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Sophia Andresen – Poesia – 09/03/24

Boa noite Retrato de uma princesa desconhecida Sophia Andresen ¹ Para que ela tivesse um pescoço tão fino Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita E ela usasse a cabeça tão erguida Com uma tão simples claridade sobre a testa Foram necessárias sucessivas gerações de escravos De corpo dobrado e grossas mãos pacientes Servindo sucessivas gerações de príncipes Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos Foi um imenso desperdiçar de gente Para que ela fosse aquela perfeição Solitária exilada sem destino ¹ Sophia de Mello Breyner Andresen * Porto, Portugal – 6 de Novembro de 1919 + Lisboa, Portugal – 2 de Julho de 2004

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Anderson Christofoletti – Poesia – 08/03/24

Boa noite Amor sem destino Anderson Christofoletti ¹ Eterna falta: flama do desejo. Constante busca de um… qualquer ensejo… Metades atreladas pelo beijo: Beijo lascivo, lábios sem pejo, Mixórdia de seivas, amor sedento… Duas faces que carregam igual tormento; Rebentos de um eterno sentimento; Vidas lidas num único momento. A carícia da simples presença; Um crime intrínseco e sem sentença; Ébria necessidade de outra parte… … Desassossego ingente, que, destarte, Eterniflui na atroz e cega crença, Nisto que, mesmo ausente, nunca parte… ¹Anderson Christofoletti *São paulo,SP – 19 de Abril de 1976 d.C

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Yannis Ritsos – Poesia – 06/03/24

Boa noite Creio na poesia Yannis Ritsos Ele diz: creio na poesia, creio no amor, creio na morte, exatamente porque creio na imortalidade. Escrevo um verso, escrevo o mundo; existo; o mundo existe. Da extremidade do meu dedo mínimo corre um rio. O azul do céu é azul sete vezes. Esta pureza é de novo a primeira verdade, a última das minhas ¹Yannis Ritsos * Grécia – 1909 d.C + Atenas, Grécia -1990 d.C

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Wilhelm Klemm – Poesia – 03/03/24

Boa noite. A Alma e o Caos Wilhelm Klemm¹ Não queremos poesia de gênero algum, Queremos truques mágicos de saco, Procuramos tapar na existência um fatal buraco. E apesar de esforço insano não tapamos nenhum. Mas que sabeis vós outros do secreto aspirar, Dos soluços de divina histeria que em gargantas choram, Quando, plenamente absorvidos da alma elementar, Beijamos o primeiro degrau, para além de cujo limiar Erroneamente os deuses moram? Extraído do Livro 100 poemas expressionistas seleção e tradução de João Barrento ¹ Wilhelm Klemm * Bavária, Alemanha – 1881 d.C + Bavária, Alemanha -1968 d.C

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Hannah Arendt – Poesia – 26/02/24

Boa noite Poema Hannah Arendt Não chore pela suave tristeza Quando o olhar de quem não tem lar Ainda o corteja envergonhado. Sinta como a história mais pura Ainda oculta tudo. Sinta o movimento mais tenro De gratidão e fidelidade. E você saberá: sempre, O amor renovado será dado.

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Bretch – Poesia – 22/02/24

Boa noite. Assim se fez o homem Brecht Assim se faz o homem:dizendo sim e dizendo não,batendo e apanhando,unindo-se a uns aqui, a outros acolá. Assim se faz o homem: transformando-se: assim e forma em nós a sua imagem, igual à nossa, no entanto diversa. ¹Bertold Brecht * Augsburg, Alemanha – 10 de Fevereiro de 1898 + Berlim, Alemanha – 14 de Agosto de 1956

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Adriano Espínola – Poesia – 19/02/24

Boa noite. Língua-mar Adriano Espínola¹ A língua em que navego, marinheiro, na proa das vogais e consoantes, é a que me chega em ondas incessantes à praia deste poema aventureiro. É a língua portuguesa, a que primeiro transpôs o abismo e as dores velejantes, no mistério das águas mais distantes, e que agora me banha por inteiro. Língua de sol, espuma e maresia, que a nau dos sonhadores-navegantes atravessa a caminho dos instantes, cruzando o Bojador de cada dia. Ó língua-mar, viajando em todos nós. No teu sal, singra errante a minha voz. ¹Adriano Espínola * Fortaleza, CE. – 1952 d.C Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará e professor-leitor na Université Stendhal-Grenoble III (1989-91). Autor de vários livros de poesia e de antologias em português e em inglês. Já tem publicados uma tese sobre a poesia de Gregório de Matos e os seguintes livros de poesia: Fala, favela (1981); O lote clandestino (1982); Trapézio (1984); Táxi (1986); Metrô (1993); Em trânsito (1996), que reúne os dois livros anteriores; Beira-Sol (1997). Em 1998 foi lançada uma segunda edição bilíngüe (português/francês) do seu livro de estréia.

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Brecht – Poesia – 06/02/24

Boa noite Aos Vacilantes Brecht O que está errado, agora, no nosso discurso? Alguma coisa? Ou tudo? Com quem ainda podemos contar? Somos sobras da correnteza viva, que o rio depositou em suas margens? Ficaremos para trás, sem entendermos, sem sermos entendidos por ninguém? Precisamos ter sorte? Isso é o que perguntas. Não esperes resposta a não ser de ti mesmo. ¹Eugen Berthold Friedrich Brecht * Augsburg, Alemanha – 10 de Fevereiro de 1898 + Berlim, Alemanha – 14 de Agosto de 1956

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Giuseppe Ungaretti – Poesia – 10/02/24

Boa noite. Aniquilamento Giuseppe Ungaretti¹ Meu coração esbanjou vaga-lumes se acendeu e apagou de verde em verde fui contando Com minhas mãos plasmo o solo difuso de grilos modulo-me com igual submisso coração Bem-me-quer mal-me-quer esmaltei-me de margaridas enraizei-me na terra apodrecida cresci como um cardo sobre o caule torto colhi-me no tufo do espinhal Hoje como o Isonzo de asfalto azul me fixo ¹Giuseppe Ungaretti * Alexandria, Egito – 1888

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Pablo Neruda – Poesia – 27/01/24

Boa noite. As Máscaras Pablo Neruda¹ Piedade para estes séculos e seus sobreviventes alegres ou maltratados, o que não fizemos foi por culpa de ninguém, faltou aço: nós o gastamos em tanta inútil destruição, não importa no balanço nada disto: os anos padeceram de pústulas e guerras, anos desfalecentes quando tremeu a esperança no fundo das garrafas inimigas. Muito bem, falaremos alguma vez, algumas vezes, com uma andorinha para que ninguém escute: tenho vergonha, temos o pudor dos viúvos: morreu a verdade e apodreceu em tantas fossas: é melhor recordar o que vai acontecer: neste ano nupcial não há derrotados: coloquemo-nos, cada um, máscaras vitoriosas. ¹Neftalí Ricardo Reyes * Parral, Chile – 12 de Julho de 1904 + Santiago, Chile – 23 de Setembro de 1973

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