Com poder moderado de reverberação (por enquanto) as dúvidas com relação à economia internacional inflaram um bocado nos últimos dias. Até então, a China monopolizava os receios com a ameaça de um menor crescimento de sua economia.
O preço do petróleo corria por fora, caindo ao menor nível da década e incitando os grandes produtores a fecharem suas bombas para equilibrar a oferta no mercado internacional.
De repente os bancos europeus entraram na roda evidenciando o enfraquecimento persistente das economias da zona do euro depois da crise de 2008/09.
Desta vez, diferentemente do que aconteceu na quebradeira de oito anos atrás, o problema não é a exposição aos títulos podres que inundavam o mercado à época.
Agora, é o baixo crescimento aliado à taxa de juros negativa e baixíssimo apetite por consumo que coloca os bancos na linha de tiro dos investidores.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
Banco ganha dinheiro emprestando dinheiro. Com o atual nível de juros na zona do euro e sem crescimento das concessões de crédito, a margem de lucro dos bancos cai. Se fosse só isso, tudo bem.
O que o investidor mais teme, e por isso está derrubando o preço das ações de instituições europeias, é quanto a retaguarda protetora do sistema.
Até agora, o Banco Central Europeu e os governos de cada país estavam bancando (literalmente) os riscos e perdas dos grandes bancos. Mas este caixa parece ter acabado.
Antes de virar uma crise de fato, a chacoalhada atual testa níveis de confiança, de eficiência das políticas econômicas e de fôlego da administração pública europeia em lidar com a letargia dos países do continente.
O chato é que esse teste pode custar caro e adiar aquela recuperação e estabilidade esperadas pelo menos para os mais ricos.
Caso até dos Estados Unidos – lá, a presidente do banco central americano (FED, Janet Yellen), corroborou a percepção de risco e alertou que a maior economia do mundo pode sentir o baque do cenário atual e suspender a trajetória de crescimento e normalização das estratégias financeiras adotadas desde 2008 – adiando também uma nova alta dos juros dos EUA e um fortalecimento do dólar.
Enquanto o mundo chacoalha, o Brasil tomba.
O mercado financeiro local segue o fluxo internacional: Bovespa cai, dólar sobe. Numa interpretação mais realista é possível dizer que o país já tombou há um tempo e agora pode ser atropelado pela boiada solta lá fora.
Na prática deveremos sentir dois efeitos diferentes pelo mesmo motivo.
O dólar, apesar de ter subido nesta quinta-feira (11), deve assumir uma trajetória de desvalorização no curto prazo. Com o dólar mais barato, diminui a pressão sobre a inflação brasileira. Por outro lado, a queda no preço da moeda americana enfraquece as exportações – uma das únicas fontes de manutenção da atividade na economia doméstica. Sem contar que, se o mundo crescer menos, quem vai comprar mais de nós?
Ainda é impossível prever se este será um novo ciclo negativo para a economia internacional ou apenas uma fase de adaptação ao mundo novo pós-crise de 2008. Qual seja, um mundo com menos dinheiro no bolso e pouca coragem para gastar.
Se eles lá estão com a carteira mais magra, aqui no Brasil nem carteira carregamos mais – o desemprego e a inflação levaram tudo.
por Thais Herédia/G1