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O misterioso (e eficiente) observatório solar construído por civilização desconhecida

O complexo, localizado em Casma, na costa peruana e 365 km ao norte de Lima, servia para sinalizar com grande exatidão os solstícios, equinócios e diferentes datas do calendário a partir da posição do Sol. As 13 torres marcam o percurso do Sol durante todo o ano Direito de imagem FUNDO MUNDIAL DE MONUMENTOS Vistas do alto, as 13 torres se parecem com o corpo de um imenso réptil estendido no deserto. Mas são, na verdade, edifícios de pedra que fazem parte do Chankillo (ou o Templo das 13 Torres), construídos há 2,3 mil anos – formando, segundo evidências arqueológicas, o observatório mais antigo das Américas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Só que até hoje ninguém sabe quem construiu o local, que conta ainda com um templo e uma praça feitos de pedra e dedicados ao culto do Sol. O complexo, localizado em Casma, na costa peruana e 365 km ao norte de Lima, servia para sinalizar com grande exatidão os solstícios, equinócios e diferentes datas do calendário a partir da posição do Sol. Agora, sua restauração está sendo financiada pelo Fundo Mundial dos Monumentos (WMF, na sigla em inglês), depois de terem sido identificados fortes desgastes causados pelos fortes ventos, a umidade, os tremores de terra e as mudanças de temperatura no deserto. Ainda assim, “trata-se de um exemplo magistral de uso da paisagem para medir o tempo”, afirma a delegação permanente do Peru na Unesco (braço da ONU para a cultura). Mas como funciona esse antigo calendário, que tem serventia até os dias atuais? Precisão Arqueólogos estimam que Chankillo tenha sido habitado entre 500 e 200 a.C. As 13 torres, que medem entre 2 e 6 metros de altura, se alinham de norte a sul ao longo de uma colina. Ainda é possível identificar solstícios e equinócios a partir das 13 torres Direito de imagem FUNDO MUNDIAL DE MONUMENTOS Em 21 de dezembro, quando ocorre o solstício de verão no hemisfério Sul, o Sol surge à direita da primeira torre, na extrema direita. À medida que os dias passam, o Sol se move entre as torres rumo à esquerda. Pode-se calcular a data ao ver qual torre coincide com a trajetória dele ao amanhecer. Em 21 de junho, solstício de inverno no Sul, o Sol sai pela esquerda da última torre na extrema esquerda. E vai se movendo rumo à direita, para voltar a iniciar o ciclo no dezembro seguinte. “Os habitantes de Chankillo conseguiam determinar a data com uma precisão de dois a três dias”, diz o WMF. Os astrônomos das 13 torres tinham ao menos dois pontos de observação: um para o amanhecer e outro para o pôr do sol. Mas é possível que haja ainda mais locais, crê o arqueólogo Iván Ghezzi, diretor do Museu Nacional de Arqueologia e História do Peru e diretor do chamado Projeto Chankillo. Acima, uma das passagens que levam à plataforma de observação das 13 torres Direito de imagem FUNDO MUNDIAL DE MONUMENTOS O conhecimento dos dias do ano pode ter sido aplicado na agricultura (para calcular datas de plantio e colheita), mas acredita-se que o propósito principal fosse “a organização de um calendário cerimonial”, diz Ghezzi à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC. E Chankillo tem uma localização privilegiada: fica próximo às colinas de Mongón, “que formam uma barreira natural à neblina, o que explica em parte a excepcional visibilidade do observatório”, explica o especialista. Por isso, Chankillo está inscrito em uma lista preliminar de lugares propostos para o Patrimônio Mundial da Humanidade na Unesco. “Representa uma obra-prima do gênio criativo humano”, diz o documento que embasa a candidatura. Mas quem construiu Chankillo? O local foi erguido por uma “civilização suficientemente organizada (capaz de) construir esse grande monumento em um período relativamente curto, talvez apenas 25 anos”, prossegue Ghezzi. Mas até hoje ninguém sabe qual civilização é essa. “(O local) pertence a uma cultura ainda desconhecida, aproximadamente do ano 200 a.C., que não está relacionada às culturas (pré-incas) já conhecidas da época”, diz o arqueólogo. Todo o complexo foi dedicado ao culto do Sol, mas ninguém sabe quem o construiu – Direito de imagem CÉSAR ABAD E DANIEL MARTÍNEZ Acredita-se que esta parte fosse destinada à proteção do local, que acabou sendo pilhado por um culto rival – Direito de imagem FUNDO MUNDIAL DE MONUMENTOS Para que essa civilização receba um nome, ele diz que ainda é preciso “saber muito mais sobre seu meio de vida, religião, idioma e etc”. “Por enquanto, temos apenas a informação de que (faziam) o culto ao Sol.” Para o WMF, Chankillo “indica que o culto ao Sol existia nos Andes cerca de dois milênios antes do já conhecido culto solar (ao deus Inti) do Império Inca”. Mas se não sabemos como essa cultura começou, pelo menos já temos algumas pistas de como ela terminou. “O local foi atacado por cultos rivais ao de Chankillo. O templo principal foi destruído e soterrado, e toda a região foi abandonada repentinamente”, conta Ghezzi. E como sabemos que o local foi realmente um observatório solar? As torres de Chankillo não têm nenhum outro propósito aparente senão o de marcar as posições do Sol. “Diferentemente de outros observatórios do mundo que marcam apenas uma ou duas datas, as observações em Chankillo cobrem todo o ciclo anual do Sol”, diz o documento que pleiteia o reconhecimento da Unesco. De acordo com o texto, “o observatório astronômico de Chankillo é único e excepcional, não apenas no Peru e nas Américas, mas em todo o mundo”. O projeto de Chankillo está em harmonia com a paisagem do deserto – Direito de imagem CÉSAR ABAD E DANIEL MARTÍNEZ As 13 torres contam com escadarias, que levam ao topo da estrutura – Direito de imagem CÉSAR ABAD E DANIEL MARTÍNEZBBC

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Economia – Maconha medicinal fatura mais que Viagra

Maconha legal já é mercado maior que viagra e tequila nos EUA Maconha: Ministro da Justiça quer erradicar uso e comércio no Brasil (OpenRangeStock/Thinkstock) O mercado legal de maconha (medicinal e recreativa) nos Estados Unidos cresceu 30% em 2016 e ficou entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] É mais do que movimentado por bebidas como tequila (US$ 2,3 bilhões), serviços pagos de streaming de música (US$ 2,5 bilhões) e medicamentos como o Viagra e Cialis (US$ 2,7 bilhões, incluindo o Canadá). A maconha legalizada também se aproxima do tamanho do mercado de pizza congelada (US$ 4,4 bilhões) e de sorvete no varejo (US$ 5,1 bilhões). Os números são da última edição do Marijuana Business Factbook, lançado anualmente pela publicação Marijuana Business Daily. O mercado recreativo no país foi liderado pelos estados de Washington e Colorado, que legalizaram esse tipo de uso em 2012, e impulsionado definitivamente em 2016 por outros sete estados. A Califórnia, onde as vendas devem começar no ano que vem, é o estado mais populoso dos Estados Unidos e se fosse um país, teria a sexta maior economia do planeta. A estimativa é que o mercado nacional triplique até 2021, quando chegaria a US$ 17 bilhões, menos da metade de uma demanda total hoje estimada em US$ 40 bilhões. Também ajuda que 6 em cada 10 americanos já apoiam a legalização, a mais alta proporção já registrada. Mas há algumas preocupações. Em alguns locais a produção cresceu mais rápido do que a demanda, o que derrubou demais o preço, e o governo de Donald Trump dá sinais contraditórios sobre o tema  no nível federal, o que faz aumentar o medo de intervenção nos produtores. Na América Latina, o pioneiro na legalização é o Uruguai, que está registrando os cidadãos interessados no produto para começar as vendas em julho. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu na última terça-feira classificar oficialmente a a Cannabis sativa como uma planta medicinal. Legalizar o uso recreativo poderia render entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano para os cofres públicos, de acordo com um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Por João Pedro Caleiro

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Poluição – Oceano Pacífico

Remota e desabitada, ilha no Pacífico tem a maior concentração de lixo plástico do mundo A ilha fica a cerca de 5.5 mil km da costa do Chile – Direito de imagem JENNIFER LAVERS/UNIVERSIDADE DA TASMÂNIA Uma ilha desabitada do Pacífico Sul é o local com a maior densidade de lixo plástico do mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] A Ilha Henderson, parte do arquipélago de Pitcairn, um território do Reino Unido, tem um número de pedaços de plástico em suas praias estimado em 37,7 milhões. O motivo? Henderson fica no caminho de uma corrente marinha, e acaba recebendo lixo jogado de navios e vindo da costa oeste da América do Sul. Cientistas britânicos e australianos, que mapearam o estado da poluição na ilha, esperam que seu estudo faça as pessoas “repensarem seu relacionamento com o plástico”. Eles estimam que haja uma densidade de 671 itens por metro quadrado e um total de 17 toneladas. “Uma grande parte dos detritos que encontramos na ilha era o que erradamente chamamos de descartáveis”, disse a bióloga Jennifer Lavers, da Universidade da Tasmânia (Austrália). Animais, como crustáceos, acabam afetados pelo lixo O estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, descreve como o arquipélago, distante mais de 5,5 mil km da costa do Chile, funciona como uma espécie de “pia” para o lixo do mundo, localizado perto de um “ralo” chamado Giro do Pacífico Sul – o maior sistema de correntes marítimas do globo. Além de restos de objetos ligados à pesca, as areias em Henderson estão salpicadas de itens mais familiares do dia a dia, como escovas de dentes, isqueiros e lâminas de barbear. “Caranguejos estão usando tampas, potes e jarras de plástico como novas casas”, disse Lavers. “Pode parecer bonitinho, mas não é. O plástico é velho, frágil e tóxico.” A cientista contou ainda que foi encontrado um grande número de capacetes plásticos, do tipo usado na construção civil. Escala da sujeira Henderson faz parte de uma lista de lugares do mundo reconhecidos como patrimônio da humanidade pela Unesco, a agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, que descreve “praias intocadas” e “paisagens exuberantes”. Uma imagem que não poderia ser mais diferente das divulgadas por Lavers e os colegas. Quantidade de detritos na ilha seria de 37,7 milhões “Quase todas as ilhas do mundo e quase todas as espécies no oceano de alguma forma estão sendo afetadas por nosso lixo. Nenhum país e nenhuma pessoa está impune”, afirmou a cientista. Lavers explicou que o plástico é especialmente devastador para os oceanos porque boia e é para lá de durável – uma garrafa, por exemplo, demora uma média de 450 anos para degradar.

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Tecnologia – Profissões do Futuro

Guia do espaço e designer de órgãos: Organização lista dez profissões do futuro Foi-se o tempo em que as respostas para a pergunta “o que você quer ser quando crescer?” eram apenas “médico”, “advogado” e “professor”. Futuras gerações devem ter opções muito mais criativas, como “guia turístico do espaço” ou “designer de órgãos do corpo”. É o que diz o relatório Tomorrow Jobs, feito em parceira pelo Future Lab, consultoria que tenta prever tendências em 14 áreas, e a Microsoft Surface, área da empresa voltada para estudantes.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O relatório descreve dez empregos que não existem hoje mas que, segundo a consultoria, existirão em dez anos. “Tenho que ser honesto: alguns empregos desta lista surpreenderam até a gente, e não é muito fácil nos surpreender”, disse à BBC Steve Tooze, futurologista do Future Lab. De acordo com o Departamento de Empregos americano, 65% dos estudantes de hoje irão trabalhar em carreiras que ainda não existem. Veja abaixo os empregos do futuro: Direito de imagemTHINKSTOCK 1. Arqueólogo de lixo espacial Sua tarefa será localizar e explorar destroços de materiais na órbita da Terra. Também farão tours guiados em naves abandonadas e satélites fora de uso, enquanto coletam, arquivam e decifram cada item recuperado. Direito de imagemTHINKSTOCK 2. Especialista em armazenamento de memória O relatório prevê que, no final dos anos 2020, interfaces cérebro-software que antes eram usadas apenas por neurocientistas irão se popularizar. Com isso, as pessoas poderão ler e capturar pensamentos, memórias e sonhos. Esses especialistas teriam a função de ajudar os usuários a aumentar a capacidade de armazenamento de suas mentes. Com isso, elas poderão acessar mais lembranças e experimentá-las quando quiserem. Direito de imagemTHINKSTOCK 3. Estrategistas de recuperação da natureza Com a previsão de que a população da Terra ultrapasse os 9 bilhões, os ecossistemas naturais estarão no limite em 2025. Esse profissional irá reconstruir ecossistemas usando fauna e flora de todo o mundo. A ideia é que ele possa reintroduzir plantas e animais extintos em diversas regiões, além de ajudar os animais a migrarem quando necessário. Direito de imagemTHINKSTOCK 4. Profissional de inovação de bateria O estudo prevê que, em alguns anos, haverá um aumento do uso de energias renováveis, como solar e eólica. Porém, será preciso ter energia armazenada para dias em que não haja sol ou vento Quem fará isso são esses profissionais, que combinarão diferentes elementos para inventar novos tipos de armazenagem de energia. Eles também irão supervisionar a instalação de supercarregadores para lidar com a demanda crescente por energia gerada pelo aumento do uso da “internet das coisas”. Direito de imagemTHINKSTOCK 5. Designer de partes do corpo Futurologistas preveem que, com os avanços da tecnologia, a média de idade dos humanos supere os cem anos. Isso vai acontecer com a popularização das técnicas de substituição de órgãos e tecidos humanos. O designer de órgãos vai projetar membros que combinem com o tom de pele e musculatura, além de criar novas aparências ou aumentar a funcionalidade de membros para determinadas funções ou esportes. Direito de imagemTHINKSTOCK 6. Designer de ambientes virtuais Por volta de 2025, milhões de pessoas passarão uma boa parte do dia trabalhando, jogando ou viajando em ambientes de realidade virtual. Mas essa experiência precisará ser imersiva a ponto que quase não seja possível diferenciá-la do mundo real. Por isso, será preciso ter profissionais como arquitetos e design de interiores que trabalhem apenas no ciberespaço. Direito de imagemTHINKSTOCK 7. Ativista de ética tecnológica Na próxima década, o relatório prevê que a tão esperada era dos robôs finalmente chegará. Eles poderão ser assistentes pessoais, técnicos de trabalhos manuais ou atendentes de serviços aos consumidor, por exemplo. Mas eles roubarão os empregos das pessoas? Quem irá regular isso? É aí que entra a figura do ativista, que atuará junto a governos para decidir o que os robôs podem ou não podem fazer. Direito de imagemTHINKSTOCK 8. Comentarista de cultura digital Acredita-se que o sucesso de redes sociais de apelo visual, como Instagram e Pinterest, mostre que as novas gerações se engajem cada vez mais com a cultura por meio de imagens. Por isso, será necessário ter alguém que transforme cultura e artes em imagens, além de adaptar a cultura de marcas a essa nova realidade. Direito de imagemTHINKSTOCK 9. Biohacker freelance Um ambiente antes restrito a acadêmicos irá se abrir para profissionais que não precisam publicar artigos ou dar aula e, com isso, podem explorar mais sua criatividade. O relatório prevê que, em dez anos, a medicina também passará a se aproveitar de crowdsource e soluções inovadoras na busca de vacinas, antibióticos e curas de doenças. A ideia é que esses profissionais freelance se unam em ambientes online e usem ferramentas de edição de genes, por exemplo, para buscar curas de doenças. Direito de imagemTHINKSTOCK 10. Criação na área de dados da internet das coisas Muita gente não sabe, mas já está usando a internet das coisas, com carros e eletrônicos que têm softwares que coletam dados. A tendência é que isso aumente – seu tênis pode reunir dados sobre sua corrida para você, por exemplo. O profissional dessa área irá unir e interpretar esses dados, de forma a oferecer mais serviços úteis para o consumidor.

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Tecnologia,super humanos e idiotas

Tecnologia pode criar elite de super-humanos e massa de ‘inúteis’, diz autor de best-seller O israelense Yuval Harari investiga a relação entre história e biologia, as diferenças essenciais entre o ser humano e outros animais e o rumo da história humana Os avanços em tecnologia, genética e inteligência artificial podem transformar a desigualdade econômica em desigualdade biológica? O autor e historiador Yuval Noah Harari se fez essa pergunta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Professor de História na Universidade Hebraica de Jerusalém, ele estuda o passado para olhar para o futuro. Autor de dois best-sellers, Sapiens: Uma breve história da humanidade (editora L&PM)e Homo Deus: Uma breve história do amanhã (editora Companhia das Letras), Harari foi entrevistado pelo programa The Inquiry, da BBC, sobre a possibilidade de a tecnologia alterar o mundo e a espécie humana. Leia o depoimento do professor à BBC: “A desigualdade existe há no mínimo 30 mil anos. Os caçadores-coletores eram mais igualitários do que as sociedades subsequentes. Eles tinham poucas propriedades, e propriedade é um pré-requisito para desigualdade de longo prazo. Mas até eles tinham hierarquias. Nos séculos 19 e 20, porém, algo mudou. Igualdade tornou-se um valor dominante na cultura humana em quase todo o mundo. Por quê? Foi em parte devido à ascensão de novas ideologias como o humanismo, o liberalismo e o socialismo. Mas também se tratava de mudanças tecnológicas e econômicas – que estavam ligadas a essas novas ideologias, claro. De repente, a elite começou a precisar de um grande número de pessoas saudáveis e educadas para servir como soldados nos exércitos e como trabalhadores nas fábricas. Os governos não forneciam educação e vacinação porque eram bondosos. Eles precisavam que as massas fossem úteis. Mas agora isso está mudando novamente. Engenharia genética é hoje disseminada. Até onde ela poderá evoluir? Direito de imagem GETTY IMAGES Os melhores exércitos da atualidade demandam poucos soldados, mas altamente treinados e com equipamentos de alta tecnologia. As fábricas também estão cada vez mais automatizadas. Esse é um dos motivos pelos quais poderemos – num futuro não tão distante – ver a criação das sociedades mais desiguais que já existiram na história humana. E há outros motivos para temer esse futuro. Com rápidos avanços em biotecnologia e bioengenharia, nós podemos chegar a um ponto em que, pela primeira vez na história, desigualdade econômica se torne desigualdade biológica. Até agora, humanos tinham controle sobre o mundo ao seu redor. Eles podiam controlar rios, florestas, animais e plantas. Mas eles tinham muito pouco controle do mundo dentro deles. Eles tinham capacidade limitada de manipular seus próprios corpos, cérebros e mentes. Eles não podiam evitar a morte. Talvez esse não seja sempre o caso. Inteligência artificial está sendo vista como uma ameaça a levas de empregos humanos – Direito de imagem GETTY IMAGES Há duas maneiras principais de aprimorar humanos: ou você altera algo em sua estrutura biológica por meio de alteração de seu DNA, ou – o jeito mais radical – você combina partes orgânicas e inorgânicas, talvez conectando diretamente cérebros e computadores. Os ricos – ao adquirir tais melhorias biológicas – poderiam se tornar literalmente melhores que os demais: mais inteligentes, saudáveis e com vidas mais longas. Nesse ponto, será facil que essa classe “aprimorada” tenha poder. Pense desta forma: no passado, a nobreza tentou convencer as massas que eles eram superiores a todos os outros e que deveriam deter o poder. No futuro que estou descrevendo, eles realmente serão superiores às massas. E como eles serão melhores que nós, fará mais sentido ceder a eles o poder e a prerrogativa de tomada de decisões. Poderiam aqueles que controlam dados e algoritmos tornar-se a superclasse do futuro? – Direito de imagem GETTY IMAGES Podemos também constatar que a ascensão da inteligência artificial – e não apenas automação – pode significar que grandes contingentes de pessoas, em todos os tipos de emprego, simplesmente perderão sua utilidade econômica. Os dois processos casados – aprimoramento humano e ascensão de inteligência artificial – podem resultar na separação da humanidade em uma pequena classe de super-humanos e uma gigantesca subclasse de pessoas “inúteis”. Eis um exemplo concreto: pense no mercado de transporte. Há centenas de motoristas de caminhões, táxis e ônibus no Reino Unido. Cada um deles comanda uma pequena parte do mercado de transporte, e todos ganham poder político em função disso. Eles podem se sindicalizar e, se o governo faz algo que não gostam, eles podem fazer uma greve e travar todo o sistema. Agora, avance 30 anos no tempo. Todos os veículos conduzem a si próprios e uma corporação controla o algoritmo que comanda todo o mercado de transporte. Todo o poder econômico e político previamente compartilhado por milhares agora está nas mãos de uma única corporação. Ricos, diz autor, poderiam adquirir melhorias biológicas e se tornar literalmente melhores que os demais: mais inteligentes, saudáveis e longevos – Direito de imagem GETTY IMAGES Depois que você perde sua importância econômica, o Estado perde ao menos um pouco do incentivo de investir em saúde, educação e bem-estar. Seu futuro dependeria da boa vontade de uma pequena elite. Talvez haja boa vontade mas, em tempo de de crise – como uma catástrofe climática -, seria muito fácil te descartar. Tecnologia não é determinista. Ainda podemos fazer algo para lidar com tudo isso. Mas acho que deveríamos estar cientes de que descrevo um futuro possível. Se não gostamos dessa possibilidade, precisamos agir antes que seja tarde. Existe mais um passo possível no caminho rumo à desigualdade previamente inimaginável. A curto prazo, a autoridade pode se centrar em uma pequena elite que detenha e controle os algoritmos e os dados que os alimentam. A longo prazo, porém, a autoridade poderá se transferir completamente dos humanos aos algoritmos. Quando uma inteligência artificial for mais inteligente que nós, toda a humanidade poderá se tornar inútil. O que aconteceria depois disso? Não temos nenhuma ideia – literalmente não podemos imaginar. Como poderíamos? Estamos falando de uma inteligência muito maior do que a que a humanidade possui.”

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Fósseis e o mercado negro da paleontologia

Vende-se animal extinto: 3,50 reais cada um Benaqla Sadki trabalha procurando fósseis perto de Erfoud (Marrocos). A exportação de fósseis é um setor desregulado, baseado na mão de obra barata e no qual convivem cientistas e colecionadores privados Benaqla Sadki é um homem magro, de mãos rudes e quase sem dentes. Diz ter 45 anos, mas aparenta pelo menos 10 a mais. Ele vive na cidade de Erfoud, no sudeste do Marrocos, trabalha num buraco de cinco metros que cavou a golpes de pá e picareta. Retira os escombros escalando pelas paredes com uma agilidade espantosa. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Levou um mês para abrir a fossa, e ainda terá que continuar cavando vários metros na horizontal antes de encontrar o que busca. Trabalha assim inclusive no verão, com temperaturas que superam os 40 graus. “Isto é o que tenho que fazer para ganhar o pão”, diz em francês.  Há 450 milhões de anos, o deserto do Saara era o fundo do oceano situado em torno do Polo Sul. Fazia parte do supercontinente de Gondwana. As costas eram similares às da Antártida, e em suas águas viviam trilobitas, animais que desenvolveram olhos de vidro e exoesqueletos para se proteger de seus predadores, os ortoconos (cefalópodes parecidos com lulas, mas com concha) e bivalves semelhantes aos atuais. Todos esses animais e muitos outros foram extintos há centenas de milhões de anos, mas seus corpos fossilizados continuam debaixo da terra e são contados aos milhões. “Graças ao comércio de fósseis, foram definidas em Marrocos cerca de mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz o pesquisador espanhol Juan Carlos Gutiérrez-Marco, que todos os anos viaja de jipe de Madri até a região Sadki é uma das centenas de catadores de fósseis nesta zona desértica do Anti-Atlas marroquino. Procura crinoides, animais marinhos caracterizados por seus vistosos cálices e pedúnculos. O preço depende do tamanho da peça. “Por uma boa placa podem me dar 3.000 dirhams [955 reais]”, diz. Às vezes, passa até quatro meses cavando sem encontrar nada, conta. Estes trabalhadores são a mão de obra barata que sustenta o mercado de fósseis em Marrocos, um dos principais exportadores em nível mundial. Nas lojas das localidades de Erfoud, Alnif e Rissani, pode-se comprar pelo equivalente a 3,50 reais trilobitas que cabem na palma da mão (são vendidos em caixas de 200 unidades), e placas com vários desses animais por mais de 3.500 reais. Há até tampos de cozinha e banheiro feitos com pedra calcária cheia de animais extintos. Uma vez retiradas do país, as peças mais valiosas são vendidas pela Internet por dezenas de milhares de reais. Toda esta atividade, que dá de comer a muitas famílias na região, não está regulada. Grande parte dessa riqueza fóssil acaba no estrangeiro, na maioria de casos sem passar pelo controle das autoridades. Um cortador de pedra em Erfoud. Numa das entradas de Erfoud, o som das serras é constante. Em meio a nuvens de pó asfixiante, trabalhadores com o rosto e os olhos tampados por lenços e óculos cortam placas de fósseis para sua posterior venda. São o elo seguinte da cadeia, os preparadores. Os mais qualificados usam brocas similares aos de um dentista e polidores que cospem uma areia fina, separando assim os trilobitas da pedra até deixá-los quase totalmente soltos, mas sem danificar os espinhos defensivos de algumas espécies. Além das lojas abertas ao público, alguns comerciantes têm armazéns privados nos quais oferecem garras de dinossauro por 860 reais, mandíbulas de baleia extinta por 5.200 reais, ou tochas de pedra esculpidas por humanos há dezenas de milhares de anos por 170 euros cada uma. Uma vez preparados para a venda, o preço dos fósseis na loja é pelo menos o dobro do que se paga a quem o coletou, e às vezes muito mais. Cientistas de vários países peregrinam a esta região em busca de descobrimentos de alto impacto. É uma forma de fazer paleontologia que começa em lojas e feiras da Europa ou EUA. Os investigadores perguntam aos vendedores sobre a origem de um fóssil de invertebrado ou vertebrado interessante. O rastro os leva às muitas pedreiras do sudeste de Marrocos. Se tiverem sorte, os comerciantes locais os levam até o local exato de onde saiu uma espécie desconhecida, e os coletores lhes deixam escavar. Só há uma condição: que paguem pelo que encontrarem. Um preparador de fósseis limpa um trilobita. “Graças ao comércio de fósseis foram definidas em Marrocos quase mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz Juan Carlos Gutiérrez-Marco, pesquisador do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha. Anualmente, esse geólogo faz uma viagem de ida e volta em jipe de Madria Marrocos para ver quais animais novos estão sendo extraídos, comprar alguma peça interessante e realizar suas próprias escavações nas zonas que ainda não foram exploradas. O pesquisador já descreveu três novas espécies e tem outras sete na gaveta. Marrocos tem amplos afloramentos dos períodos Cambriano, Ordoviciano, Siluriano e Devoniano, que abrangem entre 540 e 350 milhões de anos atrás. O fato de não haver uma camada de vegetação por cima faz desta zona de Marrocos um dos melhores lugares do mundo para encontrar fósseis. “No ritmo atual de exploração, as reservas demorariam séculos para se esgotarem”, diz Gutiérrez-Marco. Os comerciantes locais deixam os cientistas escavarem, desde que paguem Um dos achados científicos mais recentes nesta área foi o anomalocaris-gigante (Aegirocassis benmoulae), um artrópode marinho de aproximadamente dois metros de comprimento, que era provavelmente o maior animal do mundo há 480 milhões de anos. Os cadáveres desses animais e outros do seu ecossistema ficaram tão bem preservados no sedimento que os órgãos e partes moles se fossilizaram, algo excepcional, comparável apenas aos famosos xistos de Burgess, no Canadá, e a outros similares na China. Mohamed Ben Moula, de 63 anos, é um ex-pastor de camelos que se tornou caçador de fósseis. Ele achou os primeiros anomalocaris e os vendeu a Brahim Tahiri, um dos comerciantes de fósseis mais ricos da região. Tahiri mostrou o material a

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Algorítimos irritam usuários da Internet

Internet se rebela contra a ditadura dos algoritmos Facebook e Google corrigem seus sistemas de inteligência artificial para mostrar a seus usuários uma visão de mundo mais rea Pressionado pela crise das notícias falsas, o Google reagiu com mudanças em sua joia da coroa, os algoritmos de busca: a partir desta semana darão mais peso às páginas consideradas mais confiáveis e tornarão menos visíveis os conteúdos de baixa credibilidade. Depois de meses de testes, as melhorias anunciadas pretendem evitar que os primeiros lugares das buscas continuem exibindo páginas que negam o Holocausto, divulgam mensagens vergonhosas contra as mulheres ou difundem boatos como o de que Barack Obama prepara um golpe de Estado contra Donald Trump.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Com o mesmo objetivo, o Facebook começa a permitir aos usuários que denunciem informações duvidosas. A partir desta semana, também passa a mostrar abaixo delas notícias confiáveis sobre o mesmo tema e também links para sites de checagem de dados. A divulgação de mentiras, informações muito tendenciosas, rumores e boatos foi protagonista nas campanhas do Brexit e das eleições presidenciais nos EUA e colocou sob escrutínio os algoritmos de Google e Facebook, acusados de favorecer a divulgação de notícias falsas e a criação de bolhas ideológicas. Isso porque as redes sociais mostram na timeline de cada usuário o que seus algoritmos intuem que a pessoa vai gostar, favorecendo notícias que confirmam sua visão de mundo diante das que questionam suas ideias, segundo adverte o relatório do projeto REIsearch, patrocinado pelo Atomium (o Instituto Europeu para a Ciência, Meios de Comunicação e Democracia), que acaba de lançar uma grande pesquisa pública para questionar os europeus sobre este e outros impactos da nova geração de tecnologias da Internet. “Culpar as redes sociais pelas bolhas ideológicas é um paradoxo. Ampliam a visão dos usuários para além de seu entorno mais próximo, mas não resolveram um problema que já existia, porque seus algoritmos ainda não são suficientemente bons”, afirma David García, pesquisador da área de ciências sociais computacionais na Escola Politécnica Federal de Zurique. Ali ele analisa se o conteúdo emocional das notícias falsas contribuiu para aumentar sua difusão. E destaca que os algoritmos podem detectá-las melhor se forem alimentados com dados sobre como são compartilhadas as notícias nas redes sociais. Monitorar os usuários “A pesquisa sobre as redes sociais permite identificar os usuários que compartilham notícias não verazes. Um algoritmo poderia detectar que uma notícia está sendo compartilhada por muitos desses usuários e classificá-la como possivelmente falsa”, afirma David García. “Imagino que o Google esteja fazendo algo parecido para melhorar seu algoritmo, mas o problema é que não sabemos o que é.” Em 2015, um grupo de cientistas do Google publicou um artigo de pesquisa no qual explicava um novo método para avaliar a qualidade dos sites em função da veracidade dos dados que contém, em vez do método tradicional do buscador, que determina a popularidade de um site combinando uma multiplicidade de sinais externos, como o número de links para ele a partir de outros sites. O Google não esclarece se incorporou esse algoritmo da verdade em suas melhorias recentes. Walter Quattrociocchi, pesquisador da área de ciência de dados, redes e algoritmos no IMT – Institute for Advanced Studies italiano, alerta sobre essa ideia: “Um algoritmo, por definição, nunca será capaz de distinguir o verdadeiro do falso”. Carlos Castillo, que dirige o grupo de pesquisas de ciência de dados no Eurecat (Barcelona), concorda: “Decidir se algo é verdadeiro ou falso não é algo que devemos terceirizar para uma máquina. Nem para outras pessoas. Não pode haver um Ministério da Verdade [como o do romance 1984, de George Orwell], tampouco um algoritmo da verdade”. Pelo contrário, o pesquisador afirma que a maioria das mudanças anunciadas por Google e Facebook nas últimas semanas aplicam soluções baseadas na participação humana. Castillo defende o fomento do ceticismo visível: destacar as notícias falsas e contextualizá-las, ao contrário das exigências de que Facebook e Google as eliminem. Soluções humanas: educação e verificação de dados “O que sim podemos pedir a um algoritmo é que nos ajude a avaliar a veracidade de uma informação, destacando os dados e demais elementos que devemos comparar para formar nossa opinião”, acrescenta o pesquisador Carlos Castillo. “Decidir se algo é verdadeiro ou falso não é algo que devemos terceirizar para uma máquina. Nem sequer para outras pessoas.” Assim, a Full Fact, uma agência independente de verificação de dados, prevê que este ano seus revisores possam começar a usar inteligência artificial para agilizar seu trabalho. Google e Facebook começaram a dar visibilidade a estas verificações humanas ao lado das notícias que divulgam, para que os usuários possam avaliar melhor sua veracidade. Walter Quattrociocchi destaca a necessidade de “sinergias entre jornalistas e instituições acadêmicas para promover um intercâmbio cultural e combater a difusão de notícias falsas”. “O problema não será resolvido pelos algoritmos”, adverte David García. E Carlos Castillo concorda também que “nos falta alfabetização midiática: ainda não desenvolvemos certas habilidades para avaliar as notícias, mas faremos isso”. Na mesma linha, Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) anunciou que a análise crítica de informações digitais será incorporada ao próximo relatório PISA, que em 2018 avaliará o rendimento acadêmico dos estudantes de nível secundário internacionalmente. ElPais

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