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Murilo Mendes – Poesia – 27/10/23

Boa noite O utopista Murilo Mendes¹ Ele acredita que o chão é duro Que todos os homens estão presos Que há limites para a poesia Que não há sorrisos nas crianças Nem amor nas mulheres Que só de pão vive o homem Que não há um outro mundo. Extraído do livro Poesia Completa e Prosa. RJ Nova Aguilar,1994. ¹Murilo Monteiro Mendes * Juiz de Fora, MG – 13 de maio de 1901 d.C + Lisboa, Portugal – 13 de agosto de 1975 d.C Poeta brasileiro, expoente do modernismo brasileiro.

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Tomas Tranströmer – Poesia – 26/10/23

Boa noite Fachadas Tomas Tranströmer ¹ I Ao fim do caminho vejo o poder Lembra uma cebola com rostos sobrepostos que vão caindo uns após outros… II Os teatros esvaziam-se. É meia-noite. Letreiros flamejam nas fachadas. O mistério das cartas sem resposta afunda-se por entre a fria cintilação. Tradução para português por Luís Costa ¹ Tomas Tranströmer * Estocolmo, Suécia – 15 de abril de 1931

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Arentino – Poesia – 20/10/23

Boa noite Soneto Pietro Arentino¹ Amemo-nos sem termo nem medida, pois que só para o amor temos nascido… Vive por nosso amor! – é o meu pedido, pois sem tal bem, que valeria a vida? E se depois da vida já perdida ainda se amasse. . . Eu, tendo já morrido pediria outro amor – o bem querido – para poder seguir gozando a vida. Gozemos pois, tal como certamente o primeiro casal no éden, ao ser aconselhado assim pela serpente. Que nos perdemos por amar se diz… Tolice! Outra é a verdade, podes crer: Só quem não ama sente-se infeliz! Trad. de J. G. de Araújo Jorge ¹Pietro Aretino * 1492 – + 1557 d.C Compôs sonetos, embora mais festejado como autor das Cartas” (6 vols.) e dos “Diálogos”. De Veneza, dominou príncipes, fidalgos, imperadores, cardeais e papas, que precisavam comprar, com ouro, o seu silêncio. Além de livros de prosa satírica, escreveu “Sonnetti lussuriosi” (“Sonetos voluptuosos”), com 16 produções licenciosas (1525), compostos para os desenhos pornográficos de Giulio Romano. Seu, cinismo e seu talento fizeram com que fosse chamado, ora o infame, ora o “Flagelo dos Príncipes”, ora “o divino Aretino”.

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Artur da Távola – Poesia – 18/10/23

Boa noite Quem namora Artur da Távola¹ Quem namora agrada a Deus. Namorar é uma forma bonita de viver um amor. Namorados que se prezem gostam de beijos, suspiros, morderem o mesmo pastel, dividir a empada, beber no mesmo copo. Namora quem sonha, quem teima, quem vive morrendo de amor e quem morre vivendo de amar. ¹Paulo Alberto Monteiro de Barros * Rio de Janeiro, RJ. – 3 de janeiro de 1936 + Rio de Janeiro, RJ. – 8 de maio de 2008

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Manuel Bandeira – Poesia -15/10/23

Boa noite A doce tarde morre Manuel Bandeira¹ A doce tarde morre E tão mansa Ela esmorece, Tão lentamente no céu de prece, Que assim parece, toda repouso, Como um suspiro de extinto gozo De uma profunda, longa esperança Que, enfim cumprida, morre, descansa… E enquanto a mansa tarde agoniza, Por entre a névoa fria do mar Toda minh’alma foge na brisa: Tenho vontade de me matar! Oh, ter vontade de se matar… Bem sei é cousa que não se diz, Que mais a vida me pode dar? Sou tão feliz!— Vem, noite mansa… ¹Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho * Recife, PE. – 19 Abril 1886 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 13 Outubro 1968 d.C

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Medeea Latour – Poesia – 13/10/23

Boa noite. Obstáculos Medeea Latour¹ Eis aí como se comportam os muros: o semblante fechado e o rosnar do portão com o dedo apontando os cães medievais comumente liberados da ternura para exercer, à la Munch o grito de más-vindas ante o romeu inconcluso sedendo de julietas intramuros. ¹ Medeea Latour * Opatija, Croácia

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João Cabral de Melo Neto – Poesia – 12/10/23

Bom dia Poema João Cabral de Melo Neto¹ O amor, esse sufoco, agora há pouco era muito, agora, apenas um sopro ah, troço de louco, corações trocando rosas, e socos ¹João Cabral de Melo Neto * Recife, Pernambuco – 9 de janeiro de 1920 + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de outubro de 1999

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William Henley – Poesia -11/10/23

Boa noite. Invictus William Henley Do fundo desta noite que persiste A me envolver em breu – eterno e espesso, A qualquer deus – se algum acaso existe, Por mi’alma insubjugável agradeço. Nas garras do destino e seus estragos, Sob os golpes que o acaso atira e acerta, Nunca me lamentei – e ainda trago Minha cabeça – embora em sangue – ereta. Além deste oceano de lamúria, Somente o Horror das trevas se divisa; Porém o tempo, a consumir-se em fúria, Não me amedronta, nem me martiriza. Por ser estreita a senda – eu não declino, Nem por pesada a mão que o mundo espalma; Eu sou dono e senhor de meu destino; Eu sou o comandante de minha alma. Tradução de André C S Masini William Ernest Henley * Gloucester, Inglaterra – 23 de agosto de 1849 + Woking, Inglaterra – 11 de julho de 1903[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Eduardo Galeano – Poesia – 08/10/23

Boa noite Os ninguéns Eduardo Galeano¹ As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com quem deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura. Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam supertições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata. (In O livro dos abraços) ¹Eduardo Hughes Galeano * Montevidéu, Uruguai – 3 de setembro de 1940 + Montevidéu, Uruguai – 13 de abril de 2015

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Paul Eluard – Poesia – 07/10/23

Boa noite Liberdade Paul Eluard Nos meus cadernos de escola Nesta carteira nas árvores Nas areias e na neve Escrevo teu nome Em toda página lida Em toda página branca Pedra sangue papel cinza Escrevo teu nome Nas imagens redouradas Na armadura dos guerreiros E na coroa dos reis Escrevo teu nome Nas jungles e no deserto Nos ninhos e nas giestas No céu da minha infância Escrevo teu nome Nas maravilhas das noites No pão branco da alvorada Nas estações enlaçadas Escrevo teu nome Nos meus farrapos de azul No tanque sol que mofou No lago lua vivendo Escrevo teu nome Nas campinas do horizonte Nas asas dos passarinhos E no moinho das sombras Escrevo teu nome Em cada sopro de aurora Na água do mar nos navios Na serrania demente Escrevo teu nome Até na espuma das nuvens No suor das tempestades Na chuva insípida e espessa Escrevo teu nome Nas formas resplandecentes Nos sinos das sete cores E na física verdade Escrevo teu nome Nas veredas acordadas E nos caminhos abertos Nas praças que regurgitam Escrevo teu nome Na lâmpada que se acende Na lâmpada que se apaga Em minhas casas reunidas Escrevo teu nome No fruto partido em dois de meu espelho e meu quarto Na cama concha vazia Escrevo teu nome Em meu cão guloso e meigo Em suas orelhas fitas Em sua pata canhestra Escrevo teu nome No trampolim desta porta Nos objetos familiares Na língua do fogo puro Escrevo teu nome Em toda carne possuída Na fronte de meus amigos Em cada mão que se estende Escrevo teu nome Na vidraça das surpresas Nos lábios que estão atentos Bem acima do silêncio Escrevo teu nome Em meus refúgios destruídos Em meus faróis desabados Nas paredes do meu tédio Escrevo teu nome Na ausência sem mais desejos Na solidão despojada E nas escadas da morte Escrevo teu nome Na saúde recobrada No perigo dissipado Na esperança sem memórias Escrevo teu nome E ao poder de uma palavra Recomeço minha vida Nasci pra te conhecer E te chamar Liberdade Tradução: Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira ¹ Eugène-Émile-Paul Grindel * Saint-Denis, França – 1895 d.C + Paris, França – 1952 d.C

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