam a convergência, mesmo que tímida. Outros abrem espaço amplo para as pautas oriundas da rede – em massa, das mídias sociais. Dada a carência de audiência, cada vez mais visível, a hora de reverter a nova onda está se deslanchando em desespero nítido e ridículo. A televisão tenta, a todo custo, destruir a nossa inteligência, já que não consegue combater a nossa migração para a rede mundial de computadores. Vem sendo postas em prática, diariamente, formas de barrar o nosso distanciamento do meio hegemônico de décadas, a televisão. Querem que coloquemos novamente em destaque na nossa sala, aquele aparelho receptor que escabrosamente consentíamos doses cavalares de manipulação diária em nossas residências. Barrando a concorrência Para maior desespero, não foi somente o público que migrou, mas também os anunciantes, para os quais existe a expectativa de investimento em publicidade nos meios eletrônicos, ainda nesta década, de US$ 500 bilhões por ano – como afirma relatório da WFA (World Federation of Advertisers), publicado no Financial Times. Em reportagem, O Globo deu destaque para as fraudes do Google, pelo qual, em anúncios feitos na grande rede mundial, empresas poderiam perder em média 10% para os fraudadores de visualizações. Com esse enfoque na reportagem, a artimanha tenta desestimular os empresários em anunciar em concorrentes indiretos da TV, o YouTube e similares. Mas de igual forma, indícios de falcatrua também são apontadas para empresas que avaliam a audiência na TV, deixando margem e passividade para fraudes. Além do mais, está cada vez improvável saber se o público-alvo está sendo impactado com a propaganda veiculada em televisão, tendo em vista que os telespectadores não estão sendo empolgados a continuar assistindo aos intervalos comerciais. Com a multiplicidade de telas (celulares, tablets e desktops), o telespectador tende a fugir, nos reclames da TV, para atividades que acha ser mais interessante e menos maçante – como ver postagens em redes sociais – do que ver anúncios e publicidade na velha mídia. Recentemente quiseram jogar a contragosto da população a lei que autoriza o limite de uso de internet no país. Para a Rede Globo de Televisão foi uma oportunidade de defesa – não da população e dos seus diretos, mas dos empresários, ou melhor, dos anunciantes. Em reportagem do dia 24 de abril, o Fantástico desenhou que estamos mesmo à mercê da manipulação e dos grandes interesses empresariais e políticos. O programa dominical vendeu na reportagem que, nós, consumidores de internet, estamos abusando no uso, ou seja, gerando desperdício. Faltou nas entrelinhas o informe que a reportagem era encomenda em acordo de livre comércio pelas empresas de telecomunicações do país. Insistimos que faltou informar esse detalhe na matéria veiculada. Não se dá crédito à crise política A população virou ré na questão, por assistir vídeos demais; ver postagens demais em redes sociais. Como sempre, defendeu o lado dos anunciantes. Pelo título já dava para saber: “Internet fixa ilimitada pode estar com os dias contados no Brasil”. Com isso, o maior grupo de comunicação do país passou a informação curta e grossa: estamos do lado dos lucros e contando os dias para que isso aconteça de fato, e deu o veredito: corte a internet, ganharemos ambos com isso. Com essa tática, a Globo ganharia de duas formas: anunciantes voltariam a atuar na TV – por cair o acesso em horas diárias dos consumidores na internet; e da volta dos internautas para a frente da TV – ganharia mais horas de público assistindo o grotesco da programação. O que constatamos nessa reportagem é que a mídia não está preocupada em garantir direitos, mas em retirá-los – quando isso ameaça seus interesses mesquinhos: o lucro desenfreado e abusivo. Sentimos reféns de uma jogatina em prol da receita particular. Não houve na reportagem um detalhamento de como o consumo de dados impactaria a receita das empresas de telecomunicações. Apenas repassaram a culpa para os usuários e a conta também. Em nenhum momento se preocuparam em informar que o acesso à internet é um direito básico nos dias de hoje, tendo em vista que a comunicação flui mais descentralizada e que foi garantida pelo Marco Civil da internet. O poder da rede causa desespero nos empresários e políticos. Chegaram a defender a restrição a filmes e séries através de plataformas, como é o caso da Netflix. O péssimo serviço prestado pelas operadoras (entre os 10 piores do mundo) não é relatado, nem levado em consideração, mas os lucros são lembrados sem demora para o raciocínio do grande público. Apenas basta a fala: somos nós, os usuários, os culpados. Não é só essa questão que é distorcida nesse jogo de cartas marcadas. Para demostrar que não estamos no caminho certo, que a economia está em profundo desastre, não se dá os devidos créditos a outra crise, a política, que tem feito arruaça no país. Uma nota brevíssima e a desculpa Mas, bem antes, quando o rumo era destruir um governo, fez-se em seus noticiários o Brasil idealizado como uma “nova Grécia”, prestes a dar o calote e a se afundar no rio de amarguras da economia. Muitas notícias bombas eram jogadas nos jornais, e de mesmo modo eram escondidos os reais

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Pequeno manual de guerrilha antimídia: pegadinhas e trolagens

O jornalista Pedro Bial rugindo de quatro no chão, junto com outros “pacientes” numa sessão de terapia de um “famoso psicólogo” que depois revelou-se falso – um artista plástico norte-americano especialista em “pegadinhas” para desmoralizar a mídia; links ao vivo da TV Globo sendo invadidos por ativistas gritando “ Fora Temer!” ou “Globo golpista!”; falsas mobilizações convocadas na Internet para enganar jornalistas em Portugal. Estamos no campo das guerrilhas antimídia, guerra semiótica de contra-comunicação através de táticas como “ media prank” (“pegadinhas”) ou “cultural jamming” (“trolagens”). Depois que o atual sistema político-partidário for implodido pelo complexo jurídico-midiático (ministérios públicos+Judiciário+Globo) restará às esquerdas não apenas as ruas, mas a oportunidade de sistematizar guerrilhas semióticas contra o ponto fraco da nova hegemonia: a grande mídia. Como de costume, o historiador e comentarista da rádio Jovem Pan Marco Antonio Villa abriu a agenda que o prefeito de São Paulo Fernando Haddad disponibiliza na rede. E como de hábito, gritou escandalizado no programa de rádio: “está escrito o seguinte: a partir das 8h30, despachos internos. O resto está em branco! Branco! Não há nada!”, como fosse a evidência da “incapacidade de alguém pouco afeito ao trabalho”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Só que Haddad preparou uma “pegadinha” no solerte historiador. Cansado das críticas diárias nos últimos três anos, o prefeito substituiu sua agenda pela do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), com quem o comentarista mantém relações, digamos, cordiais. Após a desmoralização ao vivo do histérico comentarista da Jovem Pan, Haddad voltou a publicar a agenda correta com os compromissos do dia. O que o prefeito de São Paulo fez foi aplicar uma simples peça de guerrilha semiótica – conjunto de táticas que ajudam a demonstrar, em tempo real, omodus operandi de uma grande mídia onde o papel dos repórteres, editores e colunistas nada mais é do que encaixar, a todo custo, os fatos em uma narrativa já pré-estabelecida nos aquários das redações. O cachimbo entorta a boca Ao longo desses dez últimos anos (principalmente com a implementação do que chamamos de “bombas semióticas” a partir de 2013 – clique aqui), a grande mídia sempre se mostrou bastante vulnerável a esses tipos de “pegadinhas”, muitas vezes de forma involuntária, como foi demonstrado nos episódios do “falso estudante do Enem” (clique aqui) e do “tem alemão no campus” (clique aqui). A necessidade diária de encaixar rapidamente qualquer acontecimento a uma narrativa pronta estressa jornalistas que sempre vivem no fio da navalha das próximas “barrigas”, atos falhos, deslizes, trocadilhos involuntários etc., principalmente no ambiente atual das mídias ao vivo, on line e em tempo real. O costume do cachimbo é que entorta a boca. Jornalistas parecem estar sempre trabalhando no modo automático, criando uma espécie de traquejo onde veem em qualquer fato um índice, uma evidência de confirmação de uma hipótese pré-existente. O que os torna extremamente vulneráveis a qualquer ação organizada de guerrilha anti-mídia, como já foi demonstrado no histórico do ativismo anti-midiático que veremos adiante. Essa foi uma evidente oportunidade perdida nesses últimos anos  onde as estratégias de comunicação do PT ou do Governo Federal deveriam implementar como contra-ataque a guerrilha semiótica. Assim como o fez Fernando Haddad em um exemplo isolado. Implosão do sistema político-partidário Após o afastamento da presidenta Dilma e a aposta alta do PGR (Janot pediu a prisão de Sarney, Jucá e Calheiros) ameaçando implodir o sistema político-partidário brasileiro, ficou claro para os analistas o projeto maior por trás da Operação Lava-Jato de Sérgio Moro: o fim da política e a hegemonia de uma ordem jurídico-midiática – ministérios públicos+Judiciário+Globo. A velha ordem de coronéis provincianos é lenta e imprevisível demais para implementar as amargas medidas econômicas neoliberais. Além de que essas medidas são impopulares demais para resistirem a um debate político-eleitoral. Uma nova ordem futura, sob os escombros do sistema político-partidário atual, contará com o necessário apoio da grande mídia para tornar verossímil o remédio das medidas impopulares tais como fim dos direitos trabalhistas, brutal reforma previdenciária, arrocho salarial, desmonte do SUS e programas sociais etc. E, claro, assim como na Itália onde a implosão do sistema político-partidário com a Operação Mãos Limpas (referencia da atual Operação Lava-Jato) levou o barão midiático Berlusconi ao poder, no Brasil espécimes midiáticos como Dórias, Datenas ou Hucks poderão se tornar futuros líderes carismático-midiáticos. Como sempre, prometendo “renovação completa na política”. Esse é o cenário futuro pós-implosão do sistema PT-PSDB-PMDB, um cenário onde medidas impopulares serão implementadas por instituições afastadas do escrutínio eleitoral com o apoio da grande mídia para torna-las um mal necessário para a opinião pública. Denúncias nas redes e em mídias alternativas e as ruas serão o que restará para as esquerdas. Mas é necessário atacar os pés de barro dessa ordem: a grande mídia e seus cães sabujos jornalistas. Por isso, mais uma vez, apresenta-se a oportunidade de aplicar um organizado contra-ataque de comunicação: a guerrilha semiótica. O objetivo: desmoralizar e desconstruir ao vivo a narrativa da grande mídia. Guerrilha antimídia Podemos perceber aqui e ali sinais da consciência da necessidade dessa estratégia, por assim dizer, anárquica de se contrapor ao poder midiático. Além da iniciativa isolada da pegadinha do prefeito Haddad, observamos uma crescente intervenção em links ao vivo, especialmente da TV Globo: ativistas invadindo o enquadramento da câmera gritando frases como “Fora Temer” ou “A Globo apoiou a ditadura”. Alguns aparecem segurando cartazes como fossem papagaios de pirata dos incomodados repórteres. Desde a publicação do livro Steal This Book (“Roube esse Livro”) de Abbie Hoffman em 1971 (um manual de técnicas de ações anti-mídia, governo e corporações), o ativismo contra a grande mídia acumulou uma série de estratégias e dispositivos que podem ser agrupados em duas categorias principais: media prank (“pegadinhas”) e culture jamming (“trolagens”). (a) Media Prank Media prank ou “pegadinha” é um tipo de evento midiático perpetrado por certos discursos encenados, pseudoeventos ou falsos comunicados a imprensa com o objetivo de enganar jornalistas para que estes produzam notícias errôneas ou falsas (“barrigas”). Em 1995 o telejornal Bom Dia Brasil da TV Globo apresentou uma notícia sobre um

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A peregrinação absurda a que a Justiça do Paraná submete um grupo de jornalistas

Magistrados movem série de ações contra jornalistas da ‘Gazeta do Povo’ após reportagem sobre ‘supersalários’ Ações judiciais obrigam repórteres do jornal a rodar o Estado do Paraná para responder a processos. Cena do filme ‘O Processo’, de Orson Welles, adaptado da obra de Kafka Há cerca de dois meses, um grupo de jornalistas percorre as estradas do Paraná tal qual o personagem principal do romance O Processo, de Franz Kafka. Na ficção, o protagonista Josef K. anda por corredores labirínticos de um tribunal soturno, participa de sessões e dá testemunhos sem nunca descobrir do que, de fato, é acusado. Na vida real, os jornalistas do diário Gazeta do Povo, de Curitiba, sabem bem o que motiva os processos movidos contra eles. Mas a sensação de absurdo, proporcionada por um périplo sem fim para comparecer em dezenas de audiências em diferentes comarcas e que sempre tratam do mesmo assunto, é bem semelhante. Até agora, são mais de 6.000 quilômetros rodados – uma média de 98 por dia – e 19 cidades visitadas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Essa história começou em fevereiro deste ano com a publicação de uma série de reportagens que trata da alta remuneração da Justiça e do Ministério Público do Paraná (MP-PR). Durante duas semanas, os repórteres Rogerio Galindo, Chico Marés e Euclides Garcia dedicaram-se a compilar dados sobre os vencimentos de juízes e membros do MP-PR. As informações usadas estão todas disponíveis, segundo determinação da lei de transparência, para qualquer cidadão interessado no site das instituições. O resultado do levantamento foi a descoberta de que somados salários e benefícios, magistrados e promotores recebem, em média, ordenados que extrapolam em mais de 20% o teto do funcionalismo público. MAIS INFORMAÇÕES Reajuste do servidor e 14.000 novos cargos: austeridade de Temer em xeque Marcos Nobre: “O impeachment é estratégia de defesa contra a Lava Jato” Daniel Vargas: “Interferência do Judiciário na crise não é remédio, mas parte da doença” A reação não tardou. Em março, logo após a publicação na Gazeta do Povo de um direito de resposta conjunto da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar) e da Associação Paranaense do Ministério Público (APMP) – que se sentiram lesadas com as reportagens –, processos começaram a ser movidos contra o jornal e os signatários da série de artigos. Não ficaram de fora nem o analista de sistemas Evandro Balmant, que ajudou na compilação dos dados salariais, já que o formato disponível no site da Justiça paranaense é pouco amigável, e nem o infografista Guilherme Storck, que elaborou o material gráfico. Os autores das ações, todas abertas em Juizados Especiais, em que as duas partes são obrigadas a comparecer presencialmente para uma audiência de conciliação, são juízes e promotores de diferentes municípios do Paraná. Nos processos, que por enquanto somam 37, o texto é praticamente idêntico: os reclamantes sentem-se ridicularizados e expostos, alegam danos morais e dizem que os pagamentos estão todos dentro da lei. “A reportagem não afirma que os pagamentos são ilegais, a intenção é apenas levantar um debate público sobre teto salarial e a real remuneração no funcionalismo público” comenta Rogerio Galindo. Em um dos textos, é dito literalmente sobre os vencimentos: “Fica tudo dentro da legalidade, claro. O que se questiona é a moralidade e também os efeitos desse tipo de coisa”. Ao todo, as indenizações pedidas nos processos somam mais de 1 milhão de reais. “Não é possível fazer acordo de conciliação nas audiências, porque isso seria como uma confissão de culpa”, defende Galindo. Para a Gazeta do Povo, a moção das ações é uma iniciativa coordenada que visa inviabilizar o trabalho da imprensa. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) concorda. “Os processos não buscam a reparação de eventuais danos, mas intimidar, são um atentado à democracia”, registrou em nota. Já a Amapar diz que não há coordenação e que os reclamantes exercem apenas seu direito, já que a reportagem sugeriria que existe um ato ilícito sendo praticado ao usar expressões como “supersalários” e “chicana”, que induziriam o leitor a acreditar que o salário real está sendo aumentado por meios escusos. Uma charge com um homem de toga segurando um saco de dinheiro também foi considerada ofensiva por eles. “É claro que qualquer pessoa, inclusive os magistrados, tem o direito de entrar com ações nos juizados especiais, mas o argumento de que houve exposição vexatória é, no mínimo, estranho, já que a reportagem usa como base dados públicos”, comenta Michael Mohallem, professor de Direito na Faculdade Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro (FGV-RJ). Para ele, o que a reportagem levanta, ainda mais em tempos em que se fala em ajuste fiscal, é algo que precisa ser discutido no Brasil. “Se for uma ação coordenada, os processos movidos contra os jornalistas só são mais um exemplo da dificuldade que o Judiciário brasileiro tem de lidar com a crítica aberta, apesar de estarmos falando de pessoas que ocupam uma posição pública”, diz. Transparência e Justiça Segundo Luciano Da Ros, cientista político e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), quando se fala em ajuste fiscal é comum que só se pense no poder Executivo, mas não há razão para que isso não seja feito também em outras esferas. “O Judiciário brasileiro tem uma autonomia enorme e pouca tradição de fiscalização externa; não à toa, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi criado há pouco mais de 10 anos, e o resultado disso é que há muito pouco incentivo para que os tribunais controlem seus próprios gastos e sejam eficientes”, comenta. Da Ros é coautor, ao lado do brasilianista Matthew M. Taylor, de um estudo que faz um comparativo da eficiência da Justiça brasileira com a de outros países. Uma das conclusões é que a despesa do Poder Judiciário brasileiro é a maior do mundo ocidental: 1,30% do PIB, enquanto os gastos de países como Espanha, EUA e Inglaterra ficam entre 0,12% e 0,14%. Da Ros argumenta que existem vários motivos que explicam essa despesa tão discrepante, e um deles é a alta

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The Guardian anuncia 250 demissões para ser rentável em três anos

Empresa enfrenta com urgência “uma mudança radical” e espera que as saídas sejam voluntárias Katharine Viner. Gorka Lejarcegi O jornal britânico The Guardiananunciou planos de cortar 250 postos de trabalho para equilibrar contas que resultaram no último ano em perdas de 58,6 milhões de libras (307 milhões de reais). No total, a equipe do diário no Reino Unido se reduzirá em 18%, o equivalente a 310 empregos, já que outros 60 postos permanecerão sem reposição porque não será renovado o contrato dos atuais ocupantes. A empresa acredita, segundo informação publicada em sua edição online, que todos os cortes serão alcançados com saídas voluntárias. Os planos da editora de The Guardian e The Observer, a edição dominical do jornal, incluem a reestruturação das partes menos rentáveis do negócio para tentar sair dos números vermelhos em três anos. Entre outras medidas, a empresa abandona o projeto de transformar um galpão ferroviário em um espaço para eventos. O Guardian Media Group conta com uma equipe de 1.960 pessoas. Um total de 750 pertence à área editorial, da qual serão cortados 100 funcionários. Os outros 150 postos serão eliminados em outras áreas do negócio. Os 210 trabalhadores fora do Reino Unido não estão incluídos nas previsões de redução do quadro. Os custos trabalhistas do grupo representam a metade do total.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em um correio eletrônico à equipe, a diretora de The Guardian, Katherine Viner, e o diretor-executivo, David Pemsel, afirmam que “o volátil ambiente dos meios” desencadeou “uma necessidade urgente de atuação radical”. “Nosso plano de ação tem um objetivo: garantir a integridade jornalística e a independência financeira de The Guardian para a perpetuidade”, acrescentam. Em janeiro, The Guardian apresentou um plano de três anos com o objetivo de conseguir o saneamento das contas para o exercício 2018-2019. As medidas incluem reduzir em 20% os custos, o que equivale a 262 milhões de reais, potencializar novas fontes de receita e um novo modelo de assinatura. A ediçãoonline de The Guardian é aberta e gratuita, e conta com 7,35 milhões de usuários únicos por dia. É o segundo jornal diário britânico com mais tráfego, depois doMail Online. The Guardian está com perdas há mais de uma década, mas a empresa se encontra entre as editoras mais seguras financeiramente no país. O Guardian Media Group possui importante receita procedente do Auto Trader, negócio de anúncios classificados da indústria automobilística. A propriedade do grupo está em mãos do Scott Trust, cujo compromisso é garantir a independência financeira e editorial de The Guardian. O ano de 2015 foi devastador para o setor dos meios de comunicação. Segundo explica o próprio jornal, “grandes empresas, como Google e Facebook, monopolizaram o mercado de publicidade” e “o crescimento das empresas de telefonia móvel torna mais difícil obter ganhos econômicos”. As receitas com publicidade impressa no Reino Unido caíram 25%. O jornal The Independent deixará de ser publicado em papel na semana que vem e outros grupos jornalísticos também fizeram cortes em sua equipe. Os lucros dos jornais líderes do mercado, The Daily Telegraph, The Sun e The Daily Mail, caíram 40% na última década. E o Financial Times, por sua vez, foi vendido no final do ano passado para o grupo japonês Nikkei. Há apenas duas semanas, porém, foi colocado no mercado um novo jornal impresso no Reino Unido. Trata-se de The New Day, propriedade do Trinity Mirror, o maior grupo editorial britânico. É o primeiro diário impresso lançado no país em 30 anos, tem 40 páginas, sai a um preço inicial de 25 pences (1,3 real) e não possui edição online. ElPaís

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Redes Sociais: Os efeitos da saturação informativa na atual crise brasileira

Como qualquer um entre os quase cem milhões de brasileiros usuários de redes sociais, oscilo diariamente entre o desejo abandonar de vez o hábito de consultar o púlpito alheio virtual e o de reconectar-me a ele compulsivamente. Recentemente fui informado de que há rumores dando conta de que, entre a magnitude de adeptos das redes, poderia existir um remotíssimo e obscuro percentual de usuários que conseguiriam, nestes dias de turbulência política, passar infensos à esta bipolaridade. Eu digo com tranquilidade que nunca vi essas pessoas nem na minha timeline nem no meu feed de notícias e isso, pelo menos no meu universo de observação, reforça a ideia de que, diante da atual crise política, todos sucumbiram ao delírio voluntário – ao próprio e ao alheio – ainda que por motivos e em graus diferentes.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Não obstante a possibilidade acima estar mesmo correta, o número de pessoas que não resiste à opção de abandonar o uso das redes sociais ou pelo menos suspendê-lo é cada vez maior, principalmente entre os mais jovens. E isto é tão mais real quanto se pense no Facebook, entre todas a mais usada das redes em todo o mundo. Isso é o que aponta, por exemplo, recente reportagem da Folha de São Paulo, segundo a qual, para além do acirramento político, outros fenômenos parecem competir na ampliação do desinteresse juvenil, tais como a presença dos chamados “textões” e a repetição persistente de conteúdo. Seriam fenômenos que estariam colaborando com o cenário de evasão. A reportagem dá conta de outras explicações também, de natureza mais psicológica, além de apontar a preferência crescente pelo uso de redes de conteúdo mais visual ou expresso, como o Instagram e o Snapchat. A bem da verdade, esta parece ser uma tendência anterior aos eventos políticos mais recentes, mas que agora se acentua mais ou menos na mesma proporção em que evoluem as repercussões políticas e a subsequente histeria virtual. Não é muito difícil entender as motivações do abandono, uma vez que a temática política, pelo menos a realizada nos moldes tradicionais, é vista com grande desconfiança pelo público adolescente e jovem adulto. Quem imaginar, entretanto, que no principal concorrente do Facebook a situação esteja diferente, pode estar muito enganado. No Twitter, veículo preferencial entre os adultos e o meio político, a pancadaria ideológica e a proliferação da agressividade têm sido predominante e até mesmo as redes baseadas em imagens, como o Instagram, têm sido tomadas de assalto pelos grandes “significantes” das redes: os memes. Para este caso, majoritariamente aqueles com motivos políticos. Mais que a constatação tácita da reprodução massiva de memes e do irrefreável potencial discursivo das redes, interessa notar que o arsenal argumentativo individual costuma valer-se também de fontes externas ou, como querem os sociólogos, de discursos de autoridade ou “produtores de interesse”. Desta prática diária, constante, costumam desfilar regularmente no meu feed de notícias e no de qualquer pessoa com um mínimo de diversidade de conexões pessoais, fontes bastante heterogêneas. São fontes que costumam ir desde veículos consagrados de imprensa, passando por fontes menos usuais, como blogues e até mesmo opiniões de intelectuais e artistas que emitem opiniões na rede. O festival de opiniões costuma ser farto e enlouquecedor, principalmente porque mixam-se nele as opiniões mais ou menos elaboradas das próprias pessoas. Embora presentemente exista uma polarização evidente entre o que se poderia chamar de “governismo” e “oposição”, o leque de nuances no campo das opiniões é muito maior do que essa divisão oferece. A “opinião formada” das redes costuma partir da reprodução comentada de crenças políticas consolidadas e fontes identificadas com meios formais, partidos políticos ou movimentos organizados, enquanto que o dissenso é essencialmente anárquico. É natural: há quem diga, por exemplo, que não existiria Facebook sem o “compartilhar” nem o Twitter sem o “retweet”. Ainda assim, é nesse caldeirão de ideias emprestadas e opiniões desencontradas que vem ganhando cada vez mais forma uma visão multifacetada, ou rashomônica, da realidade e da história presente. Porém, assim como no célebre conto de Akutagawa ou mesmo no filme de Akira Kurosawa, é necessário ao espectador antever na narrativa de cada um que deseja oferecer sua versão dos fatos, uma forma peculiar de dizer a verdade e, ao mesmo tempo, de deliberadamente falseá-la. “Dentro de um bosque” (Yabu no Naka), o conto que deu origem ao Rashomon de Kurosawa, resume-se na história de um assassinato mal explicado que é debatido através de uma sucessão de flashbacks dos personagens, que acabam desmontando-se e remontando-se consecutivamente, como se num puzzle interminável. Trata-se de uma narrativa que evoca as escassas possibilidades de buscar-se a verdade dos fatos, a verdade filosófica, a partir de relatos de pessoas diretamente interessadas, mas que também não se furta a investigar e esclarecer o caráter que move as decisões humanas. Evidentemente ninguém espera atualmente encontrar a natureza humana vagando entre os memes das redes sociais e suas opiniões cabais, mas, olhando bem, como naquele templo, as “armas” empunhadas para muitos dos debates acalorados de agora às vezes também parecem, aos olhos de quem quer que seja, feitas de pura mentira e invencionice, ao invés do aço desejável dos samurais. Por isso há tantos que consideram que os debates virtuais são “falsos debates” e deles procurem se afastar como o diabo foge da cruz. É um comportamento a que, lógico, ninguém cabe recusar, mas sobre o qual podem recair dúvidas e para o qual alguns questionamentos tornam-se possíveis. Talvez bem mais simples fosse adotar a interpretação do recém falecido Umberto Eco, que afirmou no recebimento de uma de suas últimas condecorações que as “mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”. Mais simples, menos sério e possivelmente mais sem graça. Afinal, o atrativo dos debates online reside no mais das

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Manipulação e redes sociais: Cuidado com os “bots”

As pessoas interessadas em distorcer informações para favorecer objetivos pessoais ou institucionais estão usando recursos cada vez mais sofisticadas, o que obriga os jornalistas a serem também mais sofisticados na identificação da manipulação de notícias. Por Tom Trewinnard em 15/03/2016 na edição 894 Publicado originalmente no site First Draft News, 12/2/2016 sob o título “Source Verification: Beware of the Bots“. Tradução de Jo Amado. Checar suas fontes é fundamental para qualquer investigação online. Quando você encontra vídeos ou imagens irresistíveis, chegar ao “quem” as fez ou de “onde” vieram é essencial. E os Guias de Checagem Visual do First Draft News fornecem uma excelente visão de conjunto dos itens que devem ser levados em consideração quando se pretende checar uma fonte. Há guias especiais para checagem de fotos e para vídeos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O cenário ideal, evidentemente, é poder falar diretamente com uma fonte, se possível, pelo telefone ou pessoalmente. Mesmo assim, podem ocorrer erros, principalmente quando a fonte está fingindo ser alguma coisa ou alguém que não é. Muitas vezes, essas pessoas são apenas farsantes, mas há uma tendência crescente de casos de pessoas que usam identidade falsa para fins fraudulentos [sockpuppets]: identidades falsas online criadas para atrapalhar determinadas pautas políticas ou sociais. No entanto, as fontes podem não responder quando você tenta falar com elas. Talvez estejam ocupadas, ou talvez não queiram falar com jornalistas. Outro motivo poderia ser que a sua fonte que a sua fonte não seja uma pessoa coisa nenhuma: muitos casos que acontecem em redes sociais são bots [softwares concebidos para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, da mesma forma que o faria um robô]. Sockpuppets e bots colocam alguns desafios interessantes para checagem, principalmente em regiões do mundo onde governos os usam para manipular redes sociais (e isso significa uma parte do mundo maior do que você poderia imaginar) e sabendo como localizá-los pode poupar tempo e esforços. Localizando um bot Expor um caso de um bot pode ser de uma facilidade trivial ou ilusoriamente difícil. Veja, por exemplo, estas duas contas do Twitter: No caso do primeiro usuário, inúmeras bandeiras vermelhas aparecem instantaneamente. O nome incompreensível do usuário, a foto do perfil do Twitter com um ovo, o único e breve tweet – este usuário rapidamente se choca com as principais dicas para localizar contas falsas do First Draft. No entanto, a segunda conta, cujo último tweet fala de um preso paquistanês que fugiu de uma prisão em Gidá, na Arábia Saudita, é um desafio mais importante. Um número razoavel de seguidores (embora poucos) , uma boa amostragem de tweets, uma foto da pessoa real no perfil, nomes de usuário e de visualização aparentemente corretos e um conjunto de conteúdos (incluindo foto e vídeo) numa linguagem que poderíamos esperar. Precisamos trabalhar um pouco mais. Primeiramente, vamos checar a foto do perfil. Trata-se de uma imagem original? Tentemos fazer uma busca reversa das imagens : Uma bandeira vermelha que surge imediatamente sugere que a foto do perfil seja, na verdade, de um homem chamado Khalaf Al-Ali, um diplomata saudita assassinado em Bangladesh em 2012. Portanto, talvez este usuário tenha postado sua imagem como uma recordação do diplomata. Continuemos investigando. O segundo passo é ver se conseguimos encontrar uma pessoa chamada Rahi Al-Msalkhe procurando no Google pelo seu nome no idioma árabe. Qual o objetivo dos bots? Não há qualquer retorno senão a conta do Twitter que estamos investigando e outra bandeira vermelha. Talvez esta pessoa tenha posto um nome falso na conta? Não é tão incomum. Como terceiro passo, examinemos com mais cuidado os tweets da conta. Parecem ser, em sua maioria, compartilhamento de links no idioma árabe com dois ou três tweets em inglês. Nada de extraordinário. Após uma breve busca, este tweet parece o mais pessoal e possivelmente dá uma localização: Tradução: “Qual é a melhor loja de chocolate em Gidá?????” É uma boa pergunta, mas parece que ninguém respondeu. Vejamos se alguém mais fez a mesma pergunta no Twitter. Puxa vida! Parece que às 22:15 (horário da Costa Oeste dos Estados Unidos) do dia 14 de janeiro, cerca de 100 contas fizeram exatamente o mesmo tweet. É difícil imaginar uma situação em que isso acontecesse na vida real e, se repetirmos a busca em dois outros tweets de @almsalker881, descobriremos que se trata de um padrão repetido. A esta altura, podemos dizer com segurança que, na melhor das hipóteses, esta conta está comprometida e que muito provavelmente se trata de um bot. Ao clicar em qualquer das contas que tenha feito tweets do conteúdo duplicado, obtemos resultados semelhantes. Qual será o objetivo deste exército de bots? Desconhecendo quem está por trás dele, é difícil dizer. Mas algumas das maneiras que já vimos contas serem usadas por bots e sockpuppetsforam para mandar mensagens não desejadas pela internet e para caluniar ativistas, para apagarhashtags e criticar autoridades e para disseminar desinformação. Consciência das possibilidades Esses esforços por parte de Estados podem ser mais elaborados do que você imagina. Em 2015, o repórter Adrian Chen, do New York Times, publicou uma matéria fascinante com uma visão aprofundada de uma “fábrica de trolls” russa [um departamento aparentemente voltado para disseminar notícias e opiniões pró-Putin nas redes sociais]. Chen rastreia algumas campanhas de desinformação extremamente complexas que o levam de volta à fábrica de trolls. Num exemplo, autoridades e moradores de uma cidade no estado de Louisiana receberam mensagens com advertências sobre uma explosão numa fábrica química e a disseminação de vapores tóxicos. Pelo Twitter, dúzias de contas começaram a enviar mensagens sobre a explosão, citando jornalistas importantes com screengrabs [captura de tela] da CNN.com mostrando as notícias “em cima da hora”. Surgiram vídeos mostrando imagens semelhantes às do Estado Islâmico em que era reivindicada a responsabilidade pela explosão. Rapidamente, apareceu uma página na Wikipedia descrevendo a explosão e fazendo o link entre os vídeos. Tudo isto era falso, inclusive clones que funcionavam como websites do noticiário local e divulgavam a matéria. Esse ataque de desinformação fez-se seguir por

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Exemplo típico da manipulação da informação

Não é de hoje que a mídia conservadora age como nos últimos dias e meses. Lembrei de um fato que fui protagonista, em 1987. Um programa na rádio Roquette Pinto, emissora do governo do Estado, todo sábado ao meio dia debatia política internacional. Nome: Tome Ciência Internacional. Num desses programas fiz uma entrevista em Montevidéu com o ex-capitão Jeronimio Cardoso, que sobrevoava a fazenda de Jango no Uruguai, durante a época inicial do exílio do Presidente deposto. Pois bem, o programa foi ao ar diretamente de Montevidéu, via telefônica. Fazíamos jornalismo. Findo o governo Brizola, o jornal O Globo acusou o ex governador de ter feito ligações pessoais de Montevidéu creditadas na radio Roquete Pinto.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O Globo sabia que era mentira, mas insistiu na cascata com o visível objetivo de incriminar Brizola. Falamos de 1987, deu até inquérito administrativo e ficou comprovado que Brizola não tinha nada a ver com a mentira assacada pelo jornal de Roberto Marinho. Escrevi para o jornal O Globo esclarecendo tudo, mas o democrático jornal ignorou. Ou seja, não lhe interessa a verdade, mas sim fatos para incriminar quem não reza pela cartilha reacionária da elite brasileira que abomina o povo. Achei por bem lembrar este fato no momento que que visivelmente se tenta linchar um ex-presidente. Agora, pensem bem, antes de 1979, quando houve a anistia em setembro, os golpistas tentaram de todas as formas incriminar Brizola, mas não conseguiram. Nem por isso desistiram e uma semana antes de Brizola morrer, o Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, o mesmo que publicou um livro dizendo que no Brasil não há racismo, escrevia em O Globo que o culpado pela violência no Rio era Brizola. Agora, os jornalões e telejornalões repetem o mesmo estilo histórico de sempre, que vai do mar de lama ao triplex do Guarujá, passando por um pedalinho em um sítio em Atibaia. Insistem nas cascatas ao estilo Goebels, o cara da propaganda nazista (uma mentira repetida inúmeras vezes acaba virando uma verdade). Quando tudo se esclarecer e as cascatas caírem por terra, como no caso a Rádio Roquette Pinto em 1987, o esquema Globo vai ignorar. É o jornalismo “imparcial”, que tem seguidores fiéis, do gênero senso comum, repetindo as  mentiras de O Globo e outros jornalões e telejornalões nas filas de bancos e de supermercados. São os tais que se comportam como papagaios de pirata. Não raciocinam, não refletem e só reproduzem as baboseiras  de O Globo e da Rede do mesmo nome. Mas a bem da verdade, não é só O Globo que delira no esquema da perseguição. Outro dia, no portal UOL  Notícias foi divulgada uma mentira absurda que dizia que a Ministra da Saúde da Venezuela, Luziana Melo, afirmara que os venezuelanos escovam os dentes em demasia, três vezes ao dia, o que provocava a falta de pasta de dentes no país. Pouco depois a mentira caiu por terra. E pior, foi revelado claramente a quantas anda o jornalismo naquele portal associado ao Grupo Folha. Foi eclarecido que a “informação”(entre aspas, claro) não só era mentirosa como foi colhida em um site humorístico venezuelano. Só que na ânasia de queimar o governo venzuelano, UOL Notícias divulgou a piada do site intitulado “Um mundo triangular”, como se fosse uma verdade absoluta. A mediocridade jornalística não parou aí. Desmentida oficialmente a notícia, o portal publicou o erro meio escondido, talvez com vergonha do jornalismo xinfrim. Os leitores que tomaram conhecimento da “informação” não tiveram conhecimento na mesma proporção do erro confirmado. Em suma, assim caminha, ou vomita,  a mídia conservadora, que ainda por cima diz a todo momento que faz jornalismo imparcial. E para finalizar: sugere-se aos que estão tentando apresentar na academia teses de mestrado, doutorado ou pós-doutorado que pesquisem com profundidade o que vem sendo feito pelo chamado jornalismo da mídia conservadora. Eis um tema que os brasileiros minimamente conscientes aplaudirão quem fizer isso. Mario Augusto Jakobskind/Tribuna da Imprensa

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Como reconhecer o fundo do poço?

Os autores divergem. Além dos raros sobreviventes, as vicissitudes são tamanhas que poucos se animam a revivê-las. Menos ainda são os que têm fôlego para teorizar sobre o dantesco percurso. Dante inclusive. O fundo do poço é irreconhecível – ou para usar uma expressão recuperada pelo escritor-filósofo Garcia Rosa em recente entrevista ao Observatório da Imprensa – é imperscrutável. Além da falta de referências o próprio conceito de fundo do poço é diabolicamente kafkiano. Elástico, portanto absurdo — chegamos ou ainda não? Agora ou daqui a pouco? Real ou imaginário ? Reversível ou irrecorrível?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Emérito sambófilo e sambólogo carioca, impregnado pelo Zeitgueist momesco afirma categórico que o fundo do poço será facilmente reconhecível pela trilha sonora: quando os blocos de rua começarem a entoar o inesquecível lamento atribuído a Wilson Batista – “Quero chorar, mas não tenho lágrimas! ” – será o sinal de que chegamos lá. Hora de encarar a tristeza brasileira que apenas Paulo Prado conseguiu enxergar. Ou tomar a saideira. Economistas gabam-se do arsenal de exatidões para reconhecer as características e o cenário do fundo do poço. Talvez pela extensão das ruínas e o teor dos escombros. Mas não explicam como, em apenas setenta anos Alemanha e Japão, igualmente arrasados, arruinados e derrotados escapuliram do fundo do poço — sem recorrer às tentações totalitárias. Fácil: o fundo do poço localiza-se no mapa da subjetividade e o caminho da volta, idem. Essencial: jamais resignar-se às “décadas perdidas” nem forçar prazos para coincidir com mandatos políticos ou o calendário eleitoral. O fundo do nosso poço é constituído de material fatigado, com validade vencida, irrecuperável. Dentro de dias, com o início do ano real, assustador, carregado de ameaças e urgências jamais vistas ou experimentadas – entre elas a quarta maldição do aedes egypti, o vírus da zika — nossas históricas carências em matéria de formação, treinamento e competência serão testadas continuamente. Para sair do fundo do poço faz-se necessária uma receita clara, direta, minimalista, capaz de ser compartilhada e compreendida. O clima de paroxismo que uma imprensa simplista, aprisionada pela inércia, só sabe amplificar, o fundo do poço afunda, movediço fica mais traiçoeiro, remoto. Com as pífias expectativas político-eleitorais do momento, é suicida esperar das urnas em Outubro algo inovador. Se o poder central se reconhece perplexo e a sociedade o vê impotente, as possibilidades de uma ação municipal efetiva são nulas. Zerar o placar político, estimular algum tipo de empate, igualar vencidos aos vencedores, abortar as desforras que se anunciam — o fundo do poço se reconhece no exato momento em que o retorno à superfície começa a angustiar. Outro lado: o zika rachou o lobby dos jornais O surpreendente incentivo do “Globo” ao debate sobre a legalização do aborto em fetos microcefálicos evoluiu rapidamente para tornar-se posição do jornal. Inacreditável que um jornal tão chegado à Cúria e depois tão próximo à Opus Dei tenha superado sua histórica subserviência aos dogmas para assumir uma posição mais secularista e liberal. Para diferenciar-se, a “Folha” rapidamente pulou para o outro lado, o lado pior: deu enorme destaque à inflexível condenação do aborto pela CNBB divulgada nos jornais de sexta-feira, 5/2. Jogada de marketing do “Globo”? Possivelmente. Mas também uma reversão política que não pode passar desapercebida – o Globo exibe uma elasticidade que poderá mostrar-se valiosa caso sua esmagadora hegemonia na praça do Rio venha a ser eventualmente contestada nos órgãos que fiscalizam a concorrência. Se pretende efetivamente diferenciar-se no lobby de jornalões a “Folha” deveria ter optado por questões onde sua autonomia diante dos parceiros de “O Globo” pudesse fazer a diferença em benefício dos leitores e do pluralismo do sistema de comunicação social.. *** Alberto Dines é jornalista, escritor e co-fundador do Observatório da Imprensa

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Jornal britânico ‘Independent’ deve sair do papel

‘Independent’ deve se tornar o primeiro jornal britânico a ficar apenas na edição digital. A ideia é usar os 25 milhões de libras da venda do jornal para melhorar o site (Foto: Wikimedia) É esperado que Evgeny Lebedev anuncie o fim das edições impressas do jornal britânico Independent nesta sexta-feira, 12. Ele está na etapa final de fechar negócio para vender o i, um jornal popular que financia o Independent desde seu lançamento em 2010. A ideia é usar os 25 milhões de libras da venda do jornal no site. O Independent deve se tornar o primeiro jornal nacional a ficar apenas na edição digital na Inglaterra.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Muitos dos 150 funcionários que trabalham nas publicações do i correm o risco de perder seus empregos. Espera-se que 20 a 40 funcionários trabalhem no grupo Johnston Press, dono da Scotsman, que deve comprar o i. Um número desconhecido deve ficar para trabalhar na expansão do site. O editor do i, Oliver Duff, disse que o novo proprietário deve continuar com o “ethos” do jornal e com o “DNA da publicação”. Fontes: The Guardian-Independent expected to announce closure of print editions The Guardian-Evgeny Lebedev in talks to sell i newspaper to Johnston Press

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Lava-Jato: O jornalismo político está matando a política

Em tempos de “combate à corrupção”, as delações premiadas se tornaram uma verdadeira obsessão dos jornalistas ligados ao segmento político no Brasil. Por: Ricardo José Torres¹ Atualmente, o leitor desinformado terá dificuldades para identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais presentes nas páginas dos jornais, sites e mídias sociais, particularmente nos veículos tradicionais de comunicação. A abordagem adversarial dos temas políticos não é novidade, entretanto, o jornalismo político contemporâneo pode ser comparado a um “esgoto a céu aberto”. Sem dúvida, o teor das “revelações” é estarrecedor, os índices de corrupção e a falta de comprometimento dos nossos representantes merecem ser divulgados e os interesses privados, que afetam o interesse público, devem ser revelados. Mas, em uma perspectiva embasada nos princípios da ética jornalística, podemos afirmar que o conteúdo das delações pode ser considerado informação política?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Para clarear os aspectos e os dilemas éticos que envolvem essa problemática recorro à etimologia de duas palavras que, na minha opinião, devem estar atreladas a abordagem de temas políticos, são elas: respeito e política. A origem da palavra respeito está relacionada ao Latim, respectusque significa “olhar outra vez”. O sentido singular da palavra, e que quero enaltecer, está ligado a algo que merece consideração. Os temas políticos que emergem da sociedade merecem “respeito”, nem tudo o que é político está impregnado pelo miasma da corrupção. O jornalista Jonathan Stray (2015) lembra que a política não pode se limitar aos políticos e aos governos. ““Política” não significa políticos, nem governo. O governo é um dos lugares em que ocorre a política, com certeza. Mas a política é muito mais do que isso: é o conjunto de maneiras pelas quais as pessoas se juntam para exercer o poder coletivamente”. As convenções jornalísticas consolidadas ao longo dos anos no segmento político trouxeram uma série de limitações e debilidades. O jornalismo político se transformou em um espaço repleto de vícios excludentes onde apenas alguns “escolhidos” podem transitar. “A maioria das coberturas políticas é sobre políticos, e não sobre as coisas com que me preocupo e com as medidas que eu poderia vir a tomar” (STRAY, 2015). A palavra política está relacionada ao Grego politikos, que significa cívico, e polites, que está ligado a cidadão, além da palavra polis relacionada à cidade. Em linha com esse conjunto de sentidos cabe observar que as abordagens preponderantes, sobre temáticas políticas, buscam constantemente ratificar a política como algo que causa danos à sociedade. Em um artigo com o título “É política sim, Geraldo”, a jornalista Eliane Brum descreve com propriedade os riscos que essa perspectiva pejorativa pode apresentar e expõe alguns aspectos políticos que o caso da ocupação das escolas de São Paulo oferece. Brum (2015) destaca uma declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmim: “Não é razoável obstrução de via pública, é nítido que há uma ação política no movimento. Há uma nítida ação política”. A jornalista enaltece que a ocupação das escolas de São Paulo, obviamente, é um tema político que merece ser abordado como tal, especialmente diante do cenário degradante vivenciado pela política institucional: “Mas, vale repetir, o que o governador denuncia? Que o movimento é político. Qual seria a acusação? É óbvio que o movimento é político. E a melhor qualidade do movimento é justamente a de que é político”. De acordo com Brum (2015), por meio do exercício da política a sociedade alcançou o que de melhor existe na experiência humana. Para a jornalista, a suspensão da política significa a instauração da aniquilação. A quem interessa a degradação da política? Uma constatação que parece óbvia diante da apresentação adversarial dos temas políticos, particularmente a preponderância de informações relacionadas a corrupção, é que quanto mais a percepção sobre o universo político é negativa mais ele se restringe aos especialistas habituais. A omissão de informações políticas relacionadas aos diversos grupos que estão à margem do sistema político institucional/formal e buscam discutir e apresentar argumentos no cenário político, demonstra a centralidade do entendimento de política e, ao mesmo tempo, quem são os atores políticos que merecem notoriedade para o jornalismo político. Ao voltar as suas atenções, quase que exclusivamente, aos criminosos das operações da Polícia Federal e aos políticos “profissionais”, as editorias de política se descolam dos debates políticos presentes na sociedade. Esses fatores ocasionam o apagamento e a deturpação da etimologia da palavra política que, como já visto, está ligada ao cidadão e à cidadania. Recentemente os pesquisadores do objETHOS, Sylvia Moretzsohn, Lívia Vieira e Dairan Paul abordaram temas relacionadas a essa problemática. No artigo Spotlight, vazamentos seletivos e os dentes do cavalo, Moretzsohn destacou a falta de verificação das informações provenientes das delações premiadas: “o cuidado elementar de todo jornalista, que é, antes de mais nada, verificar a quem interessa a informação que lhe cai no colo, confirmar sua veracidade e publicá-la – quando for o caso – em seu devido contexto, passou a ser algo perfeitamente dispensável”. Vieira destacou a utilização das delações premiadas como fonte de informações jornalísticas no artigo “Algumas certezas diante de um cenário instável para o jornalismo”. A pesquisadora chama a atenção para o tom declaratório das informações jornalísticas baseadas nas delações. “Muitos veículos jornalísticos têm tratado a informação desses réus como verdade absoluta, deixando espaço irrisório para outras versões”. Já Paul observa a cobertura de alguns veículos relacionada à ocupação das escolas de São Paulo no artigo “Intervenção militar nas ruas, democracia radical nas escolas”. Conforme o pesquisador, o discurso jornalístico “parece ainda ter muitas dificuldades para lidar com fenômenos políticos que estão longe das tradicionais bandeiras políticas”. As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente. Não podemos aceitar que a política se resuma ao conjunto de acusações seletivas que está pautando as editorias de política atualmente. Essa constatação pode ser facilmente identificada nas “informações políticas” apresentadas abaixo. Reprodução do site da Folha de S. Paulo do dia 12-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcuL Reprodução do site da Carta Capital do dia 11-01-2016. Disponível

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